Voltando para casa (parte 2)

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O vento forte arrastava as folhas sobre a grama sem vida do quintal, as correntes do balanço velho rangiam brincando com as rajadas solitárias lá fora.

O galho seco da magnólia arranhou-se contra a janela da cozinha, avisando que logo iria chover.

Pés descalços correram pelo chão de madeira polida da velha casa, pernas ligeiras fugindo do escuro, os braços pequenos abrigavam um urso de pelúcia, o corpo esguio empurrou a porta encontrando a luz baixa do abajur. Dois pares de olhos verdes espiaram pela fresta recém aberta.

Olhos castanhos a olharam por cima de um livro, um sorriso era o sinal verde para que o pequeno corpo atravessasse o quarto mal iluminado, se atirando contra a cama macia.

- Não deveria estar dormindo?

- Eu estava tentando – se aproximou com olhos sonolentos apertando um ursinho contra o corpo. – Mas está fazendo tanto barulho lá fora.

- Está com medo da tempestade?

A cabeça pequena balançou para baixo e para cima. – Tudo bem, eu também não gosto de tempestades. – Afastou as cobertas revelando o espaço a seu lado.

Um sorriso doce se formou no rosto angelical.

- Você vai dormir também? – Puxou o cobertor até cobrir o pescoço.

- Eu vou! Só preciso terminar aqui.

O quarto se iluminou com um raio recém caído em algum lugar.

O cobertor cobriu o rosto abafando o som infantil de sua voz. – Um, dois, três...

Um barulho alto ecoou lá fora, fazendo ambos os corpos tremerem.

- Pensando bem, talvez seja melhor eu me juntar a você. – Fechou o livro sobre a mesinha de cabeceira se juntando a menina embaixo das cobertas.

- Acha que vem mais?

- Parece que está apenas começando.

Os braços pequenos envolveram o pescoço em um abraço forte. – Vamos conseguir dormir assim? – Eda perguntou.

- Com certeza... É o melhor jeito de dormir. - Sammy esfregou a ponta de seu nariz contra o da mãe. – Acha que o Bobby também está com medo?

- Não acho que ele consiga ouvir de lá.

- O tio Luke também não? – As mãos afastaram a franja escura da testa franzida da pequena.

- O tio Luke não tinha medo de absolutamente nada.

- Mamãe... – Sussurrou. – Acho que o Capitão também não.

Eda esperou até que o sono caísse sobre a filha, seria uma noite em que não conseguiria pregar os olhos.

Detestava tempestades, ao contrário do irmão, de Bobby e do "Capitão" de quem a filha tanto falava, ela tinha muitos medos e a tempestade sem sombras de dúvidas era um deles.

Odiava o barulho da chuva.

Odiava o Barulho dos trovões.

Odiava os clarões dos raios.

A casa velha em que moravam também não lhe transmitia grande sensação de segurança, tudo rangia com o vento as portas, as janelas, as juntas do telhado colonial, a madeira das escadas e até o velho balanço no quintal.

Tinham deixado Los Angeles há um ano para recomeçar em uma cidadezinha costeira na Carolina do Sul, grande o suficiente para não serem notadas e pequena o bastante para não parecer atrativa turisticamente.

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