— Dominus.
Era a última coisa que ouviam antes que tudo ficasse escuro novamente, tão escuro que a luz emitida pela espada de Angelo não parecia mais do que um pequeno vagalume à distância na escuridão. Visão e audição ficaram confusos naquele lugar, palavras dispersas eram ouvidas, quase que como um clamor distante, apesar deles estarem todos juntos. A luz de Angelo era a única coisa que eles conseguiam enxergar e todos se aproximavam do jovem enali. Rey, que ainda conseguia se guiar pelo faro, tentou gritar que voltou a sentir o cheiro dele, mas era inútil. Nenhum som conseguia chegar direito aos ouvidos de ninguém ali, nem ele mesmo conseguia ouvir o que tinha acabado de gritar, e talvez, só então, se deram conta da enrascada em que tinham se metido naquela noite. Dominus, uma única palavra mas com tanto poder. Eles estavam agora sob influência do poder de Olhos da Ceifeira, em um lugar completamente controlado pelo conjurador, um dos nove poderes considerados proibidos em todo o mundo, que somente uma pessoa tinha autorização para utilizar pois cuidava para evitar a fuga de prisioneiros no Exílio. E, justo naquele lugar, naquele momento, encontraram mais um usuário deste poder. E estavam contra ele. Qualquer um que tivesse o mínimo conhecimento sobre está habilidade já saberia o que isso significa: morte certa. Até a noção do tempo ficava confusa ali, eles não sabiam a quanto tempo estavam naquele estado, todos se segurando em Angelo, que parecia tremer. Logo, ouviram uma voz... A voz de Olhos da Ceifeira, que parecia vir de todos os lugares e lugar nenhum.
— Vocês podiam ter me deixado em paz quando tiveram chance... Ele é tão importante assim pra vocês?
Todos tentaram responder, mas era como se aquela escuridão sufocasse suas vozes. Logo, eles sentiam como se estivessem se afogando naquilo, não conseguiam respirar e todo o ar que puxavam não chegavam aos seus pulmões. Angelo, que ainda empunhava sua espada firmemente, sentia como se várias mãos estivessem segurando e puxando seus braços e pernas para tentar o derrubar, mas também não conseguia se mexer para tentar se livrar, então decidiu se forçar a se manter de pé, o que estava sendo cansativo de várias maneiras, já que também estava se sentindo sufocado. Era como se eles todos estivessem se afogando em um mar de escuridão infinita onde não havia escapatória, apenas o terror eterno em um lugar frio, vazio e sem vida.
— Era tão simples... Ficar fora do meu caminho e não me incomodar. É difícil pra vocês? É tão difícil fingir que não notou que alguém sumiu assim? - eles ouviam um suspiro. — Agora vocês vão ter que pagar.
Angelo apertava o cabo da sua espada com toda a sua força enquanto tentava gritar, sentindo que sua pele estava quase se rasgando com a força que ele colocava para que seu poder fluísse por todo o seu corpo, até que chegou o momento em que suas veias começaram a saltar e todas estavam brilhando refletindo a luz em seu corpo. Os que estavam segurando nele o soltaram, pois sentiam suas mãos queimando e agora conseguiam enxergar a silhueta de Angelo, mas ele parecia muito diferente do normal. Estava parecendo mais alto, mais forte, oito asas de luz brotavam em suas costas e um semi círculo se formava acima acima da sua cabeça, girando lentamente e crepitando de energia. O meio elfo agora se sentia mais livre e golpeava aleatoriamente à frente, até que sentiu sua espada cravar em algo. Ele puxou a espada e canalizou toda essa energia para a lâmina, golpeando novamente o que havia acertado e todos conseguiram enxergar que uma rachadura começava a se espalhar pela escuridão, como se eles estivessem dentro de uma cúpula que o garoto à sua frente havia acabado de quebrar. Ele usava toda sua força para arrastar a espada para o lado enquanto gritava soltando todo o ar de seus pulmões e toda a estrutura sombria se quebrava enquanto ele caía de joelhos, respirando fundo com certa dificuldade. Todos agora conseguiam ouvir o som de algo como vidro tricando e quebrando até toda a escuridão desaparecer e começar a cair como flocos de neve que desapareciam antes de tocar qualquer coisa no lugar. Enquanto eles tentavam se acostumar à meia luz das velas naquele quarto já que estavam quase cegos por conta da explosão de poder de Angelo, perceberam que o quarto estava diferente. Olhos da Ceifeira estava de joelhos na frente de Angelo, com a mão na barriga que estava dilacerada, como se um pedaço tivesse sido arrancado e queimado, ainda assim vertendo uma grande quantidade de sangue e em um canto do quarto havia uma figura assustada, sem roupas e trêmula que estava encolhida no canto, abraçando as próprias pernas em posição fetal, se balançando rapidamente para frente e para trás enquanto chorava. Olhos da Ceifeira encarava Angelo friamente enquanto ele a olhava com raiva.
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Herança de Sangue - Parte Um
FantasyNem sempre uma boa aventura começa bem. Nem sempre ela termina bem. Mas a verdade, é que não existem aventuras boas ou ruins, apenas aventuras. E esta... Bem, esta é uma aventura. Talvez a felicidade espreite pelas páginas desta história, mas talve...