Peão - 12 - O conflito e a fuga

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Os seres humano vêm programados de fábrica com uma bomba relógio implantada no corpo. Em alguns essa bomba explode mais cedo e em outros mais tarde, mas o problema maior é que essa bomba gera uma reação em cadeia que, não bastasse acabar consigo mesmo, levam consigo outros ao redor e até daqueles que ainda estão para nascer. Essa bomba se chama ganância.

As contas não batiam. Senhora Finarla me explicou que a vila fez um contrato com a Cidade de lhes fornecer alimento produzido na vila em troca de nos permitir a estadia, a proteção e o comércio com outras vilas sob proteção da Cidade.

O que deveria ser um contrato que deveria ser benéfico aos dois lados, nos anos recentes está pesando para o lado da vila. A senhora Finarla me contou que nem sempre o nosso povo viveu ali. Viemos de uma outra região e éramos autossuficientes. Nosso povo prosperava em uma floresta longe daqui e nossa arte, cultura e artesanatos eram venerados, chegando a ponto de humanos implorarem para adquirir um pouco daquilo a valores exorbitantes.

Houve um conflito. Subitamente se tornou um caos total no antigo vilarejo. Finarla liderou um grupo que conseguiu chegar até esta casa abandonada no meio do bosque que acabou se tornando a casa dela após reforma. Alguns outros grupos conseguiram chegar aqui, mas Finarla nunca encontrou de volta seu marido que sumiu durante o conflito e a fuga.

- Toda vez que chegava um grupo eu tinha esperança de encontrá-lo. Mas já fazem tantos anos que agora nem faz mais diferença. - Ela sorri para mim.

- Mas o que aconteceu depois então?

- Ah, sim. Chegamos aqui com uma mão na frente e outra atrás. Conseguimos sobreviver por um tempo caçando e colhendo frutos, mas chegamos no limite. Buscamos por vilas próximas e começamos a trocar por sementes e outros mantimentos que não conseguimos.

- Então deu certo?

- Por enquanto sim, mas então alguns soldados da Cidade vieram. Diziam que estávamos nas terras deles, mas que nos deixariam ficar se aceitássemos fazer negócio com eles. Estávamos fracos, não estávamos armados e fazia pouco tempo que fugimos de um conflito. Tivemos de aceitar as condições deles.

Que estranho. Soa como se fosse um contrato de ganho unilateral. Talvez seja minha memória do outro mundo que está atrapalhando no julgamento. À minha vista a Cidade ofereceu em troca o que um governo de um país ofereceria. Por que está soando tão mal?

- Senhora Finarla, por que a nossa produção de alimentos está na mesma quantidade a alguns anos, mas o pagamento à Cidade tem algumas grandes diferenças?

- Como?!

Sim. Eu percebi que o pagamento de "tributo", negócio proposto pela Cidade, deveria ser relativo ao alimento produzido na vila ou ter um valor fixado por categoria. Uma prática muito comum. No entanto a soma de várias remessas enviadas para a Cidade possuiam discrepâncias que não alinhavam nem com o nível de produção e nem era valor fixo por período.

Devido a essa discrepância a vila não conseguia produzir e manter alimento suficiente para todos. Nunca reclamei da comida nessa nova vida. Pensei ser o costume, mas ouvia que meu pai ia sair para caçada e pessoas carregavam caças até a casa da senhora Finarla, mas nunca vi um pedaço de carne na nossa mesa.

- Senhora. Estamos sendo roubados.

A Jogada de ThalliOnde histórias criam vida. Descubra agora