Capítulo XXX - Parte II

7.5K 764 71
                                    

Você sabe por que eu a trouxe aqui, Madeline?

Russel indaga, mas suas palavras parecem ser jogadas ao ar, e carregadas pelo vento. Ou escritas em um papel e apagadas pelo tempo. Porque as únicas que fazem sentido para mim são as não ditas quando meu olhar encontra Benjamin; fraco, débil e frágil.

É como estar presa em um dos pesadelos que costumava ter todas as noites. Um dos pesadelos que costumava ter antes dele chegar e acabar com todos eles. Antes de me trazer de volta do passado, e ao mesmo tempo fazer com que eu queria revivê-lo, só para ter certeza de foi real tê-lo só para mim. De que foi real amá-lo de forma tão inocente e sem complicações. De que ele foi real e continua sendo. Mas talvez seja apenas um sonho mesmo. Apenas um pesadelo.

─ Você cresceu. - Russel agora está diante de mim, bloqueando minha visão de Ben. – Minha garotinha cresceu. E virou uma bela mulher. Muito parecida com sua mãe. Exceto pelos olhos, é claro, que são os mesmo dos meus.

Ele exibe um sorriso esplêndido nos lábios, como se estivesse diante de um prêmio tão merecido, enquanto aponta para seus próprios olhos. O mesmo tom dos meus. O mesmo azul glacial e pálido, que um dia achei pertencer a Thomas. Mas, não. Os de Thomas eram o azul mais bonito que um dia o céu poderia ter. E, não, doentios como os de Russel. Como os meus.

─ Lamento não ter estado por perto enquanto você crescia. – Continua com a voz muito torpe, abaixando o olhar, como se sentisse muito. – Eu passei todo o tempo procurando por você.

─ Procurando por sua filha? – Indago, não reconheço minha própria voz carregada de repúdio. – Porque você a amava, certo?

─ Não faça soar de maneira tão asquerosa. – Ele finge me censurar. – Eu amava a filha que iria ter. Isso nunca foi segredo para ninguém, Madeline. Nem para Anna.

─ Embora também amasse todo o poder e controle que uma criança híbrida poderia te dar. – Rebato. – Quem não iria querer algo tão valioso? Algo que faria com que todos se curvassem aos seus pés? Algo que...

─ Algo que faria com que até o caçador mais valente recuasse diante de uma nova raça? – Ele completa, fazendo com que eu me cale. – É, talvez você tenha razão. O que é um alfa sem poder? Mas você já tem a resposta para isso: nada; aquele por quem você chamou de pai; ele era um nada.

─ Thomas sempre será meu pai! Não, voc...

─ Não diga o nome dele na minha frente! – Em um segundo, o azul de seus olhos cintila com a ira que até então estava latente.

Ele segura nas grades da cela, com tanta força que seus dedos estão brancos como a neve. Eu me afasto alguns centímetros para longe dele.

Respira fundo uma, duas, três vezes, e imagino que vá se transformar com a fúria que o tomou subitamente, mas ele apenas continua a falar. Só que mais frio. Mais amargo.

─ Você está aqui porque eu preciso de respostas.

Touché, papai...

Ele anda de um lado para o outro no ambiente, e enquanto faz isso, eu me permito espiar pela porta de ferro que foi deixada aberta.

Como Benjamin disse, estamos no meio da floresta, em uma espécie de casa abandonada. A única coisa que consigo ver são árvores e árvores se estendendo pelo caminho. Não chego a ver os três guardas, mas sei que não devem estar muito longe. Há uma pequena fogueira ainda acesa perto da porta.

Acompanhando meu olhar, Russel desdenha:

─ Bolando seu planinho para tentar fugir?

─ Eu posso tentar.

Entre Lobos & Flores - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora