Capítulo 26 - Pesadelos da Cidade Amaldiçoada, parte 1

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A noite passava bem devagar. Vários trechos da história que Drake contou pareciam ecoar naquele lugar. A brisa fria não ajudava a acalmar os ânimos daqueles dois jovens que estavam de vigia, muito pelo contrário: o frio só os fazia ficarem ainda mais nervosos com o que poderia vir a acontecer a seguir. O som das portas e janelas rangendo e batendo ocasionalmente completava a atmosfera sombria daquela noite nublada em uma cidade amaldiçoada. O jovem de olhos dourados constantemente olhava para os que estavam dormindo e de novo para fora, enquanto o jovem de cabelos brancos andava de um lado para o outro, olhando pelas janelas e pela porta com sua espada em mãos. Ele estava muito agitado e dava para ver que os nós de seus dedos estavam ficando vermelhos de tanto que apertava o cabo da espada.

— Angelo, relaxa um pouco a mão.

— Hm? Ah! - ele trocava a espada de mão e agitava a outra um pouco. — Não gosto desse lugar. E ouvir essa história não ajudou em nada.

— Tem certeza?

— Claro! Não tem como lutar contra algo que a gente não pode ver!

— Você sabe que tem gente que não enxerga e que ainda assim, luta. Não sabe?

— É, mas eu não nasci nem estou cego. Eu preferia que fosse um orc ou algo do tipo.

— Nossa, mas você é burro mesmo né?

— Vai me chamar de burro assim, de graça?

— Não lembra que vocês mesmos falaram que aquele tal de Undin disse que era uma história inventada? Então pra quê o medo?

— Porquê o Undin não é confiável.

— Se ele não é confiável, por qual motivo vocês aceitaram essas coisas dele?

— Eu tenho meus motivos. - respondeu Angelo secamente.

— A marca. É, sabemos. Mas não acha que se jogar de cabeça em coisas que podem te matar é algo estúpido e não heróico?

— Eu não tenho que explicar nada pra você. - disse Angelo virando as costas e indo olhar a janela de novo.

Connor suspirou com um pouco de raiva e se levantou.

— Vou olhar o lado de fora. Cuide deles.

E, antes que Angelo pudesse fazer ou falar qualquer coisa, Connor saía da casa. A escuridão daquele local, o vazio, a desolação, a tensão e o medo o faziam lembrar de outra época... Quando esteve separado de sua irmã, que era sua única família. Foi um dos períodos mais difíceis da sua vida. Doía lembrar disso, mas agora ele só conseguia lembrar daqueles momentos ruins e de tudo o que passou sozinho, sem a pessoa que representava agora a única família que possuía. Por algum motivo, lágrimas vieram aos seus olhos e ele parou de andar. Olhou para cima enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto, agradecendo pela escuridão não deixar que ninguém o visse chorar. E, quando finalmente estava se acalmando, ouviu uma risada.

— Quem está aí??? - ele perguntou, com a voz trêmula.

Mas não ouviu uma resposta sequer da escuridão que o rodeava além do som das batidas de portas e janelas das casas abandonadas e do seu próprio coração, que parecia que ia saltar pela boca. Ele deu um passo para trás, segurando sua alabarda e sentiu algo como um toque macio e gelado percorrendo suas costas, que causou um arrepio indescritível. Instintivamente, ele se virou e estáticas douradas de eletricidade percorreram a lâmina de sua alabarda, apenas para que ele pudesse enxergar uma garotinha que o olhava assustado... Uma garotinha pálida, de olhos azuis e longos cabelos loiros acinzentados. Ele não acreditava em seus olhos, só conseguia tremer e observar aquela figura, até que ela deu um passo em sua direção.

Herança de Sangue - Parte UmOnde histórias criam vida. Descubra agora