Capítulo 30 - Histórias Paralelas, parte 4

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Antes de mais nada, este capítulo marca uma divisão. 

Até agora as coisas vão "bem", mas como já é avisado... Nem sempre a aventura acaba bem. Espero que estejam preparados para os acontecimentos que se seguem a partir daqui. 

Para aqueles de coração fraco, cuidado. Para aqueles que se apegam rápido, mais cuidado ainda. Desejo-lhes sorte. Atenciosamente... Grugal Nightfrost.

☆☆☆

Sari estava de cócoras, de frente para aquele homem empoeirado, pegando um pedaço de grama e enrolando entre seus dedos até fazer um nó. Era engraçado ver um nó de grama em um dedo empoeirado e por isso, Sari ficava fazendo nós de grama nos dedos do homem empoeirado. Até agora, tinha feito nove e estava começando a fazer o décimo quando a grama nos dedos dele começaram a secar.

— Eu só queria brincar... 

O silêncio em resposta fez Sari se afastar um pouco e entrar em um lugar que outrora havia sido um quarto de criança. O lugar estava em pedaços, haviam alguns pedaços de madeira no chão que deveriam ter sido de uma cama e haviam algumas pegadas na poeira daquele lugar. Sari pisava em cima das pegadas e percebia que eram suas, mas não se lembrava de estar ali em muito tempo. Algo naquele lugar fazia um sentimento estranho subir pelo seu peito até chegar em sua garganta e formar um nó. Sari caía de joelhos no lugar e algumas lágrimas caíam de seus olhos, molhando seu rosto até chegar ao chão. Sari sentia um toque quente em sua perna e olhava devagar para ver um coelho de pelo cinza amarronzado respirando com dificuldade, e então observava que o animal estava ferido. Pelo jeito, estava ali já havia algum tempo, mas não entendia como não havia percebido a chegada dele ou como ele havia chegado até ali. 

— Vem aqui... Deixa eu ver...

Sari ainda estava chorando, mas pegava o coelho magro no colo e procurava a ferida que estava causando o sangramento até achar um pedaço de ferro, que arrancava com cuidado enquanto o coelho guinchava de dor. Sari jogava o pedaço de metal longe dali e passava a mão delicadamente na ferida do coelho.

— Eu também sinto dor... Mas não tenho uma ferida no meu corpo... Eu te invejo, coelhinho. Tá vendo? Você tá curado. Já pode ir embora...

Quando Sari terminava de falar, o coelho parava de guinchar e voltava a respirar normalmente pois a ferida já estava fechada, mas quando pulou do colo de Sari, não foi embora. O coelho ficou parado, olhando para aquele Legado que ainda chorava e pulou de volta em seu colo, se aninhando ali mesmo para a surpresa de Sari. 

— Quer ficar? Mas... O papai não vai deixar... - O coelho apenas se aninhou mais. — Tá bem... Mas não vai até ele, tá? Vou arranjar comida pra você...

Sari se levantou segurando o coelho e foi andando para fora daquela casa em escombros, procurando algo que fosse minimamente parecido com comida para o animalzinho, mas não conseguiu encontrar nada por ali. Então, foi para perto da fronteira das ruínas. Era a primeira vez que ia ali por conta própria e seu coração palpitava quase ritmado com o do coelho. Eles logo viam uma macieira perto da área das ruínas e umas pessoas estavam colhendo aquelas maçãs. Uma delas, uma criança, olhou para Sari que estava olhando de boca aberta para as maçãs grandes e vermelhas que estavam nos galhos daquela árvore. A criança se aproximou correndo de Sari carregando uma cesta cheia de maçãs.

— Oi!

— Oi...? - Sari olhava confuso para a criança.

— Você tá perdida? - perguntava a criança.

— Eu... Quero uma maçã... O coelho tá com fome... - Sari estranhava não estar conseguindo falar direito.

— Eu te dou algumas... Cadê seus pais?

Herança de Sangue - Parte UmOnde histórias criam vida. Descubra agora