Capítulo XIII

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Freya, onde está meu cachimbo? - Pergunta na direção de onde a garota desapareceu. - Coloque a chaleira no fogo. Temos visita. - Dessa vez seus olhos se recaem sobre mim.

Até aquele momento, eu não havia dito nada. Não pude. Minha voz está presa em minha garganta. Como se um grande nó houvesse se formado, e estivesse longe de ser desfeito. Tudo parece mover-se em câmera lenta, enquanto meus olhos registram cada detalhe da cena. Meus pulmões estão hiperventilados. Minha cabeça girando, tentando por todos os pontos no lugar e encaixar cada peça em seu devido lugar. Tentando não pirar.

O tempo todo eu repito a mim mesma; Isso não é um sonho, Madeline. Não é. Você estava certa. Seus sonhos são reais. Olhos em Brasa existe. Isso não é...

─ Madeline... - Hayden chama meu nome, dando um passo na minha direção, fazendo com que eu dê outro para trás imediatamente, como um impulso, me tirando da minha própria bolha. - Não se preocupe, não vou machucá-la.

─ Como sei que não está mentindo? - As palavras saem mecânicas da minha boca.

Seus olhos parecem cansados ao me fitarem. Bolsas de olheiras os marcam e o olhar demonstra apreensão e inquietude. Os cabelos esbranquiçados se encontram soltos, com longos fios caindo sobre seus ombros um pouco encurvados. Está descalço e usa uma roupa com estampa semelhante a que eu vi na última vez que o vira.

─ Não estou. - Responde, olhando diretamente em meus olhos. - Se quisesse machucá-la, não acha que já teria feito? Pode confiar em mim.

─ Você é um... Lobisomem? - Questiono. Essa palavra está cada vez mais familiarizada no meu vocabulário.

Os olhos do homem se tornam um pouco mais calmos. Dá outro passo em minha direção, mas desta vez eu não recuo.

─ Pode chamar assim se quiser. - Um pequeno sorriso se forma em seus lábios. - Venha comigo. Ouvi você dizer que está procurando por respostas.

Imagino como mamãe lidou com o fato de que um de seus amigos mais fiéis é um lobisomem. Talvez seja por isso que ela confiava nele. Uma vez que ela guardaria seus segredos, Hayden guardaria os dela. Mas e se ela também fosse uma? Ou... Thomas? Eu vi vários desenhos dele no Grimório, na mesma fase de metamorfose que eu acabara de presenciar. E se papai fosse um, e eu sendo sua filha, isso me tornaria algo? Há DNA de um lobo em minhas veias? Eu me lembro de um trecho da carta: "Cedo ou tarde, você fará parte disso. Está no seu sangue". Mas E Scarlett? Isso também pode acontecer com ela?

Mais perguntas surgem a cada instante. É impossível contê-las. E tudo o que eu preciso fazer é aceitar o convite do homem a minha frente. Fácil e simples - de se dizer. Mas eu não posso desistir nesse momento. É isso o que Anna queria que eu acreditasse em sua carta. O que estava subentendido sob as entrelinhas. E ela tinha razão; se não tivesse visto com meus próprios olhos, continuaria a acreditar que lobisomens só existem nos contos.

─ Madeline? - Ele chama meu nome outra vez, dando mais um passo em minha direção. - Está comigo?

─ Sim. - Digo por fim. Um esboço de um sorriso surge em seu rosto e ele assente.

Com um meneio de cabeça, ele aponta em uma direção para que eu o siga. Acho que está com medo de que se fizer qualquer movimento brusco eu posso sair correndo, como um bichinho assustado.

Eu o sigo através de mais um corredor de biombos, que leva a uma porta idêntica a que eu tinha entrado, que por sua vez dá em outro corredor similar aos outros, terminando em uma escadaria espiralada. Hayden manda que eu suba primeiro. Então obrigo meus pés a não tropeçarem pelos degraus da escada de ferro. A iluminação precária por ali, logo é substituída novamente pela natural.

Entre Lobos & Flores - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora