A Jogada de Thalli

Torre - 22 - Que cheiro é esse?

Vou começar pelo resultado. Sendo bem sincero, foi um fracasso. Tínhamos nossas habilidades e a experiência do meu pai. O que não contávamos era a quantidade de monstros nessas minas.

— Haa... Haa... Haa...
— Thalli! Atrás de você! — grita Soha.
— O que?! Ha!

Enquanto eu estava correndo, sufocado pela minha própria respiração, um kobold me alcançou e balançou sua picareta em minha direção.

— Gyaum!
— Corre Thalli! — Felizmente meu pai chegou bem na hora e enfiou sua lança na bochecha do kobold.
— Tá... Haa... Eu tô tentando... Haa...

Já estamos correndo a toda velocidade por meia hora. Já cai e já bati na parede dessas minas por várias vezes. Mesmo todo machucado temos que continuar pelo menos até a zona de escavação.

As zonas de escavação são áreas seguras onde exploradores, especializados em segurança de perímetro, mantêm os monstros afastados para que mineradores possam trabalhar.

— Meu senhor, está bem? — Elly que corria à frente, me esperou e corria ao meu lado.
— Eu... estou... Haa... E você?
— Hmmm... Estou com um pouco de medo, mas estou bem sim. Venha. Eu puxo o senhor.

Como ele consegue correr assim e nem mostrar cansaço?! Se bem que parece que sou o único sedentário do grupo. Meu pai estava atrás de nós atacando os monstros que se aproximava e Soha ora corria ao meu lado, ora ia à frente pra verificar o caminho.

Nessa primeira tentativa me dei conta de algo muito importante. Preciso treinar. Praticamente fui um sedentário desde que nasci. Participei de algumas atividades, mas em geral não me exercito muito.

Por outro lado Soha vive brincando na vila, correndo pra lá e pra cá e meu pai, desde que aprendeu a caçar com senhora Finarla, sempre se exercitou mesmo quando não estava caçando.

Quanto ao Elly, além de sua raça já possuir aspectos físicos mais avançados, teve uma vida miserável que acabou aumentando sua resistência ainda mais. Mesmo parecendo frágil, sua força vital parece ser maior do que sua aparência.

— Ei ei! O que foi?
— Haa... Haa... monstros... atrás de nós.
— E vocês trouxeram pra cá?! Haa... Tá. Deixa com a gente.

Conseguimos chegar a uma zona de escavação. Não havia muitos monstros atrás de nós, na verdade. Então acho que não vão reclamar muito. Observei ao redor e o pessoal estão preparando o almoço. Já é essa hora? Decidimos montar um pequeno acampamento também.

A zona de escavação é um grande salão desforme em meio a essas minas. Existem algumas delas aqui de tamanho variado. Entre esses salões há corredores cercados de terra e pedra, sustentados por vigas e pilastras de madeira.

— Hummm... Pessoal, vamos pensar no que deu de errado — anunciei.
— Você. — Soha e meu pai apontam pra mim. Elly se manteve parado.
— O que?! Como assim?
— Thalli... por que toda vez que avistávamos um monstro você gritava? — pergunta Soha.
— U...
— E por que quando não podia usar a habilidade você ficava tremendo e parado na frente do monstro?
— É que...
— Haa... Thalli, nós seguimos seu plano, mas não tinha como dar certo porque você estragava tudo e tínhamos que fugir ou te ajudar. — Meu pai terminou de me massacrar.
— Tá, mas eu nunca vi monstros assim. Minha habilidade tem hora que funciona e hora que não. E aqueles morcegos e insetos...
— Thalli, você já mediu qual o tempo de recuperação da sua habilidade? — pergunta Soha.
— Hum... ainda não.
— Pois trate de medir. Ultimamente consigo usar a cada 10 minutos. Não é um tempo exato, mas eu sei que não dá tempo de usar na mesma batalha. Você tem que ao menos saber suas capacidades.
— Sim... me desculpe.
— Enquanto isso o Elly tá de parabéns. — Soha olha pro Elly.
— Eu?
— Sim. Como você não tem arma então não pode lutar, mas você mantinha bem a distância entre nós sem atrapalhar e sem se perder.
— Hehe. — Elly olhou pra baixo com vergonha e coçou sua bochecha.
— Hum... devemos manter o plano de Thalli em que eu tomo a frente... Mas o Thalli fica junto com Elly dessa vez.
— Mas pai eu posso...
— Thalli, eu deixei você tomar a frente até agora, mas tomarei as decisões a partir daqui até você ser treinado devidamente. Entendido?
— U... Sim, pai.