Cioccolato e marmellata di fragole

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Ela continuou a dar-me banho, mordi o lábio inferior com força por causa do nervosismo, não tinha a mínima ideia do que ia na sua mente.

- Eu...eu... - Nem uma estúpida frase consegui formar, o seu olhar enlaçou o meu de uma forma que não sei definir, a sua íris azul tinha um tom acinzentado muito belo, recordava-me as enevoadas e tempestuosas tardes de inverno.

- Quando eu chegar lá em baixo, espero que estejas sentado à mesa para eu poder tomar a porra do meu pequeno-almoço em paz. - Senti o seu corpo afastar-se do meu, segui-a atentamente com o olhar, vendo-a sair do cômodo só em lingerie e com as suas botas vermelhas, completamente encharcada, mas sem perder a sua postura.

...

[ Por João Miguel ]

Batucava os meus dedos na mesa de madeira da sala de jantar, o cheiro que vinha dos croissants e dos pães acabados de fazer, fazia o meu estômago reclamar pela fome, para não falar das compotas caseiras, do bolo de canela e mel, das torradas, dos crepes e de todas as comidas deliciosas que estavam sobre a mesa. Meu Deus, devia fazer quase dois dias que eu não comia nada, ver aquela abundância em cima da mesa era uma tortura.

Ouvi o som dos saltos chocarem contra as escadas, encolhi-me, contra a cadeira, e respirei fundo. Ela estava vestida com umas calças de couro pretas e uma camisa branca que caía sobre o seu ombro esquerdo, deixando-o exposto. Sentou-se na cabeceira da mesa ao meu lado direito, o ar da sala ficou extremamente pesado, denso, a sua presença fez a minha ansiedade ir ao auge.

- Qual foi o acordo? - A minha pergunta quebrou o silêncio que ali existia, olhei para ela que continuou a barrar compota de morango nas torradas.

- Qual acordo? - Levou uma torrada à boca e passou a língua pelos seus lábios para acabar com qualquer vestígio de compota que restasse neles, fiquei tão hipnotizado pelo gesto que demorei a raciocinar a sua pergunta.

- O acordo que fez com os meus pais...

- Eu não faço acordos com porcos imundos! - O seu tom de voz tinha mudado, estreitei os olhos e olhei desconfiado.

- Então por que estou aqui? - Ela revirou os olhos e estalou a língua contra o céu da boca.

- Porque eu quero. E vais ficar aqui até eu querer, agora pára de fazer perguntas e come.

Olhei para a comida e a comida olhou para mim. Eu queria bater o pé, gritar em plenos pulmões que ela não mandava em mim, virar aquela mesa de pernas para o ar como ato de rebeldia, fazer uma mini rebelião, mas iria ser um desperdício de comida e eu estou com tanta fome que a fraqueza não me deixaria nem dar dois passos sem cair no chão, então simplesmente ataquei os crepes e barrei-os com chocolate, abati-os como se fossem os meus piores inimigos.

Enquanto eu continuava a minha deliciosa batalha contra aquela fofa e doce iguaria banhada em chocolate, um homem, alto, de cabelo preto, vestido com um fato e gravata, entrou na sala e dirigiu-se a Helena:

- Aqui tem senhora Bertolini. - Estendeu-lhe um saco.

- Obrigada, Vicenzo, podes ir. - Ela aceitou-o. Ao voltarmos a ficar a sós, estendeu-me o saco.

- Toma, pega! — Eu olhei desconfiado, mas aceitei. - É teu. — Eu olhei para dentro para ver o seu conteúdo, era um iPhone, nunca tinha tido um telemóvel... - Aqui... — Olhei para ela, que me estendeu um cartão. - Vou depositar 400 euros todos os meses nessa conta, podes usar... - interrompi-a:

- Eu vou poder sair?!

- Primeiro, não gosto que me interrompam... — O seu tom foi baixo e sério. - Eu vou saber o porquê, com quem e onde. E se eu deixar, tu podes sair. Podes andar à vontade pela casa, as portas que estão trancadas são para serem mantidas trancadas. Agora eu tenho mais que fazer.

Quando dei por mim, estava sozinho.

