Entre Lobos & Flores - Livro 1

Capítulo XXII - Parte II

Toco a campainha uma, duas, três vezes...

Ando de um lado para outro, inquieta. Minhas mãos estão muito suadas.

Eu posso ouvir o que qualquer um está fazendo dentro da casa de Dominic sem mesmo estar dentro dela. Isso é muito bizarro. E extraordinário. Mas ou mesmo tempo estressante.

Parece que todos os ruídos se concentram dentro da minha cabeça e não saem mais, causando uma verdadeira desordem lá dentro. Até o menor deles faz com que eu me encolha devido à intensidade. E eu não sei como desligar, como fiz com o lance dos olhos.

Eu toco a campainha novamente, e a pressiono por um longo tempo, e me arrependo assim que o faço. Pareceu que uma sirene foi ligada nos meus ouvidos. Mas ignoro isso, e a toco de novo. Preciso ver Scarlett. Eu preciso que ela esteja aqui.

Posso ouvir alguém tomando banho no andar de cima, alguém lavando a louça na cozinha, uma televisão ligada na sala, às irmãs de Dominic correndo e berrando pelos corredores. Caramba, elas fazem tanto barulho... Mas eu não consigo ouvir a voz de Sky entre elas, e isso é tão angustiante, que meu coração parece que vai explodir em meu peito, e a culpa o preenche cada vez mais.

Quando estou prestes a tocar a campainha novamente, ou simplesmente derrubar a porta e checar se minha irmã ainda está ali, a porta é aberta:

─ Madeline! – A mãe de Dominic me oferece um sorriso gentil quando me vê, mas logo suas sobrancelhas se enrugam. – Você está bem? Você parece um pouco pálida.

Se com "bem" você chama de estar tendo um ataque cardíaco precoce por ter perdido sua irmã, ter seus olhos completamente pintados de preto, ser mordida por um cara que quer te matar e que provavelmente te transformou em uma criatura que tem pelos em lugares não muito agradáveis, então, sim. Eu estou ótima!

─ Nunca estive melhor!

─ Dominic ainda está na escola, se veio procurar por ele. – Ela avisa, ainda me analisando da cabeça aos pés. – Você tem certeza de que está mesmo bem? Se quiser entrar e tomar um copo de água...

Ela faz um gesto amplo em direção ao interior da casa, e meu estômago ronca muito alto quando sinto um aroma muito gostoso vir da cozinha.

─ Essa galinha parece estar ótima. – Eu falo categoricamente, fungando o ar um pouco mais. – Mas eu acho que a senhora já pode desligar o forno, já está no ponto.

─ O que? – Ela levanta uma sobrancelha para mim, e me dou conta de que ainda estou fungando o ar como um cachorro. Ou um lobo... – Como sabe que é galinha? Consegue sentir o cheiro daqui?

SIM!!! ISSO É MUITO LEGAL, NÃO É?

─ Foi só um palpite.

─ Ah, é claro. – Ela responde, e quase posso ouvir a confusão em sua cabeça.

Tento me concentrar novamente na questão principal, mas o cheiro está tão bom... Droga!

– Quanto a Dominic, eu não vim procurá-lo. – Falo. – Na verdade, eu queria saber se minha irmã ainda está aqui?

─ É claro que não, Maddie. Você não se lembra? – Eu estou começando a achar que há muitas, muitas coisas que eu não me lembro. – Seu namorado e sua prima vieram buscá-la.

─ O QUE?!

Eu acho que vou desmaiar...

─ O que foi? Há algo errado? – A mãe de Dominic se assusta, começa a perceber meu estado de pânico.