Desta vez, as carruagens que Undin havia mandado para os levar em segurança até Arath fazia um caminho com trilha suave, com poucas árvores rodeando a estrada de terra batida e com um vento morno agitando as cortinas da porta do veículo. Toda a experiência daquele local havia deixado marcas profundas, muito mais profundas em uns que em outros, mas ninguém saiu dali como era antes de entrar. Connor estava mais calado que antes e olhava pela janela com um olhar apático, como se estivesse perdido em pensamentos, tanto que só entendeu que Drake estava chamando por ele muito tempo depois.
— Hm?
— Tem certeza de que não quer dar uma parada pra sair um pouco daí?
— Tenho.
— Se quiser, posso falar pra trocar de lugar com a Cristine e o Rey.
— Não precisa, tá tudo bem.
— Eu não sei o que você viu lá, mas-
— Não precisa se preocupar, Drake. Eu estou bem. Só preciso processar o que aconteceu.
E, dito isto, passaram boa parte da viagem em silêncio. Connor não queria admitir, mas ele sentia que alguma coisa dentro dele se quebrou naquela cidade. Era horrível não saber o que estava sentindo e ter a sensação de não estar sentindo nada. Algumas daquelas coisas realmente aconteceram e ele sabia disso. Outras, eram só o medo dele tomando forma. Ele olhou de soslaio para Drake, que estava entretido escrevendo no seu diário. Ele sempre fazia isso. Sempre escrevia no diário quando paravam pra fazer algo que demorasse. Aquilo já estava se tornando rotineiro, mas naquela tarde quente, Connor se sentiu incomodado. O que ele está escrevendo que não mostra a ninguém? Ele se perguntava, até que Drake olhou para cima por um instante e percebeu o olha de Connor sobre ele.
— Algo errado?
— O que você está escrevendo?
— Um diário da viagem pra mostrar pra minha amiga.
— Hm. E o que está escrevendo nesse exato momento?
— Que saímos vivos de Arath.
— Esse tempo todo escrevendo só isso?
— Eu coloquei alguns detalhes... E tô revisando também. As vezes, revisar demora mais que escrever. Você acha algumas palavras escritas erradas, vê uma frase que ficaria melhor de outra forma e refaz... As vezes falta paciência, mas tem que ser feito.
— Entendo.
E a viagem se seguiu em silêncio mais uma vez. Connor ficava observando Drake escrevendo, parando pra ler, riscando algo e voltando a escrever novamente. Ele ficava levemente curioso para saber o que estava sendo marcado naquelas páginas, mas também não iria perguntar.
— Sabe Connor... - disse Drake, de repente. — Eu não consigo nem imaginar o que você viu naquela noite... Mas dá pra ver que você é uma pessoa muito forte. A senhora Clever tinha me falado uma vez sobre os Pesadelos e bem... Eu sempre soube que se fossem pegar pesado comigo, eu não ia resistir. Você foi forte, enfrentou eles, saiu vivo de uma situação que poucas pessoas conseguiriam resistir... Fico feliz que sejamos amigos.
— E por quê isso agora?
— Porquê é verdade.
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Herança de Sangue - Parte Um
FantasyNem sempre uma boa aventura começa bem. Nem sempre ela termina bem. Mas a verdade, é que não existem aventuras boas ou ruins, apenas aventuras. E esta... Bem, esta é uma aventura. Talvez a felicidade espreite pelas páginas desta história, mas talve...