Aquela floresta era silenciosa. Por décadas, os mercadores a utilizavam pelo fato de ser silenciosa e pacífica, com pouquíssimos casos de salteadores e, mesmo com os salteadores, ficava fácil de descobri-los. Porém, a mais ou menos vinte e quatro anos, uma certa quantidade de feras selvagens começaram a aparecer e ocasionalmente romper o silêncio e a paz deste lugar, forçando os mercadores a abrirem uma nova rota para seus assuntos. Mas não era esta nova rota a que Drake tomou. A Rota das Feras, como ficou conhecida, era no consentimento geral mais rápida que a rota mercantil por ser uma linha direta para a cidade mais próxima ao Norte, embora sem dúvida nenhuma, a mais perigosa.
Quais serão as feras da Rota das Feras? Pensava Drake. Ele sempre teve curiosidade em descobrir o que havia ali, contudo dessa vez não estava esperando encarar nenhum monstro, mas sim chegar rápido até a cidade onde deveria se encontrar com Undin.
– Aliás, por que Tormin? Ele já estava lá comigo em Vilter, não faz muito sentido...
Drake falava sozinho como se a resposta fosse aparecer no ar. Mas tudo o que veio pra ele nada mais foi do que mais e mais silêncio. Parecia que a floresta ainda dormia. Ele passou algumas horas andando em linha reta, sem parar para descansar ou para beber água. Estava muito empolgado, era sua primeira viagem, mesmo que fosse curta e nem o barulho de árvores caindo o tirava de sua rota. Até que uma árvore tombou bem à frente dele, o que fez ele cair pra trás, sentado. Logo, o garoto olhou para o lado de onde a árvore tinha caído e notou que outras também estavam caídas ao redor.
– Mas... O quê?
Drake logo se levantava e começava a procurar pelo que causou essa derrubada, seguindo o rastro de destruição e árvores caídas. Talvez seja uma das feras ou um lenhador maluco, pensava ele até que ouviu um choro sentido de cachorro, porém era muito, muito alto pra um cachorro comum. Ele então respirava fundo. Talvez estivesse perto da primeira fera que via em sua vida! Então por ter ouvido o choro de cachorro, logo procurou se esconder a favor do vento para que seu cheiro não chegasse nessa fera e ia de árvore em árvore, se escondendo atrás de seus troncos robustos e altos, até que conseguiu visualizar uma pata enorme de cachorro com pelo negro e pequenas garras muito afiadas, então ele ousou olhar um pouco mais, saindo um pouco de trás da árvore e conseguiu ver aquilo. Drake fez uma cara de completo espanto e surpresa, estando abismado por ver aquela criatura imensa ali, em meio a várias árvores derrubadas.
– Um... Um... Um... Um cérbero?! – Drake exclamou, um pouco mais alto do que deveria.
O cérbero então percebeu a presença dele. Suas três cabeças de rottweiler olharam para ele ao mesmo tempo. Embora as duas cabeças laterais fossem negras, a do meio tinha o pelo acima da cabeça branco e essa coloração ia até o meio de suas costas. Drake estava assustado, mas maravilhado com o que estava vendo e isso o paralisou. Só que havia algo estranho, a aparência das cabeças pareciam ser de filhotes, mas filhotes ameaçadores que começaram a rosnar e logo o cérbero se levantou e deu um passo mancando em direção a Drake, rosnando para ele. No total, o cérbero devia ter pelo menos dois metros e meio de altura.
– Mancando? – Drake finalmente conseguiu falar após ver que estava sendo ameaçado. – Por que está mancando? É algum problema na pata?
Drake falava de nervoso, mas também de curiosidade. As três cabeças se aproximaram mais do garoto e começaram a farejá-lo, então a cabeça do meio lambeu Drake bem rápido. Apesar de ter sido uma única lambida, ele ficou ensopado de baba de cérbero, mas então ele tentou colocar devagar a mão no focinho dessa cabeça, ao que as outras duas rosnaram para ele.
– Calma, eu não vou fazer mal a vocês! Eu posso olhar a pata pra ver o que está fazendo vocês mancarem?
As três cabeças se afastaram do rapaz, uma ainda rosnava para ele, enquanto a do meio parecia estar com um sorriso com a língua de fora e a outra o encarava bastante. Mas logo o cérbero se virou, ao que Drake achou que ele ia embora, então o corpo do grande animal tombou para o lado se deitando e causando um pequeno tremor, balançando a pata da frente que estava mancando. Só então ele percebeu que era para olhar o que tinha na pata, então o jovem foi correndo até lá e viu que tinha um pedaço de madeira bem grande bem no meio da pata dele. Drake segurou o pedaço de madeira com as duas mãos.
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Herança de Sangue - Parte Um
FantasíaNem sempre uma boa aventura começa bem. Nem sempre ela termina bem. Mas a verdade, é que não existem aventuras boas ou ruins, apenas aventuras. E esta... Bem, esta é uma aventura. Talvez a felicidade espreite pelas páginas desta história, mas talve...