Capítulo XXXII - Parte I

6K 698 129
                                    

Enquanto o tempo parece pairar como uma neblina densa e autoritária sobre mim, fazendo minhas mãos suarem e a ansiedade me abater implacavelmente, eu tento encontrar respostas para minhas perguntas em lugares que não existem.

Não sabemos por que Russel precisa do meu sangue, por exemplo. Mas uma pequena chama se acendeu sobre mim quando, em uma das nossas conversas para passar o tempo, enquanto eu tentava fazer com que não adormecesse, Benjamin me disse que a linha protetora que cercava a casa, mantendo minha irmã e Kane protegidos lá dentro, só poderia ser ultrapassada por quem teve o sangue misturado no feitiço. Mas, o fato é que, e se com meu sangue circulando dentro dele, Russel talvez pudesse atravessar a linha?

O nos leva a outra questão: o que ele iria querer em minha casa? No entanto, ele me disse que precisa de respostas, e claro, nada melhor do que a casa de sua ex-amante, responsável por levá-lo ao declínio, para conseguir repostas sobre o passado. Ou sobre mim. O Grimório, as pinturas e Deus sabe lá mais o quê está escondido lá dentro. E então, nada mais estaria em segurança.

É por isso que preciso agir o mais rápido que consigo. Não contei a Benjamin o que pretendo fazer, mas acredito que já desconfie. Perguntei-lhe se conseguia ouvir o que se passava lá fora, e ele disse que sim. Então, descobrimos que os guardas fazem turnos: à noite, quem vigia é a mulher, enquanto os outros dormem; depois, de manhã, o Grandão, que é lobisomem, sai para caçar e volta dentro de dez minutos, deixando a Vadia e o Burro sozinhos. E é nessa hora que devo agir.

Dá última vez que a porta foi aberta, ainda estava no início na noite e havia um barulho alto de conversas e um rádio ligado. Também pude sentir o cheiro de algo sendo assado, o que fez instantaneamente o meu estômago roncar. Já faz quase 48 horas que estamos sendo mantidos aqui. Não sei até quando Russel pretende nos manter em cárcere, mas não aguento mais um segundo sequer.

No entanto, agora tudo parece estranhamente quieto. A vozes, os murmúrios, os ruídos e até o barulho da chuva sumiram. É como se o tempo estivesse parado, estagnado, apenas esperando os meus movimentos. Então dirijo mais um olhar a Benjamin, que precisa sair daqui tanto quanto eu, e imagino o quanto ele reprove o que estou prestes a fazer.

─ Ei! - Eu grito alto. Minha voz soa um estardalhaço dentro do ambiente silencioso. Teria desperto até os surdos se estivessem dormindo. - Ei! Tem alguém aí?!

─ O que você está fazendo? - Benjamin, que até então fazia parte do silêncio, em seu sono tranquilo, desperta em questão de segundos. Seus brilhantes olhos verdes agora estão esbugalhados e muito grandes em seu rosto espantado.

─ Ei! Aqui, seus idiotas! - Continuo, agarrando as grades da cela, balançando-as, fazendo um som rouco e alto de metal rangendo soar.

─ Madeline, pare com isso! - Benjamin, tenta novamente. - Qual o seu problema, merda?

─ Ei! - Grito mais alto dessa vez, o ignorando. - Eu preciso mijar!

De repente, há um rebuliço lá fora, algumas vozes se exaltando e a porta de ferro corre pelos trilhos novamente, mas dessa vez com muita força, e alguém entra.

Benjamin solta um palavrão baixinho, transferindo seus olhos rapidamente da figura enraivecida da mulher para mim, e depois novamente para ela.

─ Mas que porra está acontecendo aqui? - Ela grita, perscrutando seus olhos em mim.

Eu avalio sua postura meticulosa e enrijecida, com o peito subindo e descendo devagar, avaliando a situação a sua frente.

Ela dá mais alguns passos em direção a minha cela, ignorando Benjamin por completo, que tenta chamar sua atenção. Mas agora é a minha vez de tê-la só para mim.

Entre Lobos & Flores - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora