6. Anne

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Quem me mandou mensagem foi Jerry, e as mensagens deixavam claro todas as intenções dele. Ele tinha armado toda aquela briga para que Diana pudesse sair de casa, imaginou que ela viria atrás de mim e então colocaria seu plano em prática. Eu tinha ido em outro cômodo para responder sem levantar suspeitas e quando voltei, Diana chorava apoiada no ombro de Gilbert. Ele me olhou com um olhar que dizia "socorro, não sei como lidar com essa situação!"
Me ajoelhei ao lado dela no chão onde eles estavam sentados apoiados no sofá.
— Di, o que houve?
— Eu não sei, eu não sei Anne! Eu amo tanto ele, porque ele não quer casar comigo?

Vendo como ela estava mal, pensei em contar tudo. Mas não queria arruinar a surpresa.
— Calma, Diana... — a puxei de um modo que ela ficou entre minhas pernas e com a cabeça apoiada no meu ombro e de costas para Gilbert. — Calma, shhh... Tudo vai se acertar, eu prometo!
Quando olhei para Gilbert novamente, ele falou sem reproduzir nenhum som:
— Ela não estava brava?
Respondi com uma balançada no ombro livre.
— Desculpa gente... Meus hormônios estão muito alterados.
— Ah, eu entendo - respondi
— Não entende não.
Como assim eu não entendia? Será que ela lembra que eu também tenho hormônios que ficam uma bagunça uma vez por mês?
— Se tem alguém que não entende sou eu!
— Você não perde uma piada hein, Gilbert. Mas como assim eu não entendo, Diana?
— Você nunca teve os seus hormônios bagunçados por alguém dentro de você!
— O que?!
— O que?!
— Eu nem ia contar assim, mas já tá tudo tão fu...
— Diana, não ouse dizer um palavrão! Tem um bebê na sala!
— Gilbert!
Eu odiava e amava essa mania dele de tornar momentos tensos em tópicos para gracinhas e piadas. Mas... Diana realmente estava grávida? Como eu não notei nada e porque ela não me contou? Não éramos as amigas mais próximas do mundo como antigamente mas achei que ainda éramos ligadas fortemente, tanto que quando ela brigou com Jerry eu fui a primeira que ela procurou. "Calma, Anne", pensei. Ela só podia não estar pronta, ou podia ser muito recente.
— De quanto tempo você está? - perguntei.
— Não sei... Uns dois meses.

Eu ia falar sobre o que estava acontecendo quando a campainha tocou, eu já sabia quem era então me levantei em um pulo rápido (tomando cuidado pois Diana ainda estava apoiada em mim), e fui abrir a porta. Quem estava do outro lado era um Jerry arrumado, cheiroso e que tinha um buquê de flores vermelhas e brancas e uma caixinha preta quadrada nas mãos.
Diana o viu de longe e tentou disfarçar a cara de choro, limpando as lágrimas enquanto se levantava.
— Oi meu amor... Desculpa ter feito isso — ele a abraçou quase que como um pedido de desculpas, encostei a porta e fui para o lado de Gilbert que tinha se levantado com uma expressão perplexa.
— Você sabia disso, Shirley? - ele perguntou em um sussurro.
— Cala a boca, ele vai falar!
— Eu só precisava de tempo pra comprar algo e planejar o que eu ia falar. Confesso que você me pegou de surpresa, mas eu nunca duvidei por um momento que você é a mulher da minha vida e que eu quero passar o resto dos meus dias com você.
Ele entregou as flores e com a mão livre, pegou a mão livre de Diana, a puxando pra perto lentamente enquanto falava.
— Tudo que eu disse era mentira, eu não me importo de assumir riscos por você. Se noivarmos agora e não der certo, eu não vou me importar de tentar reconquistar você a cada dia até conseguir... É bobagem pensar nisso, a gente se dá tão bem que não dá pra imaginar a gente simplesmente cansando um do outro! Você é uma parte de mim e basta um dia longe pra eu ver como você é essencial nos meus dias, é... Eu... Eu nem tenho as palavras certas pra dizer o que você significa pra mim. Mas eu amo você, Diana.

Diana chorava tanto, que tentou responder um "eu te amo" que saiu em forma de um sussurro rouco.
— Eu amo você, e quero passar o resto da vida com você, e formar uma família com você, realizar meus sonhos ao seu lado e tudo que a gente tiver direito de viver junto. Eu quero tudo com você. Então... — ele se ajoelhou — Diana Barry, você aceita se tornar minha mulher, e permite que eu te ame tanto quanto o sol é quente e enquanto ele estiver brilhando?
Já que Diana não estava conseguindo falar, ela só assentiu com a cabeça que sim, Jerry se levantou e a beijou colocando o rosto dela entre as mãos, então pôs o anel em seu dedo.
— Eu falei! Eu nunca quebro uma promessa!
Eu abracei Diana e Jerry. Era muita loucura imaginar que eles iam se casar, eu e Diana passamos a nossa infância fantasiando sobre nossos maridos e planejando nossa suposta vida perfeita, agora ela estava noiva e ia ter um filho, quanto tempo eu dormi? Eu conhecia Jerry não havia muito tempo, mas eu sabia que ele era um bom homem, e que faria bem para Diana. Eu estava feliz por eles, eles se amavam e se pertenciam de uma forma que eu nunca presenciei na vida real.

Quando os noivos foram embora, o sol já estava se pondo.
— Parece que não vai dar tempo a gente assistir o pôr do sol no parque né, Gil?
— Foi por uma boa causa — ele disse levantando do sofá e vindo em minha direção — Esses dias eu tô me dando conta do quanto a gente cresceu, ruiva. Nossos amigos já casando, tendo filhos, e a gente...
— O pôr do sol é muito bonito na sua janela. A gente pode ver de lá.
Falei tentando encerrar o assunto e subi as escadas rapidamente, escutando os passos arrastados de Gilbert atrás de mim. Eu sabia onde ele queria chegar com aquela conversa, mas eu não ia permitir. Não agora.
Nos aproximamos cada um de uma janela do quarto, a visão dali era de tirar o fôlego, o céu se misturava em tons de laranja e lilás e azul claro, e um azul celeste começava a aparecer no horizonte. Fechei os olhos e respirei fundo, o ar gelado que invadiu meus pulmões e os últimos raios de sol do dia me fizeram lembrar de que eu estava viva.
Senti Gilbert se apoiar no parapeito ao meu lado e apoiar a cabeça no meu ombro, cruzando nossos braços. Tratar de alguns assuntos com ele havia se tornado desconfortável, mas o seu toque e a sua presença ainda continuavam significando calmaria para mim.

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