O cheiro de carne assando pairava por todo o meu quintal, a fumaça perto da churrasqueira embaçava a minha visão. Ainda assim, eu conseguia ver Anne e Diana conversando de longe. Meu pai cortava carne ao meu lado, e pediu para eu prestar atenção para não queimar nada.
— Não acredito que meu único filho vai casar, já estava na hora, hein.
— Demorou, mas o dia chegou.
— Espero que já esteja planejando encher minha casa de netos!
— Então, pai. Sobre isso...
— Blythe! — uma voz feminina me chamou, só percebi quem era quando virei.
— Winifred, você veio!
— É claro! Anne atendeu a porta para mim. Não ia perder isso por nada.
— As coisas que você fala podem ser mal interpretadas facilmente.
— Quem pode ser mal interpretado? — Davy perguntou, chegando subitamente e deixando alguns pratos sobre a mesa.
— Eu! — Winifred respondeu.
— Ah, legal — ele parecia desligado — Anne disse que quer conversar com todo mundo depois, aposto que ela vai dar pra trás com o noivado.
— Não pode uma coisa dessa! — Moody chegou na roda, segurando Iris pela mão.
— Não é isso, parem de doideira — respondi.
— Já sabem o que a Anne quer falar? — Jerry perguntou, se juntando às pessoas que se aglomeravam ao meu redor.
— Vocês estão me sufocando, por acaso estão querendo um autógrafo?
— Eu quero! — Cole gritou.
— Você veio...— Davy se dirigiu a Cole com um sorriso bobo.
— Se estiverem tentando sufocar o Blythe, eu ajudo com prazer.
— Nathalie, quando você chegou? — perguntei.
— Tô aqui faz tempo, e você?
— Você é bem engraçada, certeza que vai se dar bem com a Winifred — apontei para Winifred.Winifred e Nathalie se cumprimentaram, timidamente. A conversa delas começou em assuntos triviais como "de onde você é?", "o que faz da vida?". Logo pude observar de longe que elas riam como se não fosse a primeira vez que elas se vissem.
— Blythe me chamou para ser madrinha — Nathalie comentou.
— Sério? Por que ele também me chamou.
— Resolvam isso no pedra papel e tesoura, ou simplesmente sejam duas madrinhas, estamos no século 21, acordem!
Deixei elas lá e fui interromper a conversa de Anne e Diana, que estavam sentadas na sombra do deck.
— Quando você vai contar? — perguntei, sentando ao seu lado.
— Meu pai e Nancy não chegaram ainda, eles foram buscar um monte de gente. Meu tio—avô Matthew, vó Marilla, tia Bethany, tio Clyde...
— Quantos tios você tem? Só tenho um e ele não pôde vir.
— Vários, agora espera.Quase não percebi que Diana segurava a filha nos braços, até que o bebê começou a chorar.
— Você realmente ensinou ela a me odiar? Nunca duvidei, mas achei que iam demorar alguns anos.
— Não brinco em serviço, cunhadinho. — eu conhecia muito bem aquela entonação de "estou brincando, mas nem tanto" — A última vez que vim aqui, nós fofocamos sobre o Jerry não querer casar comigo, olha como a gente está hoje! 7 meses passaram como anos...
— Falando em fofoca... — puxei a cadeira para mais perto delas — Davy e Cole estão juntos?
— Eu acho que sim. — Anne comentou. — Josie me contou que ela e Davy tiveram um namoro de fachada uns anos atrás, mas eu nunca imaginei que fosse fachada.
— Acho que eles não são coisa recente — Diana falou, balançando a cabeça — Anne devia perguntar.
— Eu?!
— É! — eu e Diana falamos ao mesmo tempo.
— Você é prima dele — completei.
— A gente não fala dessas coisas, mas uma hora ele vai me contar.
— Tomara que o gene de fofoqueiro do Gilbert não vá pro filho de vocês.
— Filha.— corrigi — Se não tiver meu gene de fofoqueiro, vai ficar sem o melhor de mim.
— Se esse é o melhor, imagina o pior — Diana riu.
— Tomara que a Labelle não tenha seu gene de linguaruda.Quando os incontáveis Shirley—Cuthberts chegaram, Anne chamou todos com o pretexto de "bater uma foto". Ela posicionou o celular em uma cadeira improvisando um tripé, e apenas eu percebi quando ela apertou o botão de gravar invés do que ativaria o temporizador.
— Ok, se juntem! — ela me puxou pela mão, nos levando para a frente de todos — No 3 digam "Anne está grávida", 1, 2...Alguns queixos caídos depois, uma gritaria eufórica começou. A primeira pessoa a abraçar a Anne foi seu pai, seguido pela minha mãe. Foram longos minutos de comemoração e desejos de felicidade até que todos estivessem em seus ânimos normais novamente.
— Papai, hein! — Nathalie chegou em mim, rindo, e acompanhada por Winifred.
— Você me chamando de papai é uma imagem que eu quero esquecer urgentemente.
— A gente está de saída, papai. Estamos indo fazer "coisas de madrinha"!— Winifred brincou.
— Já estão amiguinhas? Aposto que estão indo rir de velhinhas ou roubar doces de crianças.
— Não seja tão ríspido, papai — Nathalie parecia meio bêbada, mas ela era assim naturalmente. As duas foram embora rindo.
Cole veio até mim parecendo preocupado.
— Você viu o Davy?
— Não, por que?
— Os pais dele estão aqui, ele está meio... Chateado.
— Ah, claro. Isso acontece nas melhores famílias. Se eu ver ele, eu te aviso. A propósito... Vocês estão juntos?
— "Somos só amigos" — ele falou, tentando me imitar. Claramente estava tentando me zoar.
— Haha, muito engraçado.Encontrei Davy poucos minutos depois de seus pais. Deduzi isso pelas expressões dele, que pareciam divididas entre alguém que estava deixando de ficar aborrecido, ou se aborrecia aos poucos.
— Queríamos ter reagido de outra forma. — a voz da mulher soava calma, com a mesma suavidade que tocamos em uma ferida recente tentando não magoá-la. O homem mais velho, o único não ruivo entre os três, apenas consentia com a cabeça. — Foi um choque para nós, meu filho... Mas ainda temos nossos braços abertos pra você. Queremos que volte para casa, sentimos muito sua falta.
— Sua mãe está certa — o homem finalmente disse alguma coisa — Você faz muita falta em Toronto. Se eu pudesse voltar no tempo, teria tentado te entender.
— Sinto falta de casa. — Davy falou — Existem mil coisas que preciso pôr no eixo na minha vida, mas... Claro que vou voltar pra casa.
A conversa acabou em um abraço de reconciliação.Achei que fosse impossível, mas deitar ao lado de Anne naquela noite proveu um sentimento novo. Eu estava adormecendo com a mão sobre sua barriga, e foi inevitável pensar em quanta coisa a gente já tinha vivido juntos, e quanta coisa a gente ia viver na nova fase da nossa vida. Ela virou de frente para mim e me despertou passando a mão no meu gosto.
— Sabe o que eu tava com vontade de comer?
Ia ser uma longa fase...
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aposta infantil.
FanfictionAnne e Gilbert sempre foram amigos desde crianças, e um dia fizeram a seguinte aposta: "Se não estivermos com ninguém daqui 20 anos, vamos nos casar com o outro". Eles só não sabiam que o tempo iria passar tão rápido. "- Você sabe que não quebro pro...