Entre Lobos & Flores - Livro 1

Capítulo XVIII

Eu me encontro em um estado de total perturbação com seus olhos analisando cada milímetro de meu rosto. Eles são de um azul tão intenso que parece um mar quando está revolto. Deixam transparecer algo que não sei nomear. Algo como dor, martírio e sofrimento. Marcados por algo que se carrega por anos a fio. Isso o faz parecer muito mais velho do que aparenta.

Ele ainda segura minha mão com um doce aperto, acariciando as costas dela com sua outra mão. São quentes, mas calejadas e ásperas, e tão grandes que fazem as minhas parecerem as mãos de Scarlett.

Sua pele é pálida e o rosto retorcido de ângulos, fazendo com que seu queixo e nariz sejam pontudos. Mais de perto, posso ver que o cabelo é castanho na raiz e mais claro nas pontas. Ele sorri delicadamente para mim, com alguma apreciação silenciosa. Algum sentimento de vitória e malícia.

Sou despertada do estado catatônico quando Brooke pisa propositalmente em meu pé. Desvio meus olhos dos dele e a vejo arregalando os olhos e fazendo um movimento silencioso com a boca que diz "O que deu em você?".

Nesse momento eu caio na real.

Russel está aqui.

Não acho que possa ser coincidência. Mas, me pergunto se Russel, o alfa de Anna, não teria de se parecer um pouco mais velho. Mas tenho um estalo de memória quando me lembro de que os lobos fazem da imortalidade a sua escrava.

Eu deixo minha mão cair da sua com certa aspereza, mas tento não parecer rude, oferecendo-o algo parecido com um sorriso. Consigo murmurar algumas palavras:

─ É um prazer também. Eu ouvi falar muito bem de você.

Com o canto dos olhos, eu posso ver que Mia me lança um olhar culpado.

─ Posso dizer o mesmo, Maddie. – Ele responde, pronunciando com certo deboche o meu apelido. Não deixo de notar o tom de sua voz, que faz com que pareça que estejamos falando de outro assunto.

Ele levanta uma sobrancelha, como se achasse isso engraçado, fazendo com que um vinco se forme entre as suas sobrancelhas. Enfia uma mão em um dos bolsos da calça e com a outra, puxa Mia de volta para os seus braços.

Ainda não consegui digerir a ideia de uma possível relação entre o cara que todos dizem ser cruel e atroz com Mia, sarcástica e irônica. Mas talvez seja uma boa combinação – se ele não fosse um lobisomem brincando de fantoche com ela. Eu tenho certeza que a qualquer momento ele puxará as cordas em torno de seu pescoço. E eu não posso deixar que isso aconteça.

─ Porque não vão se divertir um pouco? A festa está animal! – Ele diz isso olhando diretamente para mim, e não deixo de pegar seu trocadilho.

Patético.

Sem esperar outro incentivo, eu ofereço mais um sorriso dissimulado a ele e arrasto Brooke e Dominic comigo para fora da área "VIP". Mia não nos acompanha. Volta a sentar-se no colo de Russel e a consumi-lo com seus lábios. Os dois parecem mais que se devoram – só não espero que literalmente.

Brooke entende o que o estou fazendo e apressa o passo, guiando o caminho por si mesma. Mas infelizmente ela interpreta a ação de outra forma. Ela nos leva em direção à multidão de pessoas que parecem frenéticas com o ritmo da música, quase hipnotizadas, transportadas para outra dimensão.

Quando chega ao centro da pista, bem debaixo do maior globo de espelhos, começa a balançar o corpo e nos incentiva a fazer o mesmo. Dançar realmente é a última coisa que estou disposta a fazer. A primeira opção da lista é: "não entrar em pânico".

Ela me puxa para bem próximo ao corpo dela, e faz com que eu acompanhe seus movimentos. Ela sorri, divertida e cativante para mim, põe as mãos em meu quadril e me mostra como acompanhar seu balanço. Eu me esforço apenas um pouco para isso, mas minha atenção ainda está focada em Russel e Mia. Eu me pego questionando coisas como: o quão bem ela o conhece, há quanto tempo se conhecem ou se eu o quero conhecer tão bem assim... Mas infelizmente ele é o único, além de Hayden, que parece ter convivido tempo suficiente com Anna para conhecer de fato toda a sua história. Ou ao menos uma parte dela. O Grimório tem muitos espaços em branco que deixam lacunas maiores ainda em minha cabeça. E eu tenho de admitir que ele é a fonte perfeita de que eu preciso.