Todos os dias é um vai e vem, a vida se repete na estação, tem gente que chega pra ficar, tem gente que vai pra nunca mais, tem gente que vem e quer voltar, tem gente que vai e quer ficar, tem gente que veio só olhar, tem gente a sorrir e a chorar e assim chegar e partir. São só dois lados da mesma viagem, o trem que chega é o mesmo trem da partida, a hora do encontro é também despedida, a plataforma dessa estação, é a vida desse meu lugar.
Encaro pela janela o carro da minha mãe descer as ruas da comunidade, as mãos dela entrelaçadas na minha e as lágrimas nos olhos que eu estou tentando evitar.
Quem gosta de despedidas? Ninguém! Absolutamente ninguém, seja partida necessária, pro bem ou pro mal, sempre é triste.
Me despedir do meu pai foi a pior coisa, ele não chorou mas estava visivelmente chateado com a minha ida, eu quase não consegui me despedir direito por medo de desistir, por medo de me comover demais.
A Suellen ficou comigo até o último segundo, chorou, implorou e me tentou me fazer mudar de ideia, tentou me convencer que era melhor contar toda verdade, mas eu já estou certa do que quero.
Minha madrinha super me entendeu, disse que minha decisão estava correta e que eu precisava mesmo respirar, ah dinda! Se a senhora soubesse que é a AVÓ da criança que está em meu ventre, a senhora surtaria.
Passei noites acordadas me questionando se isso seria o certo a fazer e em como isso repercutirá daqui uns anos, mas eu não tenho força, nem coragem de botar a boca no mundo agora, desativei minhas redes sociais, não botei mais a cara na rua, quando questionarem aonde eu estou, longe eu estarei há tempos.
— Esse apartamento é certinho mesmo? — minha mãe perguntou — Poxa, eu queria tanto ter feito uma festinha de despedida pra você, nem isso você quis! — ela falou reduzindo a velocidade
— É sim! Já falei com a menina, lembra da Maria? Que estudou comigo — ela concordou — Então, é ela, tá trabalhando em um hospital lá também, tudo certo. — suspirei
Meu olhar sendo direcionado para janela e encontrando o olhar que eu menos esperava encontrar, o Richard me encarou sério, tão surpreso quanto eu, ele riu de alguma coisa que alguém falou, sentado na porta de um bar, rodeado dos mesmos de sempre, foi segundos, segundos que pareciam uma eternidade, ele me ignorou, ignorou o meu olhar, logo nossos olhares sendo desviados, minha mãe seguindo seu caminho, virando em uma das ruas, me permitindo não vê-lo mais.
Chega a hora de partir, toda chegada tem sua ida. É inevitável. Não se foge da despedida, seja ela um até logo ou um adeus. Tudo começa a se afastar e a tristeza logo chega pra fazer sua parte e a saudade já se aproxima pra ajudar. É triste a dor do partir, mas tudo tem sua hora.
