Capítulo XVI - Parte II

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Sinto meus lábios secos e a garganta ressecada. Tento dizer algo, mas som algum sai.

Agito os dedos dos pés e das mãos, onde sento um leve incômodo em uma delas. Parece que um líquido gelado corre por minhas veias, o que faz com que um arrepio percorra minha pele.

Ao longe eu posso distinguir o som de vozes e um bip mecânico. Então, abro os olhos fugindo do estado tênue de sono.

Pisco algumas vezes para que minha visão entre em foco e vejo paredes brancas e sem graça, com uma listra verde no meio. Encaro o teto, onde lâmpadas tubulares fluorescentes me fazem amaldiçoar a pessoa que as deixou acesas.

Giro a cabeça e vejo um pequeno sofá de um dos lados, e do outro, um tripé que sustenta uma bolsa de soro, e logo atrás, uma poltrona. Sigo o caminho que as gostas do líquido fazem através do fino tubo e percebo de onde vem o incômodo. Há uma minúscula agulha enfiada nas costas da minha mão, presa por um pedaço de esparadrapo.

Também descubro de onde vem o bip; acima da minha cabeça, na direita, há um monitor cardíaco, onde meus batimentos se mostram constantes e controlados, através de um aparelho preso em meu dedo indicador.

Solto um longo suspiro. Eu odeio hospitais. Odeio o cheiro de éter e produtos de limpeza, odeio a ausência de cor, odeio o fato de que, em sua maioria, as pessoas que circulam pelos corredores estão em clima de funeral. É tudo tão clínico... Parece-me um lugar onde sua vida é barganhada. Mas, está na lista dos meus lugares mais visitados desde o último ano.

O pior de tudo é o que vem depois da crise, como o medo de que aconteça novamente. Eu costumava me fechar em meu próprio casulo nos primeiros meses que comecei a tê-los. Não comia, não bebia, não dormia, apenas ficava ansiosa demais por algum motivo medíocre ou com um medo súbito de que algo ruim iria acontecer em instantes. É claro que, como Sky só podia contar comigo, eu tive que aprender a conviver com essa sensação de imponência. Não podia deixar que meus problemas a atingissem. Tinha de ser forte, por ela. Então, era como num jogo de xadrez; ou você protege o rei, ou a rainha elimina você.

Fecho os olhos por um instante e imagens e lembranças de como vira parar aqui enchem minha visão. A floresta, os lobos... Deus, eu me dou conta, eu espero que Benjamin esteja bem.

A porta do quarto é aberta e uma mulher de meia idade entra com seu uniforme branco impecável. Assim que me vê, um sorriso simpático surge em seu rosto:

─ Que bom que está acordada. - Ela fala, enquanto caminha até a cama. - Está sentindo algo?

─ Não, eu estou bem. - Falo, retornando o seu sorriso, desejando mais do que tudo que ela me diga que já posso ir para casa. - Quem me trouxe para cá?

─ Aqui diz... - Ela checa uma prancheta ao pé da cama. - Célia Miller.

Tia Célia?! O que ela está fazendo aqui? Onde estão Holly e Sky?

─ Pode chamá-la, por favor?

─ É claro, querida, mas antes tenho de chamar o médico para examinar você. - Responde. Ela aperta um botão na parede, e a parte da cama onde minha cabeça e tronco estão, são levantados, me pondo sentada. - Eu já volto. Não saia daí!

Como se eu pudesse ir a algum lugar...

Sorrio para ela, enquanto sai para chamar o médico. Porém, tão logo quanto a porta se fecha, ela é aberta novamente. Só que não é bem o médico...

─ O que está fazendo aqui? - Questiono, um pouco sobressaltada. O bip da máquina começa a ficar mais intenso. - Como soube que estava aqui?

Entre Lobos & Flores - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora