Capítulo XIX

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Parece que o tempo se paralisou a minha volta de novo.

Tudo o que consigo fazer é apenas encarar os olhos de Benjamin brilhando em um amarelo tão intenso. Não há como se perder nesse olhar. São tão vistosos e vivos, como dois faróis acesos prontos para indicarem o caminho certo a se seguir. Mas eu faço exatamente o contrário. Eu fico presa a eles. Eu fico imersa em um frenesi tão febril, que me pergunto como eles conseguem brilhar tanto? Como o verde pode dar lugar a algo com tanto fulgor?

Ele segura meu queixo entre o polegar e o indicador com certa aspereza e inspeciona cada detalhe do meu rosto, como se procurasse evidências de algo. Seu peito sobe e desce rapidamente, mas com tanto peso, que parece que faz esforço para isso.

Sua linha da mandíbula cada vez fica mais tensa e rígida, ao mesmo tempo em que um vinco profundo se forma no meio de suas sobrancelhas de tão franzidas que estão. Ele está perturbado e furioso. Parece pronto para passar por cima de qualquer um que cruze seu caminho.

Eu vejo seus lábios se abrirem e formarem palavras, mas eu não consigo entender. Eu não consigo escutar, por mais que não seja culpa da música. Ela também parece apenas um leve murmurar ao fundo. Eu vejo quando ele se torna preocupado e me sacude para que eu acorde do torpor. Mas eu apenas consigo diferir leves palavras, como se estivessem sendo sopradas ao vento.

─ Você bebeu? - Ele pergunta, ferozmente, fazendo sua voz sair clara e alta. - Maddie, responda! Você bebeu?!

Ele torna a me sacudir. Mas desiste visivelmente, fazendo uma expressão frustrada. Então eu me vejo sendo arrastada por entre a multidão para algum lugar. Ele tem um pulso forte sobre minha mão, e não deixo de perceber que ele se mantém atento a tudo a sua volta, examinando todo o lugar minuciosamente, como se estivesse à procura de algo. Não há mais sinal de Jesse. Não sei onde se meteu, e não desejo saber. Minha atenção só consegue ficar focada em seu gêmeo.

Eu me sinto tonta. Mas não tenho forças para fazer com que Benjamin pare. Ele está com muita pressa, e minha visão parece ter piorado. Tenho medo que desabe a qualquer segundo. Eu apenas consigo enxergar borrões luminosos e olhos como os dele. Pergunto-me o que há de erado com eles? O que houve para que ficassem tão brilhantes? Mas, não há olhos como os de Jesse. Não há o mesmo vermelho escarlate em nenhum lugar. Apenas o magma brilhante de Benjamin.

Quando dou por mim, estou sendo submetida a um ambiente com luzes fluorescentes muito fortes para meus olhos. Eu os tampo imediatamente, soltando alguns chiados de protesto.

A batida fica muito abafada ali dentro, quase se assemelhando ao silêncio. Isso faz com que um ruído alto se instale em meus ouvidos que ainda parecem estar na vibração da música. É quase doloroso.

Meus olhos relutantemente se acostumam um pouco com a luminosidade e eu os abro. Percebo que estamos em um banheiro, e Benjamin abre a porta de cada cabine com um chute poderoso, ecoando estrondos por entre aquelas quatro paredes. Eu levo as mãos que tampavam meus olhos, direto para meus ouvidos. Se ele continuar é capaz de fazer minha cabeça explodir. O menor dos murmúrios faz parecer que Kiss ensaia dentro dela.

Assim que abre a porta da última cabine, constatando de que somos os únicos ali, ele vai até a entrada do banheiro e nos tranca ali dentro. Então eu posso finalmente deixar minhas mãos caírem ao lado do meu corpo. O ensaio acabou.

Em seguida, ele se vira em minha direção, fixando os olhos em brasa em mim. Se seu olhar pudesse incendiar, eu já estaria em cinzas. Ele está enraivecido, e os vincos em sua testa só se aprofundam.

Ele dá um passo determinado à frente, e eu dou um para trás no mesmo instante. Mas estava tudo fácil demais. A tonteira que, até pouco tempo atrás apenas me rondava, decide atacar justamente naquele momento.

Entre Lobos & Flores - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora