Consequências (parte 3)

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Mais uma vez ela tinha partido.
Dessa vez não apenas ela, seu filho também.
Ele sabia o que tinha que fazer, no fundo ele realmente sabia.
Mas estava sufocado pelo desgosto, magoado.
No entanto, agora sabia como ela se sentiu durante todo esse tempo, cansada e sozinha.

Eles se precisavam para se reerguerem e se reencontrarem, porque tinham se perdido um no outro, estavam amarrados um ao outro à quilômetros de distância.
Ainda se sentiam e se atraiam como imã e por alguma razão ele sabia que, mesmo que ela não estivesse carregando seu filho no ventre, como estava agora, o destino daria um jeito de fazer com que eles se esbarrassem.

O acaso trabalharia permanentemente para que um continuasse a entrar na vida do outro.
E lá estava ele, mais uma vez sentado em seu escritório, tentando fugir do inevitável.

Teria um filho com a mulher que amava.
E ainda nem tivera a coragem de dizer isso em voz alta.
Nem a ela.
Nem a si mesmo.

Precisava pensar.
"Me ligue quando decidir o que fazer"
Estava bem ali, subentendido, ela não desligaria dessa vez, não o ignoraria.
Precisava tomar uma atitude.

Deixou sua sala atravessando o escritório, passou por Leyla na recepção em direção a única pessoa que lhe diria a verdade agora.

- Engin! - abriu a porta de sua sala. - Eu falo você escuta!

- Se for pela revisão do contr...

- Engin! Eu falo você escuta, entendeu?

- Um momento... - saiu de trás da mesa caminhando em sua direção - Veio me dizer pessoalmente que vou ser tio, não é? Achei que nunca viria já estava começando a duvidar da nossa amizade...

- Engin!!!

- Okay! Você fala, eu escuto. - ergueu as mãos.
Serkan Suspirou e  ergueu o queixo.

- Você estava certo! - Um ponto de interrogação se formou no rosto dele. - Eu me apaixonei como um louco pela minha assistente.

- Eu sab... - Serkan lhe lançou um olhar cortante. - Certo, você fala, eu escuto!

- Eu me apaixonei por ela, ela está em outro estado, nós vamos ter um filho e eu quero que você seja o padrinho dela.
De queixo caído e boca aberta ele se lançou contra o amigo o apertando forte contra o peito.
Pela primeira vez, Serkan se permitiu usufruir da amizade sincera que o seu melhor e mais antigo amigo o vinha oferecendo a anos.
O abraçou de volta.

- Espera, você disse filha?
Serkan assentiu.
- Vocês já sabem o sexo?

- Não, ainda não.

- Então?

- Ceren não te contou?
Negou.

- Eu senti!
Engin apertou os olhos nele.

- Você sentiu? Serkan Bolat!?

- Sim Engin!

Porque aquilo era uma das coisas que ela tinha transformado nele, o homem pragmático que sempre foi começava a abrir caminho a um idealista, baseado na presença dela.

Ele passou a entender que nem sempre se tem o controle de tudo e que às vezes, nem sempre, bem ocasionalmente o universo te empurrava na direção correta, te enviava sinais e te deixava sentir que seu filho na verdade era uma filha.

E ele gostava disso.

Mas quais sinais ele havia recebido?
Primeiro ele sentiu que havia algo diferente nela.
Era a ligação que eles compartilhavam, aquela coisa de se comunicar pelos olhos sem palavras.
Segundo, ele sentia que aquela criança parecia demais com ela.
E foi por isso que ela reagiu a ele.
Ela nunca tinha mexido antes.
Mas reagiu a ele assim como a mãe reagia.
Ela era como a mãe...
Mas ele sabia que seria como ele também.
Então ela reagiu aos dois, juntos.

Cinquenta por cento dele era algo desafiante, mas cinquenta por cento do desastre que era Eda Yldiz seria enlouquecedor.
E ele estava pronto para isso.

O furacão que ela era tinha bagunçado tudo em tão pouco tempo, que ele começou a se perguntar como seria o resto de sua vida.

Um grande paraíso de tempestades.

- Eu vou ser tio! - Engin tocou seus ombros orgulhoso.

- E eu vou ser pai!
Sorriu dando as costas para ele.

- Ei aonde você vai? Precisamos comemorar!

Serkan se virou na porta, o blazer pendurado nos braços, a gravata levemente afrouxada.
E então disse.

- Eu vou buscá-las!

Acaso perene |✅| [Em revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora