Capítulo IX

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Os últimos tempos se arrastaram. Minha última aula do dia fora de artes, e de longe não foi tão motivadora quanto as que eu tinha na Flórida. A professora tem dificuldades em traçar linhas retas sem que sua mão trema pelo caminho ou precise forçar a vista por detrás dos óculos fundo-de-garrafa para enxergar a "obra de arte" que sua mão desenhou. Sorte a minha que eu tenho artes com Dominic. Ele é gente boa.

Então depois de me arrastar até a sala do diretor, que quis me ver para ter uma "conversa" pouco casual sobre meu turbulento passado, novas adaptações e me sugerir sutilmente que eu deva fazer algumas visitas à psicóloga da escola, finalmente me vi livre dos muros da Clippard Elementary.

Quando chego a casa, vejo que Holly deixou um bilhete dizendo que levou Sky para um passeio. Algo como uma recompensa por ter se saído bem no primeiro dia na escola nova. Também queria ter sido levada para passear... Ficar sozinha nunca foi um problema, mas diante do que tem acontecido, eu quero evitar ficar somente na companhia de meus pensamentos.

Fala sério, não se passaram nem 48 horas que cheguei a Cape Girardeau e tanta coisa já aconteceu... É como se e uma nova dimensão fosse aberta para mim todos os dias, e eu só estou à espera da próxima.

Como as sobras do jantar da última noite e passo a tarde fazendo trabalho de casa. Mia ficou de me passar toda a matéria que perdi e Dominic me emprestou algumas anotações. Quando termino tudo, o dia já começa a escurecer, mas ninguém chegou a casa ainda. Eu procuro por algo para fazer, tentando passar o tempo, e decido descarregar o carro das compras da Olive's.

Em pouco tempo já me encontro arrastando os poucos móveis do quarto, para longe das paredes e forrando o chão com jornal e papelão. Se eu me concentrar na tarefa, posso ter o quarto pintado com a primeira camada de tinta até o fim do dia. Isso se não conseguir ser distraída por diários suspeitos ou irmãs de oito anos que gostam de falar infinitamente sobre seu dia. Então, eu visto meu macacão dedicado especialmente para pintura e começo meu trabalho.

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Assim que escuto Sky pulando de degrau em degrau na escada sei que é inútil tentar me concentrar em qualquer coisa que exija atenção. Então durante o restante da noite nós conversamos, Holly cozinha alguns quitutes e me dá uma bronca por deixar algumas pegadas de tinta pela casa.

Eu consegui um resultado satisfatório no meu quarto. Forrei a parede com o papel que escolhi, tendo algum trabalho para tirar todas as bolhas de ar, e pintei o restante com a tinta verde. No dia seguinte eu passarei a segunda mão e na quarta, com sorte, eu terei meu quarto pronto.

E no final do dia, quando todos vão dormir, e eu não preciso mais me preocupar com alguém bisbilhotando ou me interrompendo, puxo a caixa para fora da cama, pego o diário e com uma lufada de ar para encher os pulmões de determinação, abro-o na primeira página e começo a lê-lo.

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Madeline...

Uma voz rouca e fluída, que acaricia meu nome com tanta destreza faz um arrepio percorrer meu corpo.

Madeline...

A voz insiste. Há urgência em chamar meu nome. Súplica.

Em harmonia com a voz, algo queima minha pele. Em todo o lugar.

Um toque que percorre meu corpo.

Um toque tão quente e tórrido que faz meu coração bater tão forte que é impossível dizer se ele ainda se encontra dentro do meu peito. Um toque que me traz a vida. Um toque que liquefaz meu corpo. Um toque me faz implorar por mais.

Entre Lobos & Flores - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora