Herança de Sangue - Parte Um

Capítulo 1 - Maio, 1927

Os campos de trigo estavam brilhando dourados como ouro no nascer do sol. Uma brisa suave balançava a plantação, fazendo com que ondas douradas se formassem pelos campos. Observando a movimentação do trigal, Drake respirava fundo e suspirava, lembrando que, neste dia, ele faria dezesseis anos e não tinha motivos para comemorar. Para ele, que fora abandonado pelo pai, perdeu a mãe muito cedo e seu irmão mais velho estava sumido há anos, seu aniversário não era motivo para comemoração. Talvez eu passe o resto do dia aqui, pensava ele. Ninguém vai sentir minha falta mesmo...

– Drake Ulter, esse é seu nome? – perguntou uma voz estranha, cansada e forte, vinda de trás dele.

– É um pouco rude não se apresentar, não acha? – Disse Drake, sem desviar o olhar do campo, por mais incomodado que estivesse.

– Ah, claro, onde estão meus modos? Meu nome é Undin. Eu estava procurando você pela cidade. Tenho dois presentes que mandaram te entregar.

– Quem mandou? Eu não costumo receber presentes. – Disse ele virando o rosto na direção da voz, cruzando os braços, e vendo o homem pela primeira vez.

O dono da voz era um senhor de meia idade, com cabelos brancos bem cortados e penteados para trás. Vestia uma roupa um tanto comum, mas estava com um sobretudo acinzentado por cima dos ombros. Seu olhar era cansado, mas por trás daqueles olhos azuis, Drake podia sentir uma força de vontade que não condizia com aquele corpo.

– Eu não sei quem mandou, mas me instruíram a te procurar e dar esses presentes a você. Também me mandaram te ofertar um trabalho, mas apenas no alvorecer do dia seguinte ao seu aniversário. Bem... meus parabéns, senhor Ulter. Lhe encontrarei mais tarde.

O homem deixou dois embrulhos próximos a Drake e saiu andando. O que será?... Talvez uma piada de mau gosto... pensava ele enquanto abria os embrulhos. O primeiro e menor embrulho, continha um colar com um pingente de dragão esculpido em metal negro, com olhos de rubi. Ele colocou o colar, sentindo que era bem leve, mas o escondeu dentro da camisa. O segundo embrulho era um cupcake, que na cobertura dizia "Feliz 16 anos". Drake suspirou e comeu o cupcake enquanto voltava para casa, pois o sol já começava a subir e ele tinha trabalho a fazer.

                                                                                                    ★★★

Ao voltar para Vilter, ele foi direto para a casa onde morava sozinho, tomou um banho rápido, vestiu suas roupas e se olhou no espelho. Seus cabelos encaracolados estavam bagunçados, seus olhos castanhos continuavam com olheiras, mas ele parecia bem e saudável.

– Muito bem, Drake. É só um dia como outro qualquer.

Ele respirou fundo e saiu de casa, trancando a porta e indo em direção à biblioteca. Por estar usando calça, coturnos e uma camisa preta com mangas longas mesmo em um dia quente, ele atraía alguns olhares das pessoas, que se afastavam dele até o mesmo entrar na biblioteca.

– Bem vindo, Ulter! – Dizia uma mulher com longos cabelos negros que lhe caíam pela cintura. – Chegou um pouco tarde, tem muitas prateleiras pra limpar!

– Já estou indo senhora Clever. – Drake suspirava e pegava o espanador de penas, indo para a primeira estante e subindo na escadinha para limpar as prateleiras de cima.

– Parece chateado, o que houve?

Drake parava de espanar por um tempo e olhava para ela. Apesar de chamar ela de senhora, Cassandra Clever, a dona da biblioteca, aparentava ter 25 anos no máximo. Estava sempre com um sorriso gentil no rosto e seus olhos brilhavam por trás dos óculos com armação arredondada que usava e, apesar de ter um corpo esbelto, usava sempre um longo vestido cor de turmalina azul. Logo, ele voltava a espanar.