Capítulo XXXII - Parte III

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Eu me debato e murmúrios incompreensíveis saem abafados da minha boca. Começo a respirar com dificuldade, tentando me livra de seu aperto, mas ele é muito mais forte do que eu. Eu não tenho chance alguma. E por um segundo acho que tudo está perdido.


Com um movimento rápido, ele nos vira, fazendo com que minhas costas agora sejam imprensadas contra o tronco da árvore, enquanto ele cobre quase que completamente o meu corpo com o seu, ficando de frente para mim, mas ainda se recusando a destampar minha boca.

Olho em seus olhos esperando encontrar o implacável e cruel verde diferente dos de seu irmão, mas por um momento, quase vejo a mesma graça dos olhos de Benjamin. Mas só por um mínimo momento.

─ Madeline, pare! - Manda. - Pare! Você é surda? Eu não vou machucá-la. Pare com isso, agora!

Eu lamento contra sua mão mais algumas palavras abafadas. Se ele conseguisse entender o extenso vocabulário de nomes já o chamei...

─ Shhhh! - Ele me aperta mais forte, quando o barulho de um galho quebrado e folhas sendo amassadas contra pés chega mais alto aos nossos ouvidos.

Ele me lança um olhar significativo e eu me aquieto por alguns segundos. Satisfeito com isso, ele afrouxa um pouco a mão em torno da minha boca, mas permanece com ela lá.

Jesse olha em volta, procurando de onde veio o som, enquanto o barulho parece ficar mais alto, quase nos alcançando.

Então, de súbito o mundano aparece a alguns metros ao nosso lado, levando poucos segundos para nos identificar por de trás de seus óculos. Consigo um vislumbre do que aponta em nossa direção: uma besta, com algumas flechas com pontas reluzentes armadas.

Antes que eu possa registrar o que houve, Jesse no arrasta para o chão levando meu peso consigo, e assim que recupera o equilíbrio, parte para cima do garoto. Vejo no mínimo cinco dos dardos do mundano cravados no troco da árvore, no mesmo lugar que estávamos segundos atrás.

Ouço o som de briga, guinchos e lamentos, mas logo tudo cessa. E, tão logo desapareceu, Jesse está de volta com apenas um mínimo arranhão na altura de sua maçã esquerda. Nem posso imaginar qual o estado que deixou o garoto.

Involuntariamente, começo a rastejar pateticamente para longe dele, mas sei que não vou a lugar algum. E isso só fica mais evidente quando ele se escarrancha sobre mim, prendendo meus braços acima da cabeça e sentando-se um pouco abaixo do meu quadril.

─ Jesse! - Me debato contra ele com toda a força que me resta e que ameaça se esgotar. - Me largue!

─ O que houve com você? - Ele me ignora, me avaliando por um bom tempo. - Parece que entrou em um ringue com a Ronda.

Repentinamente um grito que salta dos meus pulmões corta o silêncio da floresta quando Jesse, com um movimento rápido, puxa a flecha que havia acertado a lateral de meu abdômen.

Até aquele momento não havia registrado a dor que ameaçava me tomar a cada segundo. Mas essa não é a pior parte; a queimação que havia sentido parece ter se intensificado violentamente, se espalhando por cada extremidade do meu corpo, conduzindo um calor alucinante.

Eu grito de novo.

─ Está vendo a ponta? - Jesse me mostra a ponta reluzente da flecha, agora banhada com meu sangue. - É prata. Mas sorte sua a flecha não ter ido tão fundo.

Eu me contorço e fecho os olhos com força. É como estar pegando fogo de dentro para fora. Momentaneamente a imagem de Thomas com três balas de prata cravadas em seu peito me vem à mente.

Entre Lobos & Flores - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora