Promessas

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Primavera,

Maio de 2023.

Quanto tempo se passa até conseguirmos esquecer alguém?

Quanto tempo leva até que as rachaduras provocadas pelo desencaixe precoce de duas almas se fechem?

Eda não tinha essas respostas.

O tempo não serviu para nada além de dar visibilidade as aberturas que agora preenchiam todo seu corpo.

Queria acreditar que ele estava vivo em algum lugar, em seu íntimo seguia acreditando.

Porém seu exterior estava exausto, consumido pela amargura dos dias solitários.

Haviam se passado seiscentos e sessenta dias, o que somavam um ano e dez meses ao todo.

Sabia disso com exatidão, porque nunca esqueceria o dia em que seu filho veio ao mundo.

Eram seiscentos e sessenta dias em que nenhuma notícia chegou até ela, nada além de incertezas.

No entanto, a falta física dele era substituída por pequenas coisas no dia a dia.

Não achou que houvesse tanto até se dar conta que ele estava em tudo.

Se distraiu movendo a mamadeira em água morna observando as gotas grossas da chuva que começava lá fora, aquilo ainda lhe provocava alguns arrepios, mas parecia mais fácil de lidar agora.

Escutou os resmungos vindos do quarto e a voz de Sammy sobreposta aos choramingos.

Se apressou até eles detendo-se ao ouvir a voz doce da filha.

Parou junto a porta entreaberta estudando a cena dentro do cômodo, Sammy estava curvada sobre a grade do berço recebendo toda a atenção do irmão.

— Está vendo? — Luke segura seus pés e diz algo impronunciável. — Você precisa repetir certo.

"papapa"

Ele diz, e ela deixa seus ombros caírem desanimada. — Papai, Luke! — Diz ela contrariada por um bebê de um ano e dez meses.

Ele está concentrado no rosto dela, quando deveria estar olhando para a fotografia em suas mãos.

Mas ele gostava de olhar para ela, sempre parecida fascinado. Não era segredo para absolutamente ninguém que Sammy, ou "Xami" como ele chamava era sua pessoa favorita.

Não a avó, não Ayfer com suas receitas, nem mesmo os tios, ou ela.

"Xami" era a pessoa favorita dele.

A menina fez uma careta soltando um suspiro longo e impugnado.

— Parece que está tendo problemas com a pronúncia. — Eda diz entrando no quarto, Sammy se vira com uma pontada de irritação em seu rosto.

Luke se ergue agarrando as mãozinhas a barra do berço.

"Mama" ele chama e a menina cerra seu olhar atravessado nele.

— Não o olhe assim!

"Xami" ela a chama a puxando pela manga da blusa.

— Por que ele não chama o papai?

— Falta de costume, um dia ela vai. — Ela se aproxima e ele estende os braços. — Não é amor?

Ele ri.

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