O hall da casa ainda é extremamente familiar; as paredes decoradas com desenhos muito reais de trepadeiras verdes, pintadas por mamãe. O piso de madeira, que range ao menor dos movimentos, a simplicidade e naturalidade com que os objetos se dispõem em seus devidos lugares. E vasos com flores frescas. As mesmas das janelas.
Elas são de uma coloração entre o lilás e o azul. Têm um cheiro doce e sutil. E as pétalas são tão macias, que parecem veludo. Eu me lembro delas, quando papai as plantava no quintal, mas agora estão em todos os cantos da casa, reavivando minhas memórias.
Adentro mais o ambiente, e vejo que várias caixas de papelão foram empilhadas perto do armário de baixo da escada. Lembro-me que nossos pertences da Flórida foram embrulhados e enviados a Cape três dias antes de nós chegarmos. Uma gentileza de Célia.
Eu recolho nossa bagagem e as coloco junto delas. Tranco a porta e dou uma olhada mais minuciosa no lugar.
Há uma enorme TV de tela plana em uma das paredes, que Scarlett já tomou posse, encontrando o controle remoto e passando os canais rapidamente a esmo. Em frente a ela, se encontra um único e enorme sofá marrom em forma de "L", com algumas almofadas pintadas a mão. Uma delas eu reconheço; tem o desenho desajeitado de uma casa, algumas árvores e bonecos de palitinho. Eu havia pintado aquela com mamãe.
Entre eles, um tapete felpudo creme cobre quase toda a extensão da área, e o centro é enfeitado por uma mesinha com alguns enfeites de cristais. No segundo ambiente há uma lareira e uma mesa de jantar com um enorme lustre que cai em cima da cabeça dos convidados. Isso tudo dá certo charme ao lugar.
Eu entro na cozinha, por um de seus dois portais. Na ilha há o bilhete de Célia com "números de emergência" escritos em uma caligrafia enrolada, a senha de um cartão de crédito e o telefone de Holly. Também há a chave de um carro, e se não estou enganada, é a do carro de minha mãe. Uma velha Toyota Highland preta, modelo 2005. Se isso significa que o carro está na garagem e ainda funcionando, eu irei acrescentar alguns pontos para Cruella.
Eu checo a geladeira, me deparando com todos os espaços preenchidos com alimentos e outros suprimentos. Tem comida reservada para um ano ou mais...
─ Scarlet, está com fome? - Grito para ela.
─ Siiim! - Responde, no mesmo tom.
Procuro por alguns ingredientes e vinte minutos mais tarde tenho um delicioso macarrão com queijo espalhando seu cheiro por toda a casa. Ponho os pratos na ilha com um pouco de suco de uva que acho na despensa.
─ Quer ajuda para subir? - Pergunto a Sky, que tenta escalar a banqueta muito alta para ela.
─ Não sou mais uma criança, Madeline. Eu não preciso de ajuda. - Ela diz, cheia de confiança.
─ Ah, não? E o que você é, então? - Questiono, dando uma garfada no macarrão.
─ Uma quase adolescente. - Responde, convicta e risonha. - Vida nova, fase nova.
Eu rio. Prendo meu cabelo rebelde em um coque.
─ Se você não é mais uma criança, acho que não vai se importar em dormir sozinha em seu quarto hoje. - Provoco. - No escuro. E de porta fechada.
─ Tudo bem. - Ela dá de ombros, mas percebo que sua autoconfiança cai alguns níveis. Eu sorrio.
─ E não vai poder me acorda no meio da noite, perguntando se pode dormir comigo.
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Entre Lobos & Flores - Livro 1
WerewolfLivro 1 Alguns dizem que o passado é como uma porta fechada, cuja chave foi jogada fora. Dizem que depende de você, em algum momento da vida, olhar pelo buraco da fechadura ou não. Mas, e se a porta sempre esteve aberta? E se o passado sempre estev...