A caravana onde o grupo havia ficado estava tomando o rumo da cidade de onde haviam partido para o templo Ushi. Eles contavam com seis comboios para o transporte de materiais, principalmente tecidos, para vender e trocar. Apesar de bondosos, os mercadores daquela caravana retiraram as armas dos aventureiros para diminuir os riscos, afinal, quatro jovens esfarrapados saindo do antigo caminho até o templo Ushi podia não ser boa coisa. Também designaram um dos mercenários contratados para proteger a caravana para ficar de olho no grupo. Ele usava uma máscara que cobria sua boca, nariz e metade do seu rosto, deixando apenas seus olhos e cabelo exposto. E ele não parava de olhar o grupo, ficando de braços cruzados em cima do cavalo que seguia a parte do comboio onde estavam, ficando a observar principalmente Connor e Cristine. E isso incomodava a garota, de forma que ela pegou um cobertor da mochila para se cobrir. Suas roupas rasgadas poderiam estar chamando uma atenção indesejada. Connor também observava o homem que os seguia, tendo a sensação de que ele lhe era familiar de alguma forma, mas não entendia o porquê disso. Só sentia uma sensação ruim. Drake estava pensativo e não parava de passar a mão onde Nasha havia quebrado alguns de seus ossos, parecia se certificar de que ainda estava inteiro e que isso tudo não era um delírio pré-morte. Angelo estava agitado. Ele passava a mão no rosto, querendo saber se a marca havia sumido, mas até agora ninguém havia percebido isso. Talvez os irmãos tivessem se acostumado com esse hábito, mesmo sem perguntar o porquê. Apesar de tudo, a viagem estava sendo tranquila, mesmo que o tédio estivesse começando a afetar.
— Ela me curou, Drake? - perguntava Connor em determinado momento.
— Não acho que devemos falar sobre isso agora... - ele dava uma olhada de leve para fora do comboio. — Tentem dormir um pouco. Vocês precisam de descanso.
— Tá bem.
Connor abraçava Cristine pra ela se encostar no peito dele e ele fechava os olhos. Cristine demorava um pouco mais, olhando pra Drake. Ela podia sentir que algo o estava incomodando, mas não achava que eram íntimos o suficiente pra perguntar. Depois de um tempo, ela fechava os olhos para dormir. Eles estavam realmente cansados. Depois que eles dormiram, Drake pegou o seu caderno e na meia luz do crepúsculo começou a escrever. Angelo olhava para ele e suspirava, acabando por chamar a atenção do garoto.
— Incomodado com algo?
— Ainda estou com a marca, não estou?...
— Sim. Ela continua aí no seu rosto.
Angelo suspirava novamente e cruzava os braços. Dava para ver que ele estava chateado, afinal, arriscou sua vida, lutou com muito fervor e passou por uma experiência de quase morte pra salvar seu amigo e, ainda assim, continuava com a marca em seu rosto. Drake passava a mão no ombro dele, deixando o caderno de lado.
— Você vai conseguir se livrar disso, não se preocupe.
— Não sei, Drake... Talvez eu esteja correndo atrás do impossível.
— Acho que está encarando sob uma perspectiva errada.
— Perspe o quê?
— Perspectiva. Quer dizer ponto de vista.
— Aaaaah... E com qual perspectiva você olharia pra algo que te impede de ficar com seus pais no seu lar com pessoas que gostam de você? Longe da sua casa, com a certeza de ser assassinado por uma pessoa importante pra você se chegar perto de lá?
— Eu não tenho como saber. Não tenho pais, não vejo meu irmão a anos e as únicas pessoas na minha cidade que gostam de mim são uma criança e uma bibliotecária que está no hospital. Minha casa não era tão boa assim. Mas eu entendo seu ponto de vista. Desculpe por minimizar sua dor.
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Herança de Sangue - Parte Um
FantasyNem sempre uma boa aventura começa bem. Nem sempre ela termina bem. Mas a verdade, é que não existem aventuras boas ou ruins, apenas aventuras. E esta... Bem, esta é uma aventura. Talvez a felicidade espreite pelas páginas desta história, mas talve...