Voltando para casa (parte 1)

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Na madrugada do dia 30 de julho de 2020, Serkan Bolat havia morrido.

Caído sobre o solo arenoso a menos de dois metros de sua base, antes de perder seus sentidos ainda conseguiu escutar os latidos altos do seu cachorro, ainda pode ouvir os gritos de seus homens e por alguns segundos antes de sentir seu corpo partir, ele pode observar as estrelas.

Mas aquela não era a primeira vez que chegava tão perto da morte, na verdade perderia as contas se tentasse numerar, no entanto, está em especial tinha se juntado as outras duas vezes em que seu coração realmente parou.

A primeira vez que seu coração parou em seu peito, ele tinha nove anos de idade se afogou na piscina do avô, uma coisa estúpida na verdade, um desafio para ver quem aguentava mais tempo sem respirar.

Ele ganhou!

A segunda vez que seu coração parou foi a três anos, tinha vinte e sete seu carro se chocou contra um ônibus.

Culpa dele!

A terceira vez que seu coração parou parecia ter sido a um dia atrás, mas faziam três meses.

Não teve culpa!

E por mais preocupado que ele pudesse estar naquele momento deitado em uma cama desconfortável em um quarto de hospital enquanto a letra de Knockin' On Heaven's Door, "batendo, batendo, batendo na porta do céu" se repetia incansavelmente em sua cabeça tudo o que ele conseguia pensar era na dona das cartas em suas mãos. Não na mãe ou na irmã, mas na garotinha com quem tinha se comunicado durante quase oito meses, a última carta recebida datava de 18 de julho, mais de dois meses atrás.

Talvez ela acreditasse que ele estivesse morto, porque mesmo ele duvidava de sua sorte no momento atual.

Não lembrava de muita coisa relacionada aquele dia, sua lembrança mais clara era de tudo explodindo a sua volta, nem ao menos sabia o que o tinha atingido.

Agora, no entanto tinha uma nova cicatriz em seu peito, felizmente cicatrizada.

Made in Afghanistan!

Correu os olhos pelo quarto que dividia com mais três homens, todos com menos sorte que ele, ele pelo menos ainda possuía todos os membros presos ao seu corpo.

Um corte profundo na cabeça, uma contusão nas costelas, algumas lacerações e um braço quebrado, sem contar o zumbido insistente no ouvido, mas fora isso ele estava realmente bem.

Não era para menos, teve quase três meses para se recuperar.

Três meses ocupando o leito de um hospital militar.

Três malditos meses dormindo.

Noventa dias que poderiam ter sido aproveitados de outra forma.

Mas a vida era mesmo uma vadia!

Não estava reclamando, poderia ter sido pior, certamente para alguns de seus homens foi.

Uma enfermeira passou pela porta do quarto para sua visita habitual.

- Como se sente hoje Capitão? – A voz melosa dela o puxou para fora de seus devaneios.

- Como alguém que dormiu por três meses.

Ouviu a risada coquete dela enquanto se aproximava balançando o rabo de cavalo loiro, baixou o corpo para aferir sua pressão como de costume, o rosto muito próximo do dele, tentou desviar os olhos para a TV ligada em um especial de ilha da fantasia, mas o tecido de sua calça roçou em sua mão quando ela se sentou na beirada da cama, havia um pouco de exagero nos seios que se empurravam contra o decote de sua blusa.

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