64 - Melody.

7.9K 825 453
                                    

"Naquela noite eu chorei, e me senti horrível por isso. Eu tinha chegado ao meu limite, e me olhando no espelho não consegui mais reconhecer a garota forte que eu sempre fui. Só consegui enxergar um fracasso em forma humana. Eu tinha falhado, e não iria me perdoar por isso. Desabar foi a coisa mais insignificante que eu fiz na vida, era como se eu tivesse perdido o meu diferencial. Agora eu era pequena, frágil e fraca. Eu tinha me transformado em algo que desprezei a vida inteira. A ideia de ter as fraquezas das demais pessoas me assombrava, o simples devaneio da minha alma carente, precisando que alguém me confortasse me encheu de medo. Era horrível ser tão vulnerável assim, perder as rédeas dos próprios sentimentos, e ter que confiar seus segredos à outro alguém. Não me vejo trocando confidências com outra pessoa, pedindo consolo ou um ombro para chorar. Mas, neste momento, por ter me tornado tão sensível assim, era tudo que eu queria fazer."

— A Melody quer ir embora! — minha mãe falou sentada ao meu lado, meu pai me encarou

— Embora? — perguntou sério, me analisando — Por que? – questionou

— Recebi uma proposta de trabalho, em um hospital em São Paulo! — minto esfregando minhas mãos uma na outra, nervosa, minha mãe me encarou sem entender, falei a primeira coisa que veio na cabeça

— Proposta de trabalho em São Paulo? Sem chances! — ele falou negando com a cabeça e eu suspirei

— Ela vai, Rafael! É o futuro dela, ela quer isso e ela já é de maior, ela vai!— minha mãe sustentou a minha mentira me deixando aliviada

— Como que minha filha vai pra longe de mim assim? Que maluquice é essa? — perguntou se levantando — Tá fora de cogitação isso, po, onde já se viu? Filha longe do pai, tá maluco! — negou com a cabeça

— Pai, eu entendo a sua proteção, mas EU não quero mais deixar meu futuro para trás, eu preciso disso, vai ser ótimo para o meu currículo! — falei nervosa, me enrolando nas palavras,  passando a mão no cabelo — Por favor, não me critica! Só me entende! — meus olhos arderam e minha mãe segurou minha mão

— Você sabe mais do que nunca que meu desejo sempre foi esse — minha mãe falou — A minha filha tá pensando no futuro, pensamento esse que eu não tive, e é isso que eu quero — meu pai negou com a cabeça e eu suspirei, ficamos em silêncio

— É isso mesmo que tu quer? — perguntou de costas para mim, sem me olhar

— Sim! — respondo firme, ele me encara

— A escolha é sua! Se tu quer ir, pode ir! Mas não esqueça nunca de onde tu veio, de qual é tua origem! Tu não é qualquer uma não, muito menos largada, tu tem pai e mãe! — ele falou sério, concordei aliviada

Ele brigou, me fez rir, me fez chorar e chegou a conclusão que essa foi a melhor escolha que eu tive, eu senti vontade de falar o real motivo da minha partida mas eu não consegui.

Seria demais para eles saberem da minha gravidez, seria demais para eles saberem quem é o pai, eu resolvi ocultar para não decepcionar ele mais ainda.

Hoje pela manhã, fiz o exame de sangue e a primeira ultra, tá tudo confirmado, eu sou a mamãe do ano, tão inesperado quanto o fato de eu estar apaixonada.

— E já sabe aonde você vai ficar? — minha mãe perguntou mexendo na geladeira — Você tá bem mesmo? — me encarou

Richard: Escolhas.Onde histórias criam vida. Descubra agora