Entre Lobos & Flores - Livro 1

Capítulo XXIII - Parte II

─ Eu quero saber exatamente como tudo aconteceu. - Esclareço a Benjamin e Kane, sentados na ilha da cozinha, lado a lado, como duas crianças de castigo, enquanto eu ando de um lado para outro, inquieta. - Desde o começo do começo.

Nós jantamos, conversamos sobre qualquer inutilidade e ainda brincamos de pique esconde, depois de Scarlett passar uma boa meia hora implorando e reclamando que não havia nada para fazer. Agora ela está dormindo. Mas quem parece que se divertiu mais do que ela foram Kane e Benjamin. Claro que os dois trapacearam usando seus supersentidos de lobo, mas estavam tão empolgados que até esqueceram-se de procurar a mim e Scarlett. Os dois juntos é o mesmo que por um gato e um rato no mesmo cômodo.

─ Bom, quando Deus criou Adão e Eva, ele os pôs no Jardim do Éden e...

─ Cara, do que você está falando? - Eu encaro Kane, assim como Benjamin.

─ Você nunca leu a bíblia? - Ele põe as mãos na cabeça, um pouco exasperado, puxando seus dreads. - Sério, isso é muito importante. Quanto a um bom membro da igreja, acho que deveria ir as missas...

─ Kane! - Eu bato as mãos no balcão, o interrompendo. - O que isso tem haver com o que estamos falando?!

─ Você disse que queria saber o começo do começo. - Ele esclarece, como se fosse óbvio. - Então...

─ Isso não é uma piada, Kane... - Eu suspiro, tão exasperada quanto ele anteriormente.

Benjamin reprime um sorriso. Eu o censuro com o olhar.

─ Desde que você foi transformada, parece que anda muito estressadinha. - Kane acusa, passeando o dedo por sua xícara de chá. - É normal, eu entendo todo esse excesso de raiva e tal, mas combinar uma adolescente problematicamente hormonal com uma mordida de lobisomem potencialmente dramática parece que não foi uma boa ideia...

─ O que?! - Eu explodo. - Eu não sou uma adolescente problematicamente hormonal!

─ Você gritando desse jeito só prova que é. - Ele rebate, levantando uma de suas sobrancelhas perfeitamente delineadas para mim. - Você está na defensiva, gata. Ou devo dizer, tigresa.

Ele pisca para mim, fazendo um gesto de tigre no ar.

Benjamin ri, e Kane logo se junta a ele.

─ Santa paciência... - Eu murmuro, esfregando minhas têmporas, fechando os olhos, e depois tomando um gole do meu próprio chá de camomila. - Será que vocês dois podem se concentrar?! Por favor?!

─ Ok... - Kane revira os olhos, depois olha para Ben e faz uma pistola com os dedos, fingindo atirar na própria cabeça. - Mas eu quero deixar registrado que foi tudo ideia de Benjamin.

Ele levanta as mãos, em sua defesa.

Ben revira os olhos, e logo eu em seguida.

─ Eu não me importo! Os dois estão metidos nisso! - Falo, bruscamente. - Podem começar; temos a noite toda.

Debruço-me no balcão, para encará-los.

─ Já que você faz questão... - Kane inicia. - Bom, você se lembra quando mergulhamos no rio para poder...

─ Você está muito adianto. - Eu o corto. - Eu disse do começo. Vamos partir de... Ahn, deixe-me ver... Ah, sim! - Eu me viro para Benjamin, que está impassível. - Na festa, você me puxou a força para o banheiro...

─ Ah, garanhão... - Kane interrompe, com um olhar malicioso a Benjamin, mas eu prossigo, desistindo de tentar mantê-lo no foco.

─ E então fez com que eu bebesse seu sangue.