Drake acordava devagar, uma hora mais cedo que o necessário e logo se levantava, se sentando na cama ouvindo o barulho da chuva que batia na sua janela. O dia anterior parecia ter sido um sonho estranho mas ele sabia que tinha acontecido. A pulseira e a carta de Cassandra ainda estavam ao lado da sua cama, assim como aquele colar que Undin havia entregado.
– Vamos Drake. É só um dia como outro qualquer.
Logo ele se levantava e ia tomar seu banho e se aprontar para ir para a biblioteca, mas antes, ele coloca o colar de novo o escondendo dentro da camisa e colocava a pulseira, que dessa vez não emitia nenhum brilho. Ele estranhava isso, mas logo deixava pra lá, pois não podia se atrasar. Então, antes de ir para a biblioteca, ele se olhava no espelho. Suas olheiras não pareciam ter melhorado, ele estava novamente de calça e camisa de manga longa, além dos coturnos, mas agora estava com um casaco com capuz, que cobria os seus cabelos.
– Um dia como outro qualquer.
Ainda pelo espelho, ele conseguia ver o embrulho que Undin havia deixado lá. Por mais que estivesse curioso, resolveu não o abrir, então colocou ele no bolso interno do casaco e foi para a biblioteca, sem o guarda chuva. A biblioteca não era muito longe da sua casa e por ser um dia chuvoso tinham poucas pessoas na rua para o encarar de forma estranha. Ele estava grato por isso. Logo, ele chegava à biblioteca, entrando lá e tirando seu casaco, que estava ensopado, pendurando ele em um cabideiro. Então ele sentia o cheiro do bolo e dos brigadeiros.
– Bom dia senhora Clever!
Drake disse com um pequeno sorriso, mas não obteve resposta e um silêncio que parecia interminável se instalou nos poucos segundos em que ele esperou pela resposta.
– Senhora Clever?
Ele não obteve resposta novamente e logo correu para o primeiro andar da biblioteca, que era onde Cassandra morava. Ao lá chegar, ela estava caída no chão, imóvel. Drake se desesperou e correu em direção dela, se abaixando e tocando o rosto dela enquanto colocava dois dedos na sua jugular. Para seu alívio, ela ainda tinha pulsação e estava quente. Mas não estava respirando. Drake logo começou a fazer respiração boca a boca nela, até que ela começou a respirar com dificuldade, abrindo os olhos devagar.
– Dra... Drake... – Ela falava com dificuldade. – O que... Aconteceu?
– Você não sabe? Eu cheguei aqui e você não estava respirando! O que aconteceu Cassandra?
– Eu não sei, eu... Tinha colocado a cobertura no bolo e aí quando dei por mim você já estava aqui...
Drake suspirava, lembrando de outro apagão como esse que ela tinha tido há dois anos. Segundo ela, sempre acontecia, mas que não era nada pra se preocupar. Mas da última vez, ela não tinha parado de respirar. Cassandra notava o olhar preocupado de Drake pra ela e sorria, recolocando os óculos.
– Não se preocupe, eu vou pro hospital. Mas só pra você tirar essa cara de preocupado, viu?
– Obrigado Cassandra... Tente se cuidar mais, nem sempre vou estar aqui e você sabe disso não é?
– Sei sim, mas você não precisa se preocupar! Ou você acha que eu vou morrer tão fácil?
Cassandra dava uma risadinha, mesmo vendo que Drake não tinha gostado da brincadeira, então eles se levantaram e ela mostrou pra ele o bolo de cenoura com cobertura de chocolate e os brigadeiros que tinha feito. Ele a parabenizou com um brilho no olhar e eles passaram a manhã comendo e trabalhando na biblioteca, que estava especialmente movimentada naquele dia. As pessoas pareciam continuar o evitando, menos uma menininha de cabelos brancos e olhos verdes que sempre chegava perto dele entregando um livro. Drake havia descoberto a algum tempo que ela era muda, mas que aprendeu a língua comum por conseguir se comunicar com o pensamento, então ela sempre pedia pra ele ler algum livro pra ela e a mãe da menina parecia não se importar muito com isso. O livro que ela pediu pra ele ler era o do patinho feio, então ele começou a ler o livro pra ela e ela sempre o interrompia fazendo perguntas sobre o patinho, que ele respondia pra ela com muita paciência. No final do livro, ela deu um abraço nele e desejou um feliz aniversário mentalmente pra ele e saiu correndo pela biblioteca até achar sua mãe. Quando a biblioteca ficou menos movimentada, Drake viu o embrulho dentro do seu casaco. Ele o pegou e se sentou em uma das mesas de leitura, observando o pacote. Isso chamou a atenção de Cassandra, que foi flutuando até ele.
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Herança de Sangue - Parte Um
FantasyNem sempre uma boa aventura começa bem. Nem sempre ela termina bem. Mas a verdade, é que não existem aventuras boas ou ruins, apenas aventuras. E esta... Bem, esta é uma aventura. Talvez a felicidade espreite pelas páginas desta história, mas talve...