27. Gilbert

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Eu poderia afirmar com toda a sinceridade do mundo que:
1— Eu amava passar tanto tempo com a minha namorada.
2— Entretanto, eu sentia muita falta do trabalho.
Mas isso estava prestes a mudar. Depois de provar que eu não bati o carro por ser um bêbado irresponsável e me recuperar totalmente do acidente, fui autorizado a voltar para a delegacia. Já no caminho, eu conseguia sentir a adrenalina de estar no comando de uma equipe, solucionar problemas e principalmente, também sentia o alívio de não ter que lidar com o detetive Gardner que me encarava com nojo sempre que eu passava pela sua mesa.
As manhãs de sol não são frequentes no Canadá, e quando elas aparecem nos vemos na obrigação de aproveitar a luz e o calor, então, naquela manhã eu e Anne fomos para os nossos respectivos trabalhos em uma caminhada com passos relaxados enquanto conversávamos. O ritmo dos nossos pés estava sincronizado e nossas mãos estavam entrelaçadas, enquanto conversávamos, seu polegar acariciava minha mão.

— Tava tão linda, Anne!
— Gilbert Blythe! — ela falava rindo — Se você postar mais alguma foto minha dormindo eu juro que vou destruir tudo que você ama, vou tomar tudo que você tem, vou acabar com você!
— Destruir tudo que eu amo... Haha. Vai se autodestruir, Anne? Se quiser tomar alguma coisa de mim pode levar meu coração, mas ele já é seu.
— Que clichê terrível — ela falou quando chegamos em frente a delegacia, colocando os braços em meus ombros.
— Eu amo você, sol.
— Amo você também, lua — ela falou se aproximando para me beijar, mas fomos interrompidos.
— Blythe! Finalmente você voltou!

Nathalie Flores, me substituiu por um tempo e me ajudou de várias formas. Uma boa policial e uma boa amiga, acredito que seja boa em tudo que faça.
— Eu não aguentava mais, o Müller é muito incompetente e eu não tenho um pingo de paciência! — ela me abraçou forte, mas quando percebeu Anne logo atrás de mim, me soltou, aderindo uma expressão intimidada.
— Bom dia, Anne. Como vai?
— Bem, obrigada...
Era uma situação estranha, Anne parecia incomodada, Nathalie parecia incomodada, eu não sabia o que fazer. Bem, Nathalie era boa em tudo o que fazia, inclusive quebrar o gelo fazendo piadas sem noção, mas ela era péssima em disfarçar a queda enorme que ela tinha pela minha namorada.
— Blythe, você conhece a Anne melhor do que eu. Então me diz, esse é um olhar de ciúmes?
— O que? Eu... Eu não... — Anne ganhou um tom vermelho vivo em suas bochechas.
— Sim, Nathalie. É ciúmes — falei rindo.
— Fica tranquila, Anne. A única coisa que me atrai no Blythe é a capacidade dele de calar a boca. Seria mais fácil eu estar afim de você do que dele. Enfim, vou deixar vocês se despedirem melhor. E Gilbert, tem uma coisa que você precisa resolver — ela falou naturalmente e deu as costas, deixando Anne sem reação e eu com uma enorme vontade de rir.
— Que vergonha, Gilbert...
— Ela é assim, não liga.
— Preciso ir.
— Tenha um bom dia, meu bem. Te vejo em casa — finalmente consegui beijá—la, então, cada um seguiu seu caminho.

— Então, qual o problema? — me aproximei da mesa de Nathalie.
— Senta aí, Blythe. Preciso te contar uma coisa.
— Se for me contar que você tá caidinha pela Anne, nem precisa.
— Não é isso... Mas depois pergunta a sua namorada se ela tá solteira, por favor.
— Pode deixar.
— Não é esse o ponto, é sobre o Gardner que eu quero falar.
Senti meus músculos ficarem tensos.
— Ele morreu?
— Infelizmente, ainda não. Ele vai ser encaminhado pra prisão de Charlottetown às 3, essa tarde. Mas disse que antes de ir precisa falar com a Anne.
— Como assim ele não foi preso ainda?
— Ele estava no hospital por causa dos tiros que dei nele. Agora que se recuperou vai cumprir 4 anos de prisão.
— Não vou deixar ele ver a Anne de jeito nenhum.
— Ele disse que vai se recusar a cooperar se não ver a Anne antes de ir.
— Não é problema meu.

Dei as costas e fui para a minha mesa, mal percebi que meus ombros estavam tensos só de imaginar Anne tendo que ficar cara a cara com aquele homem de novo.
Claro que ele não ia ver ela, eu não permitiria. Era eu quem ele ia ver.
Mesmo já tendo dado uma surra nele, ele provavelmente ainda não tinha noção da repulsa que causava, e eu fazia questão de deixar bem claro.
— Nathalie?!
— Oi?
— Onde ele está agora?
— Algemado em uma sala de interrogatório do último andar, por que?
Me levantei sem responder e fui em direção ao elevador, ela correu atrás de mim.
— O que vai fazer?
Ela parou do lado de fora e eu segurei a porta.
— Vai vir ou não?
— Se for pra ver você descendo a porrada nele de novo, claro!
— Não pretendo fazer isso... Só se for necessário.
— Provavelmente vai ser.
A porta abriu e eu caminhei pelos corredores, espiando as janelas de vidro procurando por Roy.
— Aqui — Nathalie disse, indicando uma sala — Não faz besteira, Gilbert... Mas se precisar bater nele, faça o que tiver que ser feito.

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