A peça "Torre" no xadrez desempenha um papel fortíssimo no jogo. Seu movimento padrão é simples: movimenta quantas casas for na vertical e na horizontal do tabuleiro. Isso proporciona uma tática tanto de defesa, pelo domínio que exerce sobre o tabuleiro, quanto de ataque, pelo seu alcance longo.
— Elly... Eu posso tocar na sua marca?
— M-ma-mas, se-senhor?! Isso é um pouco embaraçoso e ainda estou muito sujo... — O menino bestial se curva naquele banquinho.
— ... Tudo bem então. Me avise se mudar de ideia. Não vou forçá-lo a nada.
— S-sim, senhor. Obrigado, senhor, mas se me ordenar...! — Ele levanta seu rosto e olha diretamente nos meus olhos.
— Não. Fique tranquilo. Vamos continuar o banho.
— Tá... — Elly se ajeita no banquinho e continua a esfregar seu corpo.
— Vamos dar um jeito nesse cabelo também.
— O que?! Ai! Ai ai!
— Pare de se mexer um pouco. Tá tudo embaraçado aqui.
— Uuuuuu... — choramingava Elly.A quanto tempo ele não tomava banho?! O cabelo dele está todo emaranhado, parecendo dreads. Queria ter shampoo e condicionador aqui, mas vou tentar fazer o máximo com esse sabão de pedra deixado no poço e meus dedos...
...
— Hwaaaaaaaa... — Elly está passando a mão agora em seus cabelos e em seu rabo.
— Haa... Haa... Tá bom... assim?
— Sim! Muito obrigado, senhor! Muito obrigado! Fazia tempo que não me sentia limpo assim! Mas... — Ele estava alegre, com seu cabelo solto na frente do rosto, mas abaixou a cabeça.
— Que foi?
— Eu não sei como retribuir ao senhor... Se quiser eu posso pagar com meu corpo...
— Como é?!
— É que era bem comum me lavarem antes pra isso por alguns donos...
— Haaa... Veja bem. Eu só quero que trabalhe pra mim me ajudando em algumas tarefas. Tarefas normais de um simples vilarejo. Tudo bem? E vamos amarrar esse cabelo porque tá escondendo seu rosto todo.
— Tá... — Ele olha pra mim com descrença no olhar. — S-sim, senhor!A porta que dá para a hospedaria se abriu.
— Thaaallyyy? Já acabaram? — Soha fala pela fresta da porta.
— Ah. Só um minutinho, Soha! Elly, enrola esse pano na cintura. ... Pode vir, Soha!
— Eu consegui comprar uma camisa e uma bermuda. Como o sapato tava caro, eu trouxe uma sandá... Nossa! — Ela vinha caminhando olhando para a sacola de compras e parou ao levantar o rosto e ver o Elly. — Esse era aquele menino?!
— Sim. Esse é o Elly.
— Uuuuu... — Elly começa a choramingar e se curvar escondendo seu corpo com seus braços finos.
— Nossa, mas que diferença... Enfim, como ia dizendo aqui está a roupa dele. Eu vou indo. — Ela foi se virando pra ir embora.
— Soha?
— Ugh... — Ela para sem olhar pra mim. — Q-que foi?
— O que você comprou pra você?
— Errrr... Nada demais. Até! — Ela saiu em disparada.
— Haaa... Bem... Vista essa roupa, Elly. Precisa de ajuda?
— N-não, senhor. Eu posso me virar.
— Tá bom. E depois vamos jantar.
— S-sim. O que?!
— Jantar. Você não come?
— Sim... como, mas...
— Ah... Não se preocupe. Vamos logo.Quando Elly terminou de tomar seu banho e se vestir, o céu havia escurecido e chegava a hora do jantar. Voltamos para o salão e Soha e meu pai já tinham pego uma mesa para nós. Helena, a moça do balcão veio nos atender.
— M-mas, senhor... Eu não posso me sentar junto à mesa assim...
— Vai. Senta logo aí e vamos comer. — Estava empurrando Elly para sentar junto conosco.
— Uuuuu...
— Errrrr... senhor Thally. Se quiser nós vendemos também ração para escravos e preparar palha pra ele dormir lá no estábulo... — Helena que via aquela cena fez a oferta.
— Helena, não é? Ele é meu agora e eu posso tratá-lo como eu bem entender. Ou vocês vão me proibir de levar minha propriedade para onde eu quiser? — disse a encarando.
— Não. Claro que não, senhor, mas é que outros clientes não verão com bons olhos... — Ela então olha de relance para outras mesas. Alguns dos humanos dali estavam nos olhando de lado.
— Pois então, não me importo. Qual o menu de hoje?
— B-bem. Hoje nós temos...Eu sei que forcei muito aquela situação. Apesar de elfos serem bem-vindos aqui, não deixamos de ser demi-humanos. Imagino que aqui em termos de classe social somos logo abaixo dos humanos e os bestiais, ainda mais um escravo, seja mais abaixo ainda. Em um ambiente separado por classes, a classe mais alta tem aversão pelas classes baixas.
Eu não pretendo tratar o Elly como escravo. Eu quero, se possível, que ele se torne um amigo. Minha surpresa foi encontrar aquela marca nele. Provavelmente a marca de uma peça. A peça da torre tem um muro redondo em cima do corpo, formando uma torre mesmo. Se as marcas correspondem somente ao topo, faz sentido ele ser a outra peça.
Um dia, quando ele ganhar mais confiança em mim, verei se é verdade. Enquanto isso vamos comer rodeado por esses olhares lançados ao Elly. Mesmo subindo para o quarto, Elly também se recusou a deitar na quarta cama, dizendo que poderia se deitar no chão. É claro que eu o forcei a deitar na cama.
Enquanto ele não se acostumar a uma vida normal, terei de usar meu poder como dono sobre ele. Eu ainda não pensei em como vou explicar para senhora Finarla essa situação, mas tenho certeza que ela concordará com minhas ações. Sobrou pouco do lucro que tivemos, mas tenho certeza que não foi em vão.
...
— Para as minas?! Não. Eu não posso ir. Não posso... Uuuuuuu...
— O que foi Elly? Nós só vamos comprar uma coisa lá e logo voltamos.
— Eu não posso, senhor. Não posso...
— Haaa...Na manhã seguinte após nos arrumarmos mencionar que estávamos indo para as minas, Elly começa a ficar desesperado. Já vi que vai dar mais trabalho do que eu pensava.
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A Jogada de Thalli
FantasyEsta é mais uma história de uma garota deste mundo. Ela reencarna no corpo de uma criança elfa negra, em outro mundo, com todo o conhecimento anterior após morrer em um acidente. A criança é um menino. A confusão sobre seu novo sexo, cultura totalme...