Capítulo 44

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Índia 🦋

Mandado do Guto me usou e abusou durante uma semana, ele já tava bem e ficou fingindo que não pra eu ficar lá com ele, é mole? Pelo menos o Nicolas ia lá todo dia me ver, gosto pra caralho dele.

Voltei a minha rotina de uma maneira muito mais pesada, tive que fazer meu trabalho de uma semana em dois dias, meu pai me trata igual qualquer soldado pô.

Eu já tinha acabado tudo, peguei a moto do meu pai e guiei pra rocinha, tava com saudade do meu preto.

Assim que cheguei lá, deixei minha moto na frente da casa e entrei vendo ele e tio Felipe brincando de porrada. Não sei quem é mais criança.

Índia: Cês são comédia demais. - Falei rindo chamando atenção deles.

Magnata: Oi minha gata, como tu tá?

Índia: Cansada, Neguinho pegou pesado no trabalho. - Disse enquanto abraçava Guto.

Guto: Oi pretinha. - Me deu um beijo na cabeça enquanto me soltava do abraço.

Índia: Ta melhor?

Guto: Pronto pra outra.

E pode parecer piada, mas assim que ele disse essa porra, fogos foram lançados.

Meu tio pegou o rádio e já logo avisaram que era os bota, ele se armou todo e colocou colete e saiu despedindo.

Magnata: Tu fica. - Apontou pro Guto. Peguei colete junto a ele e me armei já saindo - Melhor tu ficar Luiza, depois acontece algo com tu, tá maluca. - Neguei enquanto soltava meu cabelo colocando a touca pra ninguém ver meu rosto.

Índia: Amo tu. - Dei um selinho rápido no Guto que não queria me deixar ir - Daqui a pouco tô aqui mandado. E sai dessa casa pra tu ver se eu não te mato.

Guto: Te amo pô. Se cuida.

Assenti e desci o morro sentando bala em policial filho da puta, quando tudo tava mais calmo, passei numa viela vendo um menor no chão morto.

Era ele, o Nicolas. O mesmo menor que eu aconselhei a estudar quando joguei bola aqui com o Guto, o mesmo menor que me aliviava, me acalmava, que cuidou de mim essa semana toda enquanto eu cuidava do Guto. Ele tava ali de uniforme, no chão, morto.

Meu coração doeu como se fosse um filho igual ele falava que era, bem que ele disse, morador de favela não tem futuro. Atiraram nele por nada pô, por nada.

O peguei no colo mesmo sendo difícil e fui levando até o postinho com ajuda de um soldado com a esperança de poder salvar.

Mas chegando lá, a resposta foi a esperada. Me sentei ao lado dele tirando a touca e fiquei passando a mão pelo seu cabelo, seu corpo ainda estava quente, uma expressão tranquila, se não fosse todo esse sangue pareceria estar dormindo.

Índia: Queria ter salvo tu, tu tinha futuro. Escutou meu papo quando podia ter ouvido por um ouvido e saído pelo outro, tu ia ser um exemplo pros outros menor. Foi a maior covardia com tu e com todos que esses filhos da puta matam por nada. Eu não te conhecia a muito tempo mas vou lembrar de tu pra sempre, sempre mermo. Aquele dia do Guto tu me acalmou legal, tá ligado? Senti como se você fosse da minha família, como se fosse meu filho pô. Toda vez que eu vinha aqui tu fazia questão mermo de vim em mim, me deixar melhor, me contar tuas parada, tu confiava em mim igual eu confiei em você contando meu nome e tudo sobre mim. Fiquei aqui uma semana cuidando do Guto e tu cuidando de mim, fazendo gracinha, perguntando como eu tava, tu foi incrível pra mim nesse tempo meu amor. Todo dia tava lá na porta me chamando só pra me abraçar pô. Nosso laço é eterno, feito o filme mas sem os demônios. - Soltei uma risada baixo em meio as lágrimas lembrando dele me dizendo isso - Tu vai ser meu anjinho, desculpa não ter te encontrado antes e te salvo. Tu me salvou várias vezes, tu foi incrível pra mim. Eu te amo, meu menino.- Sorri pra ele que tinha os cabelos enroladinhos, meu peito realmente estava doendo muito, ele era novo pra caralho.

Entrelacei nosso mindinho igual ele tinha mania, em meio as lágrimas eu lembrava dos bagulhos que passamos.  Sentia com ele uma conexão fora do normal, não acreditava que tinha perdido isso.

Índia: Eu e tu, moleque! Eu te amo pô, pra caralho.

Em questão de minutos sua mãe entrou gritando, caiu sem forças, sem acreditar. A olhei naquele estado, não imagino nunca a dor de perder um filho, já tá doendo tanto em mim.

Fui pra casa encontrar Guto com pensamento longe, chegando lá ele e tio Felipe voaram em cima de mim.

Guto: Porra, onde tu tava Luiza?

Magnata: Filha da puta, eu tava preocupado pra caralho, teu pai ia me matar.

Sorri sem graça, não tinha nem como eu fingir, dava pra ver no meu rosto que eu não estava bem.

Índia: Tava no postinho.

Guto: Tu tá machucada? - Neguei suspirando, me sentei no sofá tirando as armas e colete.

Índia: Mataram o menor pô, “bala perdida”. - Fiz aspas rindo fraco.

Guto: Que menor?

Índia: O Nicolas pô, o Nicolas. Ele tava com a blusa da escola, foi pego na covardia na viela. Peguei ele no colo e levei correndo pro postinho mas cheguei lá e não adiantou.

Guto: Porra, mataram o Nicolas? - Assenti e meu olho se encheu d'água, cocei minha cabeça respirando fundo e Guto me puxou pra um abraço, ele ficou abalado tanto quanto eu.

Comecei a chorar em seu peito enquanto ele me abraçava forte, eu não acredito nisso. Eu perdi meu menino.

O Nosso Para SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora