Torre - 15 - Escolhemos os cavalos mais dóceis

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Conseguimos resolver a maior parte dos negócios na Companhia Dente-de-leão. Ficou marcado de entragarmos nossas mercadorias e também de recebermos o que compramos, após o almoço. Nos baseamos pela pesagem feita na vila, então pode sair alguma diferença, mas nada que nos preocupe.

Ao sairmos da loja, paramos pra comprar no quiosque da frente. Tinha algumas coisas que eu queria testar na vila, então incluí como despesa extra. Visitamos mais alguns quiosques e algumas lojas. Felizmente encontramos alguns equipamentos para caça por um bom preço.

— Thalli? Podemos levar essa lança? A minha já está com muito remendo — pediu meu pai.
— Thalli? Essas duas adagas seriam perfeitas pra mim, não acha? — perguntou Soha, ajustando o coldre na cintura.

A loja de equipamentos de caça possuía uma variedade de armamentos e armadilhas, além artigos de sobrevivência como cantil, pederneira, cordas e sacolas. Limitei o gasto nessa loja a 5 moedas de prata e também escolhi algumas coisas pra mim. A qualidade dos produtos não eram tão boas. Perguntei ao lojista e ele respondeu que era todas usadas. Se quiséssemos produtos novos, teríamos que encomendar. Considerei que o custo-benefício compensaria.

Voltamos para a hospedaria na hora do almoço. Nós não costumamos almoçar na vila. É mais uma preferência e costume de todos do que uma regra. Decidimos descansar um pouco enquanto comemos algo. Deixamos nossas compras no quarto e fomos para o restaurante. Soha estava terrivelmente quieta demais. Quando ficava na frente dela, ela olhava para outro lado.

— Soha? Aconteceu alguma coisa?
— Nada... — Ela continuou não me olhando.
— Soha?
— Já disse que não é nada! — continuou a me evitar e ainda se afastou um pouco da mesa.
— Soha, se eu fiz alguma coisa que te desagradou, poderia me contar para que eu possa resolver?
— ... Não .....mos em ....... ..ja de .ou..s — Ela disse algo bem baixinho fazendo bico.
— O que? Não entendi.
— Não passamos em nenhuma loja de roupas!
— Ahh... mas Soha, esse dinheir...
— Eu sei! Por isso que não queria falar!
— Tá, mas por que está tão brava assim então?
— ... — Ela olha pra baixo e se contorce toda. — Podíamos só dar uma olhadinha, não? — disse olhando pra mim com rosto ainda abaixado.
— Hã? Hahaha! Tudo bem. Podemos ir mais tarde depois de resolvermos o resto dos negócios, tudo bem?
— Sim! — disse levantando o rosto com o sorriso bem aberto.

Apesar de ela não ser como a Lowel, devo me lembrar que ela também é uma garota. O que? Eu também já fui uma? Confesso que eu era uma completa desleixada. Eu me arrumava para algumas ocasiões mais por obrigação do que por vontade própria. Me desesperei quando me formei do colégio, pois não poderia mais usar uniforme. Me arrumar todo dia para ir pra faculdade era um grande sacrifício diário.

Terminamos de comer e partimos para a Companhia, levando o carrinho com as mercadorias. Dessa vez fomos direto para lá.

— Por aqui, senhor Thalli. Estávamos aguardando.

Sara, a moça do balcão, aguardava na porta a nossa chegada. Fomos guiados pelo beco ao lado da loja onde dava na rua de trás e havia um galpão, uma construção na altura de dois andares, com grande movimentação de carroças e pessoas carregando caixas e sacolas, pra lá e pra cá.

— Ah, senhor Thalli. Me desculpe a bagunça por aqui. A Sara irá cuidar de todo o resto. Por favor, se houver qualquer problema, não hesite em me chamar, mas tenho outros clientes pra tratar.
— Tudo bem, senhor Giorgin. Só uma última pergunta. O valor oferecido por nossas frutas são um pouco mais altas que as outras. Por quê?
— Ah. São frutas dos elfos. Elas são bem requisitadas pelos mais ricos, principalmente na Cidade das Águias. Dizem ter propriedades revigorantes, além de serem mais saborosas do que as que são cultivadas por aqui.
— Hummm. Entendi. Muito obrigado.
— Se forem vender diretamente na Cidade das Águias, com certeza iriam lhe oferecer mais, mas não recomendaria por causa da estrada e Orahere. A segurança por lá não é muito boa.
— Sim. Obrigado pela informação, senhor Giorgin.
— De nada. Agora se não houver mais nada, com licença.

