Como se fosse um aviso, os céus sobre aquele vilarejo começaram a despertar sua fúria com grandes raios cortando o céu e trovões tão fortes que quase dava para sentir a terra e as paredes vibrarem diante de tamanha violência. Uma chuva forte começou a cair, forçando as pessoas a correrem para dentro de suas casas e fechar os comércios. A maioria acendeu lamparinas dentro de suas casas, mas não era algo realmente necessário já que os relâmpagos faziam parecer que a luz do dia havia voltado. Crianças se agarravam aos seus cobertores que mais lhe traziam segurança, os que tinham medo do rugido do trovão abraçavam aqueles que lhes eram mais queridos para tentar sentir algum conforto e os que na rua moravam procuravam por um lugar mais protegido e oravam para suas divindades pedindo proteção para sair com vida daquela situação. E foi com o clima deste jeito que o grupo teve que pegar suas bagagens e correr o mais rápido o possível para dentro de uma pousada. O dono do lugar, um senhor baixo de meia idade com os olhos cansados e costas curvadas, se apoiando em uma bengala de madeira, se aproximou dos jovens que estavam completamente ensopados e batia do lado da perna de Drake com a bengala, assustando o rapaz.
— Não temos camas aqui! Vão embora!
— Mas senhor... É a única pousada no vilarejo! Deixa a gente ficar aqui até a chuva passar, pelo menos...
— Não! Sem quartos, sem hóspedes! Saiam, saiam!
— Nós podemos pagar. - disse Connor. — Diga um preço pra gente poder ficar pelo menos perto da lareira.
O senhor olhou o grupo de cima a baixo e voltou para o lugar onde estava antes, se esforçando para sentar em um banco por trás de um balcão.
— Cinco moedas de prata por cada! E quinze pelo escravo!
— Ele não é nosso escravo. - respondeu Cristine, um tanto quanto brava.
— Então trinta! Não gosto dessa raça.
Drake suspirou e colocou uma moeda de ouro no balcão do velho, que arregalou os olhos antes de pegar a moeda e morder para ver se era verdadeira. Ele deu um sorriso malicioso e apontou para a lareira ali próxima.
— Vou trazer algo quente pra vocês comerem. Por um adicional, claro. Fiquem à vontade, viajantes. Mas cuidado pra não sujarem o tapete! Minha mulher ama essas coisas! Vai ficar uma fera se vocês sujarem.
— Senhor... - disse Rey. — Poderia trazer um chá de sabugueiro?
— Pra você é mais caro!
— Desculpa senhor, eu procurarei o meu lugar... Mas não é pra mim, é pra eles...
O velho resmungou alguma coisa que ninguém, exceto Rey, entendeu. Eles queriam falar umas verdades para aquele velho rabugento, mas o pequenino os impediu.
— Tá tudo bem... Experimentos são tratados assim em todo lugar, eu sou acostumado com essas coisas. - ele saiu do onde estava e se deitou perto da lareira. — Hmmmm... Quentinho.
Rey ficou em silêncio por um tempo, deitado próximo da lareira enquanto o clima entre os outros estava relativamente tenso. O caminho talvez não tenha sido tão bom assim e os assuntos foram incômodos, o que se juntou à chuva e ao desânimo do cansaço. Uma pessoa encapuzada entrava na pousada, andando como se estivesse carregando um grande peso em suas costas, mas trazia apenas uma maleta em sua mão. Ele se debruçava sobre o balcão e chamava por um nome, mas sua voz estava tão afetada que parecia mais que ele tinha emitido um gemido de dor. O grupo olhava para a pessoa com estranheza e ele os encarava de volta, por tempo o suficiente para todos ali ficarem incomodados. Logo, o velho que havia atendido os aventureiros voltou com uma certa pressa, voltando para a sua cadeira atrás do balcão.
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Herança de Sangue - Parte Um
FantasyNem sempre uma boa aventura começa bem. Nem sempre ela termina bem. Mas a verdade, é que não existem aventuras boas ou ruins, apenas aventuras. E esta... Bem, esta é uma aventura. Talvez a felicidade espreite pelas páginas desta história, mas talve...