Simultaneidade (Parte 2)

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Pessoas são indispensáveis?

Se sim, em qual momento de nossas vidas nos damos conta de que não aprenderíamos a viver sem alguém? Quando exatamente nos tornamos essenciais na vida de uma outra pessoa?

Quando deixamos de ser expectadores para nos tornamos parte da história?

Eda havia voltado, estava ali sob a vigia atenta dele, no entanto, não se sentia presa.

A atenção dele não lhe causava dores tão pouco agonias, a atenção dele sobre ela era plácida e acolhedora.

Ela havia voltado, mas seus medos ainda estavam ali.

Não se livraria deles apenas por cruzar uma porta na qual Serkan a aguardasse do outro lado. Não acontecia assim.

Contudo, não deixaria que o medo a guiasse dessa vez, estava na hora de voltar a tomar as rédeas de sua vida confusa e bagunçada. Percebeu ainda que tardiamente que apenas existir não era mais uma opção, não depois de ter se sentido viva por algumas horas, depois disso não conseguiria se arrastar novamente para a escuridão dentro de si.

Tinha deixado a porta aberta por um tempo curto, mas suficiente para que a luz entrasse.

Notou no minuto em que cruzou a placa da cidade que estava desistindo mais uma vez, sem se dar ao trabalho de lutar, apenas porque em todas as outras vezes que se ergueu contra ele se enxergou ruir violentamente.

Mas não tinha voltado por Serkan, apesar de ter sido uma das razões.

Havia voltado pela garotinha de cabelos castanhos e olhos verdes vivos, pois ao olhá-la através do retrovisor logo depois de escuta-la dizer que fugiriam para sempre percebeu finalmente que viver se escondendo para mantê-la afastada dele era o mesmo que mantê-la enjaulada em grades invisíveis.

Estaria tirando dela a chance de começar a viver.

Sammy era uma menina inteligente ninguém negaria isso, mas precisava de mais que um cérebro astuto, precisava desenvolver laços, adquirir experiências se sentir parte de algo e não conseguiria isso pulando de cidade em cidade.

Estar ali tinha sido uma escolha difícil, arriscar pessoas com as quais se importava não parecia certo, mas seguir abdicando tão pouco parecia.

Um pensamento egoísta talvez, porém talvez agora fosse mais fácil ter pessoas ao seu lado.

Poderia se permitir respirar um pouco antes que a avalanche a engolisse de novo.

- O que está fazendo? - Mãos fortes a abraçaram pela cintura e o calor do corpo dele lhe cobriu as costas.

- O café da manhã. - Abandonou as frutas sobre o balcão quando os dedos dele se prenderam a barra de sua camisa a puxando lentamente para cima. - Serkan, o que está fazendo?

Ele descansou a cabeça em seu ombro beijando sua mandíbula. - Estou te observando enquanto prepara o café. - Diz inocente enquanto suas mãos pousam em seu ventre.

- Está me distraindo. - Seus lábios lhe acariciam o rosto, os pelos de sua barba roçando a pele. - Serkan... - pressionou o cotovelo contra o abdômen dele fazendo ele a puxar mais contra si. - Serkan...

- O que? - sussurrou ao pé do seu ouvido. - Eu senti sua falta. - Disse fechando os dentes no lóbulo de sua orelha.

- Três dias Serkan... - Fechou seus olhos quando as mãos dele se fecharam sobre os seios.

- Longos e solitários... - Sua língua percorreu a pele descendo até seu pescoço.

Ela sentiu o ar lhe escapar como um suspiro virando o corpo para ele, as mãos meladas pelos morangos se prenderam ao pescoço o puxando para si.

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