Giorgin atravessou a rua e entrou pelos fundos de sua loja. Achei que nossas frutas vendiam bem pelo cuidado que o povo da vila tinha com o pomar. As nossas frutas devem possuir algum tipo de benção também. Acompanhamos a senhorita Sara que ordenou um funcionário a realizar a pesagem da nossa mercadoria. Conferimos lado a lado tudo. Ela era bem séria. Dava as ordens e só falava comigo o necessário.

— Senhor, Thalli. Refazendo os cálculos, o senhor ficará com uma sobra de 1 moeda de ouro e 55 de prata. Como observei que o carrinho de vocês, não comportará a mercadoria comprada, podemos oferecer o serviço de entrega como fazia o senhor Thorel ou então, se preferir, temos alguns cavalos de carga e carruagem à venda.
— Hum. Quanto fica a entrega, os cavalos e a carruagem?
— Sim. Nessa quantidade a entrega irá custar 5 moedas de prata. Já os cavalos são de no mínimo 20 moedas de prata cada um, sendo necessários 2 para carregar a carruagem de 15 moedas de prata. Gostaria de conferir os cavalos e a carruagem?

Hum... Serei obrigado a ir até as minas, naquela região montanhosa. Se tivéssemos uma carruagem e cavalos na vila seriam bem úteis. Felizmente mesmo se adquirirmos tudo, me sobraria a moeda de ouro como lucro atual e ainda me resta a venda dos outros acessórios.

— Seria um bom investimento para a vila. Vamos olhar os cavalos, mas antes disso, vocês poderiam reservar o nosso carregamento e alguns outros que compramos nesta vila até voltarmos das minas?
— Sim, claro. Manteremos tudo em segurança. Nem se preocupe com taxas adicionais. O senhor Giorgin já me deixou avisado para não incluir no contrato.
— Ah, sim. Muito obrigado. Vamos lá então.

Fomos levados a um estábulo próximo dali na mesma rua. Escolhemos os cavalos mais dóceis... Na verdade os que deixaram eu tocar neles. A carruagem era bem padrão, então escolhi a que parecia estar em melhores condições. Eram todas usadas, aliás. A Sara arranjou tudo com os funcionários e seguimos para o prédio da loja. Não aguardamos muito e Sara nos trouxe o contrato de compra, venda e armazenamento.

— Se estiver tudo certo, é só o senhor assinar nesta linha.

Já havia treinado minha assinatura. Minha primeira assinatura em um documento desde que vim parar neste mundo. — Thalli — Nos despedimos da senhorita Sara e agora é a vez de vender o resto dos acessórios... espera. Esqueci da recompensa pelo Danton!

— Pai, vamos no posto de guardas e então iremos naquela loja novamente.
— Hum — acenou ele com a cabeça.

Nessa viagem, confirmei todas as nossas direções com o meu pai. Geralmente só acena mesmo e me deixa livre nas escolhas, mas prefiro que seja assim.

— Pensei que não viriam mais. — Gilbart estava no espaço de convivência, logo na entrada do posto.
— Me desculpe. Estávamos resolvendo os negócios da vila antes de vir aqui.
— Haha! Tudo bem. Agol, seu filho parece bem esperto, heim?
— Sim. Ele tem nos ajudado bastante.
— Hahaha! Vocês vão ficar essa noite aqui? Vamos tomar uma mais tarde, Agol?
— Hum... — Meu pai olhou pra mim. Por que ele olhou pra mim? Apenas fiz cara de pergunta pra ele. — Tudo bem.
— Certo. Fechado. Annya!
— Sim, senhor! — A moça preta que estava nos fundos respondeu.
— Pegue a recompensa desses garotos!
— Agora mesmo, senhor! — Ela pegou um saquinho que estava em uma estante e veio nos entregar correndo. — Aqui está.
— Obrigado, Annya. Pode se retirar. — Gilbart a agradeceu.
— Sim, senhor! — De corpo ereto, ela voltou aos fundos da sala e voltou a fazer o que estava fazendo.
— Senhor, Gilbart. Aqui tem 20 moedas de pratas a mais. Não eram 80?
— Ah. O chefe da vila acrescentou como desculpas pelo ocorrido. Também peço desculpas. Isso foi nossa falha por vocês terem sido atacados.
— Ah, não. Não precisava.
— Por favor, fique com isso. Depois vai ser difícil explicar para o chefe.
— Haaa... tudo bem então... mas pensei que humanos não gostassem de demi-humanos.
— Só alguns idiotas, garoto. Apesar das diferenças, não vejo mal algum na nossa convivência. O nosso chefe... err... ele tem outros motivos, mas ele quer um bom relacionamento com vocês também.
— Haaa... Bom. Vamos indo então.
— Certo. Agol. Depois te encontro na hospedaria.
— Hum — acenou meu pai com a cabeça.

Agora só falta a loja de utensílios e, se sobrar tempo, a loja de roupas.

A Jogada de ThalliOnde histórias criam vida. Descubra agora