Durante as primeiras horas do dia, fiquei deitado na cama do quarto, a mexer no telemóvel, a descobrir e a testar as suas ferramentas e utilidades, mas com o passar do tempo fiquei aborrecido, então aventurei-me pela enorme casa, que tinha quartos, salas e casas de banho sem fim. À hora de almoço, a senhora "simpática" veio me chamar e descobri o seu nome, Dora, e que gere os empregados da casa.

Dora disse que tinha ordens para que eu almoçasse na sala, mas eu convenci-a a deixar-me comer na cozinha com o resto dos empregados. Não tinha jeito algum eu almoçar sozinho numa sala gigante. Depois do almoço, descobri uma biblioteca, eu sempre gostei de ler, então escolhi alguns livros e fui para o quarto. Enquanto estava perdido no mar de palavras daqueles livros, o meu telemóvel tocou.

- Alô quem fala? - Estava tão entretido e distraído a ler que nem me lembrei de que só uma única pessoa é que tinha o meu número.

- Não tenho tempo para brincadeiras, o meu nome está na tela, não vou jantar e não esperes por mim, quero que estejas a dormir quando chegar. - Curta, grossa e mandona.

- Mas... — Ela desligou-me a chamada na cara. - Que porra, haaaaaa! Estava bom demais para ser verdade. — Atirei-me de novo para a cama.

Depois de jantar, tomei banho, para minha felicidade, de água quente de novo, se calhar, é não tão mau ficar a viver aqui.

...

Não conseguia de maneira nenhuma dormir, virava-me para um lado e para o outro, mas o sono não vinha, fui até à cozinha com o intuito de beber um copo de água.

Quando ouvi o som dos saltos a chocarem contra o soalho de madeira, assustei-me e deixei o copo cair no chão, partindo-se.

- Olha a merda que fizeste! - Estava furiosa, as minhas pernas tremeram.

- Desculpe, eu vou limpar... - Tentei me abaixar para apanhar os estilhaços de vidro, mas ela impediu-me, fez-me sentar num dos bancos que estavam ao lado do balcão da cozinha.

- Pouco me importa a merda dos vidros... - Quando olhei para baixo, vi o meu pé cheio de sangue, alguns vidros tinham perfurado a minha pele.

- Meu Deus, tenho que ir ao hospital, está a deitar muito sangue... - Choraminguei.

- Para quem queria limpar os cacos com o pé assim... - Disse ironicamente. - Isto não é nada, são só três arranhõeszinhos... - Foi até uma gaveta e tirou uma caixa de primeiros socorros, baixou-se e começou a tirar os vidros com uma pinça.

- Aí! - Reclamei.

- Isto não é nada... — Tirou outro. - Eu não te disse para estares deitado quando eu chegasse?? — Começou a desinfetar os cortes.

- Eu... é, eu tive sede...

- Tens garrafas de água no frigorífico, ao que parece são mais seguras. - Disse enquanto fazia o curativo.

[ Narradora]

- Obrigado. - O loiro disse a olhar nos olhos da morena, mesmo com a pouca luz dos candeeiros, o garoto via nitidamente os olhos azuis cristalinos dela. Ela, por sua vez, apreciou os olhos mar dele, mas em seguida o olhar de Helena abaixou para a boca carnuda e rosada do garoto e num movimento rápido capturou a boca de João Miguel como sua num beijo selvagem e bruto.

A morena fez o garoto subir em cima do balcão, enquanto se beijavam, empurrou-o de maneira que o garoto ficasse deitado sobre o balcão, sentada em cima dele mais uma vez, cruzaram os seus olhares, ficaram ali a olhar um para o outro por um bom tempo.

Sem nunca tirar os olhos do garoto, Helena levou a sua mão até aos lábios grossos e carnudos do loiro e acariciou-os. João Miguel, por sua vez, levou a sua mão até à face de Helena, mas quando estava quase a tocar na sua pele, esta impediu, segurando.

- Não! Nunca, mas nunca me toques sem a minha permissão. - O garoto abriu a boca umas quantas vezes tentando formar uma frase, mas sem sucesso, ficando duplamente frustrado, não lhe podia tocar e nem sequer conseguiu argumentar ou protestar contra o que Helena havia ordenado.

O perigo do teu toqueOnde histórias criam vida. Descubra agora