Capítulo 22

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Índia 🦋

  Depois daquele dia, eu e o Guto não nos falamos mais. Sei lá, tô me sentindo usada de novo mesmo que eu tenha consentido.

Meu tio Felipe veio aqui várias vezes, sempre desço na intenção de ver ele mas nada. Segundo fontes vulgo fofocas da Rocinha, ele tava andando pra cima e pra baixo com a menina que estava no churrasco.
Não vou me fingir de santa não, peguei outros depois dele mas é foda.

Hoje era meu último dia de aula, eu tinha passado em quase todas as matérias, só faltava matemática. Fiz a prova hoje e estava sentada no corredor esperando a resposta, minha mente se alternando entre formar sem recuperação e pensando se Guto só queria fazer hora comigo.

Sim, nós ficamos mas nunca passou disso, ele disse que me curtia mas pelo visto era tudo na amizade, quem tá toda iludidona sou eu. Me dispersei dos meus pensamentos sendo chamada pela Tânia que havia afirmado que eu passei.

Eu não ia participar de nada, nunca gostei de ninguém aqui fora a Mirella, só simpatizava com alguns, curtir um baile na favela com ela já estava de bom tamanho pra mim.

Começou a tocar Perdição no fone de ouvido e na minha cabeça só vinha a cena dele cantando pra mim e depois coçando a cabeça sorrindo. Tem música que marca mesmo. Balancei a cabeça afastando esses pensamentos e fui até a saída encontrando Thiago na moto me esperando.

Th: E aí nega, passou? - Assenti sorrindo e ele me abraçou forte - Tu é foda pô, meu orgulho.

Subi na garupa dele e ele acelerou guiando pro Vidigal. Ele foi direto pra boca como de costume, desci arrumando meu cabelo e entrei tendo a visão do Guto, tio Felipe, tio Pedrinho e meu pai jogando truco.

Coração acelerou pra caralho assim que olhei pro Guto que estava sorrindo distraído.

Neguinho: Tu passou? - Perguntou se levantando da cadeira, o restante percebeu minha presença, sorri animada e meu pai veio me abraçar - Tu é foda garota, minha menina. Parabéns mermo, tô ligado que tu se esforçou pra caralho essas semanas.

Meu tio Pedrinho e tio Felipe se levantaram me abraçando e desejando parabéns, assim que eles se sentaram novamente, Guto se levantou sem graça vindo em minha direção.

Guto: Finalmente acabou né?

Índia: Pois é. - Nem rendi assunto, tá achando que eu sou bobinha pra ficar suave com ele assim rápido.

Fui no salão dar a notícia pra coroa que ficou felizona, tô ligada como isso é importante pra ela mesmo que eu não vá fazer faculdade depois.

Mirella já viajou com o pai dela de agora pra poder passar natal e ano novo com a gente, ela já sabia da notícia e tava feliz apesar que já sabia que nós íamos passar.

Tomei um banho tranquila e me vesti pra ir pra boca, coloquei o anel e pulseira que meus pais me deram, coloquei um chinelo mesmo e desci enquanto lia as notas finais. Tô nem acreditando que acabou, pô.

Comprei comida e pedi pro Fael me ajudar a levar pra boca, ele colocou a arma nas costas e veio na minha direção.

Fael: Tava com saudade de tu.

Índia: De mim ou do meu beijo extremamente gostoso? - Ele sorriu tímido olhando pra mim, eu achava isso fofo nele.

Fael: Dos dois, pô. Tu é foda, mexe com cabeça de vagabundo.

Índia: Meu pai não quer que eu me envolvo com soldado e tu tá ligado que ele descobre tudo. - Fael assentiu rindo - Mas num baile que ele te colocar pra tomar conta de mim, nós da um perdido. - Pisquei pro mesmo que sorriu balançando a cabeça.

Fael: Tu é fogo.

Índia: Bom que eu acostumo rápido com o inferno. - Entrei na boca sendo acompanhada pelo mesmo que riu chamando atenção dos homens.

Fael: Cê é retardada, Índia. Brinca demais. - Comecei a rir dele e neguei com a cabeça entregando as quentinhas pra eles. Abracei Fael agradecendo o mesmo que beijou minha cabeça.

Neguinho: Tava rindo do que? Dois bobo alegre. - Guto encarava Fael com raiva, parece maluco.

Fael: Índia gasta demais patrão.

Neguinho: Puxou o lado retardado do Pedrinho. - Meu tio virou um soco no braço do mesmo que riu.

Me sentei comendo com eles assim que Fael voltou ao trabalho, Guto me olhava a cada instante e eu pagando de Kátia.

Depois de umas horas ali, fogos foram lançados no céu. Me levantei rápido colocando colete e prendendo meu cabelo. Coloquei tudo que era necessário e peguei as armas pra sair e defender meu lugar.

Fizemos nossa oração de sempre, meu pai e Thiago vieram me beijar antes e tio Pedrinho me abraçou forte, fui subindo as vielas pegando um ponto estratégico e desci bala nos cuzão.

Guto: Ei. - Olhei pro mesmo que me puxou - Se cuida, tá?

Assenti o dando um abraço rápido, ele beijou minha testa e voltamos a matar os cu azul. Ele ficou do meu lado a todo momento fazendo a segurança, dessa vez eles foram mais insistentes, custou até eles recuarem. 

Geral comemorou, respirei aliviada ao ver que minha família tava bem.

Neguinho: Porra balearam o Fael e é sério, Foguete acabou de me dar o papo. - Meu coração nunca disparou tão rápido, o garoto que foi meu primeiro amor, que ta aí comigo desde menor mermo, que cresceu e fez tudo comigo ou tudo por mim. Eu podia ter segunda intenção com ele e ser recíproco, mas nós sempre foi irmão, um pelo outro, o único de fora da família que eu confiava minha vida.

Segurei minha onda pra não demostrar perto de ninguém mas sai vazado assim que deu pro postinho pra ter notícia. Fiquei ali o dia inteiro enquanto meu pai resolvia os bagulhos com o resto dos meninos, quando estava anoitecendo a médica me chamou.

Iris: Vou te explicar o que aconteceu de maneira simples. Rafael tomou um tiro que por muito pouco não o mata. Questão de milímetros mesmo que ele não morreu, mas em compensação ele tá inconsciente, vamos se dizer que em coma, que pode ser temporário em questão de dias ou não. Tudo depende de como o corpo dele vai reagir. Ele só tem você de família? - Neguei e passei as informações da mãe dele, eles haviam ligado informando e em minutos ela estava aqui. A médica a explicou detalhadamente e nos deixou a sós.

Índia: Vamos dar todo suporte a senhora viu? Não vai te faltar nada, nem ao Fael. Se precisar de passar ele pra um hospital melhor na pista, nós leva, aproveita que a ficha dele tá limpa e não dá em nada tia. O que precisar tu pode contar com a gente.

Ela que já estava chorando, me abraçou forte, não sabia bem reagir a carinho que não fosse da minha família mas a abracei pra tentar passar um mínimo de conforto num momento tão difícil igual a esse.

O Nosso Para SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora