Epílogo

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O som das grades de uma cela se fechando era talvez o último som que aqueles três gostariam de ouvir, mas nada podiam fazer. Ainda estavam um pouco grogues por conta da injeção de mofina que aplicaram em suas nucas e não conseguiam se mexer direito por causa das correntes que ligavam suas mãos, pernas e pescoços. Quando a venda era retirada, eles ainda demoravam um pouco a se acostumar com a iluminação fraca da cela e com os guardas os trancando ali. Eles podiam ouvir passos, mas não estavam sequer em condições de esboçar alguma reação.

— Finalmente, depois de tantos anos... Vocês voltaram para pagar pelo crime que cometeram. Mas não se preocupem, talvez consigam uma sentença um pouco menos pior que ser torturados, quem sabe até consigam morrer? Hahah!

Eles, por ainda estarem drogados, não conseguiam esboçar reação. Mesmo sabendo disso, aquele homem parecia não gostar de ver que eles não faziam sequer uma cara triste, de raiva, medo ou pavor e chutava as grades da cela furiosamente com a sola da bota. Mas um sorriso se formava em seu rosto quando via uma lágrima escorrer pelo canto dos olhos de Connor.

— Ora ora... Parece que ainda sabe chorar, rato. 

— Capitão, temos uma situação de emergência na cidade, precisamos da sua ajuda.

— Tá bem, eu já vou. - ele dá uma ultima olhada nos três ali e cospe no chão aos pés deles. — Eu volto logo pra terminar aqui. Espero que a sentença seja tão cruel quanto vocês foram, seus bastardos de merda!

E, com isto, ele sai do calabouço, deixando-os sozinhos e entorpecidos na cela fria e úmida. Um flashback se passava na cabeça dos irmãos relembrando as coisas que aconteceram naquela cidade quando eram pequenos e um sentimento de injustiça queimava em seus corações. Depois de pouco tempo, Rey voltava a conseguir se mexer e, mesmo que estivesse acorrentado daquele jeito, conseguiu se levantar cambaleando e ir até as grades para olhar nas outras celas. Não tinha muita gente ali, mas os que conseguiam ir até as grades tentavam olhar para dentro da cela deles. Ele continuava olhando até ver um outro experimento em outra cela, que pelo jeito tinha sido acusada de roubo pelo corte em sua mão que ainda sangrava. Quando ela olhava para Rey, ele desviava o olhar e tentava ajudar Connor e Cristine a se sentar na cela, já que eles estavam jogados lá dentro. Um carcereiro vinha entregar a comida deles e simplesmente jogava a bandeja dentro da cela, saindo de lá rindo. Rey pegava os pratos e ia separando a comida que não tinha tocado o chão, um punhado de arroz com um cheiro questionável e um pão pra cada um. A água dos copos se espalhava pelo chão e isso não teria como aproveitar. Ele percebia que eles estavam quase se recuperando da droga que injetaram neles e então dava pedaços pequenos de pão na boca de cada um para que comessem. Quando finalmente terminaram de comer, eles iam começando a se mexer aos poucos.

— Senhora Cristine, Senhor Connor... Por que estamos presos?

— Por uma coisa que eu fiz... - ele respondeu, tristemente.

— Não foi culpa sua. A gente vai sair daqui. Mas, Rey... Como você consegue se mexer tão bem com essas correntes?

— Costume... A antiga dona amarrava eu e meu irmão assim pra se divertir, acabei aprendendo a me soltar de cordas e a me mexer com isso. Mas o que o senhor fez?

Antes que Connor pudesse responder, um guarda chegou e chutou a grade da cela assustando Rey, o que fazia o guarda rir.

— Relaxem, vocês vão poder descansar... Depois do julgamento daqui a três dias! E sabem quem vai ser o juiz? Ah, eu acho que vocês lembram do que fizeram e quem vocês machucaram. Aberrações, era pra estarem mortos! E agora, escravizam também? - ele dizia olhando para Rey. — Ridículo! Vocês são péssimos, eu espero que a justiça acabe com vocês!

Herança de Sangue - Parte UmOnde histórias criam vida. Descubra agora