Capítulo 40 - Destinos Divergentes

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Koran saía da pousada e caminhava para o hospital, pois agora já sabia que quem ele precisava encontrar estava lá. Ser um Legado tinha suas vantagens, no final das contas. Se bens materiais fossem algo que ele estivesse atrás, com toda certeza estaria muito rico, mas não era como uma de suas irmãs. Esses pensamentos o divertiam enquanto ele entrava no hospital sem ser notado por ninguém, procurando o rapaz na enfermaria até que encontrou uma prancheta na frente de uma cama escrito "Drake Ulter, 16". Um sorriso se formou em seus lábios enquanto se aproximava do rapaz e tocava sua cabeça, mas algo o repeliu com tamanha força que seus dedos enegreceram. Uma sensação estranha e uma cara de descrença se misturaram em Koran, que resolveu tomar medidas drásticas. Ele tocou no peito de Drake e deu um leve impulso com a mão, então todo o cenário ao redor se modificou. Estavam agora em uma gruta e ele sorria com satisfação. Seja lá o que fosse que o repeliu, não impedia uma habilidade de transporte que ele trabalhou muito para desenvolver, sequer precisava ter habilidades suficientes para adentrar o Véu, só precisava basicamente de concentração.

- Vamos fazer seu coração ressoar e ver o que tem escondido aí.

Koran fechava os olhos e tocava o peito de Drake novamente. Como pelo jeito não ia conseguir adentrar as memórias dele, ia fazer o seu feitiço de ressonância soar. Em questão de poucos segundos, figuras embaçadas começaram a surgir ao redor de Koran. Ele não conseguia ver os rostos, mas conseguia sentir o peso que cada um ali trazia no coração do rapaz. Tudo o que ele lutava para esconder, tudo o que ele sentia por eles, tudo o que não era demonstrado, nada que estava no coração era segredo para Koran.

- Bem... Vou fazer ele falar quando acordar. Vocês, ressoantes, venham comigo. Tenho um trabalho pra cada um de vocês.

★★★

Demorava algumas horas até que Drake abrisse os olhos. Sua vista estava embaçada, mas ele percebia que não estava mais no hospital, sentindo o chão duro sob suas costas e uma brisa fria com cheiro estranho. Ele tentava se sentar, seu corpo estava dolorido e ele tocava em algo úmido com a ponta de seus dedos. Era estranho, mesmo pra um sonho, ter uma sensação tão vívida assim. Ele esfregava os olhos com as costas da outra mão pra sua vista voltar ao normal e quando olhou para o lado, preferia mesmo que fosse um pesadelo. Ele mordeu a mão que não estava suja com muita força pra tentar acordar, mas de nada adiantava, afinal, já estava acordado. Mas a dor que sentia em sua mão não era nada se comparado com a dor que sentia ao ver o corpo de Rey ao seu lado, com sangue escorrendo de uma ferida em seu pescoço e ainda com marcas de lágrimas em seu rosto. Drake se levantava e dava a volta na poça de sangue do jovem experimento e se abaixava, pousando tremulamente a mão no corpo dele, até que ouviu uma voz que o fez cair sentado no chão, com medo.

- Triste, não é? Ele morreu tentando te defender. Será possível? Você não consegue se proteger e ainda arrasta uma criança pra morrer no seu lugar? Patético. Você não merece a amizade nem a lealdade dele.

Drake não sabia de quem era aquela voz, mas sentiu uma dor imensa em seu coração. Era medo. Medo disso tudo ser verdade, medo de, novamente, não ter conseguido fazer nada. E também, tristeza. Nada disso podia ser real, ele não queria que fosse. Mas logo ouvia uma voz familiar que chamava seu nome, vinda de trás dele. Ele se virava devagar até ver Cassandra, se apoiando na parede usando o vestido que costumava usar, uma das lentes de seu óculos estava trincada e ela estava ofegante.

- Por todos os Deuses... Finalmente consegui... Te achar... - ela dizia ofegante.

- Senhorita... Clever? O que está fazendo aqui?

Ele tentava se levantar, mas não conseguia. Cassandra dava mais alguns passos para perto dele e caía ajoelhada. Ela tossia sangue e caía de cara no chão, mas ainda se arrastava pra perto dele. Drake estendia a mão para ela e, quando finalmente conseguiam tocar a ponta dos dedos, ela caía inerte. Ele começava a dizer não repetidas vezes enquanto se arrastava até ela para tentar ao menos virar o corpo da mesma e fazer massagem cardíaca. Ele tinha certeza de que ela estava sem conseguir respirar novamente. Mas quando a virava, seus olhos já estavam começando a ficar vidrados e seu rosto começando a empalidecer. Ele continuava dizendo não desesperadamente enquanto tentava reanimá-la, mas tudo o que conseguiu foi ouvir um estalo vindo de suas costelas. Ele parou em choque olhando para o corpo sem vida da sua primeira amiga de verdade e começou a tremer. Lágrimas subiram aos seus olhos e ele se jogou contra a parede da gruta tentando se afastar, até que ouviu a voz novamente.

Herança de Sangue - Parte UmOnde histórias criam vida. Descubra agora