— Não sei....não gosto da ideia de você estar indo embora assim do nada — minha mãe falou depois de um tempo de silêncio — Sinto que estou sendo enganada por você, não sei explicar, eu não quero te sufocar em relação à absolutamente nada, mas rolou algo demais com você e o Richard? — perguntou sem me olhar, prestando atenção no trânsito
— Você sabe! Tá me perguntando o óbvio — murmurei baixo olhando para janela
— Eu quero que você me diga. — balancei os ombros indiferente e suspirei rindo — Você se apaixonou ou algo assim? — me olhou de relance
— Quem nunca se iludiu né? — falei aumentando o som, ela abaixou, me olhando séria
— Eu não quero te ver sofrendo por ninguém! Você tem seus defeitos como todo mundo tem, a última coisa que eu quero é você se sentindo culpada nisso! — falou olhando o retrovisor, sem me encarar — Todo mundo erra e ninguém manda no coração, as pessoas julgam demais e esquecem que tem telhado de vidro, eu quero que você seja feliz, independente da tua escolha, independente do que vier átona amanhã depois! — concordei sentindo meus olhos arderem — Me machuca muito que você não tenha confiado em mim para resolver os sentimentos que vem sentindo! Antes de qualquer coisa, eu sou sua mãe e vou estar aqui até aquando você ser a mais errada do mundo, eu nunca vou virar as costas para você, porém não vou viver passando a mão na tua cabeça e concordando em tudo que você faz por quê eu sou mãe, se eu não falar, quem vai? Filho se educa dentro de casa. — suspirou e negou com a cabeça — Eu não vou mais insistir nesse assunto, só me responde de uma vez por todas, Melody! Você tá me escondendo alguma coisa? — perguntou séria me olhando rápido
Eu sabia que um dia esse momento chegaria, mas jamais pensei que fosse ser logo agora. Engoli a saliva com força e brinquei com a bolsa em meu colo, ignorando o olhar dela, tudo em mim tremeu, as lágrimas desciam com força do meu rosto.
O gosto amargo da culpa e da covardia....sim, de ser covarde a ponto de não conseguir dizer, a ponto de ser tão egoísta e guardar tudo para mim, mesmo tendo consciência de que uma hora ou outra isso vai estar na boca de todo mundo.
— Tá tudo bem! — falei engolindo um soluço, secando os olhos — Eu não estou preparada para dizer isso, me desculpa! — digo deixando no ar, ela concordou em silêncio
Sinto me julgada, contestada, mas ao mesmo tempo absolvida. Sinto me atônita, quieta, paralisada, mas ao mesmo tempo ativa e animada. Sinto medo do futuro, mas ansiosa que ele chegue, medo do desconhecido, mas quero me jogar nele de cabeça. Tem dias que não durmo pensando no amanhã, pensando nas noites que passarei em claro até que meu medo de escuro vá embora. Mas estou indo embora pra lutar minha guerras, pra viver por mim mesma.
— Me liga, por favor! Faz chamada de vídeo, manda mensagem, eu quero falar com você o tempo inteiro — concordei abraçando ela mais forte — Aí, eu te amo tanto, minha princesa, tanto mais tanto — falou chorando
— Eu te amo muito mais! Volto logo, prometo — ela segurou meu rosto e me deu um beijo na testa
— Você é a minha maior realização! Você me trouxe a vida quando eu achei que tudo estava perdido, eu já errei muito nessa vida, com muitas pessoas, mas eu acertei com você! Eu não sou a melhor mãe mas eu tenho a melhor filha — secou minhas lágrimas, abracei ela com força — Você será melhor que eu, sempre! Em todos os sentido! — beijo a bochecha dela
— Eu te amo, obrigada por tudo, desculpa meus erros, eu tô tentando acertar eu juro! — solucei — Eu preciso ir, eu preciso disso, não quero que a senhora se culpe por nada, a senhora não errou, quem errou fui eu! Mas agora eu vou acertar — falei sincera
Ficamos mais uns 5 minutos abraçadas e logo chegou minha hora de ir, estou indo embora e não é por falta de amor a você, mas definitivamente é porque eu preciso amar mais a mim.
onde você parou ou em que momento da vida você cansou. recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo. É renovar as esperanças. E eu pergunto: sofreu muito nesse período? Foi a dor do aprendizado. Chorou muito? Foi a limpeza da alma. Ficou com raiva das pessoas? Foi para perdoá-las.
Acreditou que tudo estava perdido?
Era o início da tua melhora.
*Não esqueça seu fav e seu comentário.
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Richard: Escolhas.
Teen Fiction(Extensão do livro Delírios, 1° e 2° TEMPORADA DISPONÍVEIS EM MEU PERFIL) Após a morte de seu pai, vítima de uma traição que ocorreu dentro de sua comunidade, deixando a marca de ser um dos maiores traficantes do RJ, o legado é passado para Richard...