Na segunda-feira, fiquei de buscar Winifred no hospital para sairmos.
Sobre Anne, tentei não deixar as coisas esquisitas. Eu não tinha o direito de ficar bravo ou com raiva dela, nem podia cobrar nada já que éramos — apenas — amigos acima de tudo, e eu não podia afastá-la de mim de maneira alguma, ela era a pessoa mais importante da minha vida.Entrei pela porta do hospital com a cabeça abaixada olhando para o celular, na tela eu procurava o número de Winifred para avisar que estava lhe esperando. Quando guardei o celular no bolso, uma mão no meu ombro me virou subitamente.
— O que você tá fazendo aqui?
— Anne? Você por aqui?
— Eu meio que trabalho aqui agora! — ela disse levantando os ombros e as mãos — Não precisava vir me buscar, Gil.
— Te buscar? Ah, Anne, eu... eu...Fiquei sem graça de explicar o real motivo de estar ali mas nem precisei, Winifred se juntou a nós enquanto eu passava os dedos na minha nuca e gaguejava sílabas tentando formar palavras.
— E aí, vamos? — Winifred falou.
— Ah... Ah! — Anne pareceu ter entendido tudo, não tentei ler sua expressão naquele momento pois aquilo me afetaria negativamente — Eu falo com você depois, Gil! Boa noite, Winifred.
— Então vamos!
Winnie pareceu confusa, mas tentou ignorar aquilo enquanto saíamos.A noite com Winifred foi incrível. Ela era bonita mas não era só isso, ela era interessante e muito — muito — charmosa. Fiquei reparando nas suas manias a noite toda, ela botava a mão no rosto para rir, mexia no cabelo enquanto me escutava falar, estava sempre olhando no meu olho (quando eu digo sempre, é sempre. Menos quando ela sorria, pois ela sorria olhando para baixo.)
— Então... Medicina, hein? — perguntei-lhe após alguns instantes de silêncio.
— Você quer mesmo falar de trabalho?
— A gente já falou de todos os assuntos que eu consigo pensar, já te falei até do meu gato que fugiu quando tinha 9 anos porque a Anne puxou o rabo dele. Mas você tem razão, não vamos falar de trabalho.
— Não pensa nela?
— Nela quem?
— Anne. Disse que falou de tudo que conseguia pensar, mas não falou dela ainda — ela falou tomando um gole da sua bebida em seguida.
— Por que eu falaria dela?
— Vamos lá, Gilbert. Sou adulta, você é adulto. Vamos pular essa parte, eu vi o jeito que você ficou todo nervoso quando cheguei perto e ela estava lá.
— Eu não...
— Gilbert!
— Tudo bem. Ela é minha melhor amiga de infância, sabe? E é só isso, fizemos uma aposta infantil boba mas isso já faz muito tempo.
— Aposta?
— Sim, de que se não estivéssemos com ninguém em 20 anos, nós ficaríamos juntos.
— E quanto tempo falta pra esses 20 anos terem passado?
— Não sei bem. 3 meses, talvez? Mas não importa, ela namora e eu estou... explorando as possibilidades.Winifred riu, talvez por eu ter comparado ela a uma "possibilidade"
— Ok, senhor possibilidades. Já entendi tudo. Você ama ela mas ela não te ama, então você está tentando esquecer ela... comigo! — ela levou as mãos ao queixo e sorriu, fechando os olhos e dando uma risada em seguida.
— Algo na sua bebida tirou seu filtro ou você é sempre assim?
— Fica tranquilo, isso não é um problema pra mim. Acho que é melhor nós falarmos sobre isso logo do que você ficar se enganando pensando que está me enganando.
— Ok... Eu não...
— Não teríamos algo sério nem se quiséssemos, a residência não me dá tempo pra viver. Mas podemos nos divertir juntos, gostei de você. E de quebra podemos fazer um ciúme na Anne, vai que ela entra no jogo e larga o... Qual o nome dele?
— Namorado da Anne? Roy.
— Minha nossa, tem ódio na sua voz quando você fala o nome dele... Enfim! Vai que ela entra no jogo e larga o Roy pra ficar com você!
— Acho que você já bebeu demais...
— Que nada! Me conta, qual nossa próxima oportunidade para aparecermos juntos na frente dela?Aquilo parecia loucura, eu saí com uma garota para esquecer a Anne e essa mesma garota está tentando me fazer ficar com ela. Universo, o que você está fazendo?
Se eu seguisse o raciocínio da Winnie, ela estava certa. Tentar conquistar a Anne diretamente nunca havia dado certo — para mim, pois de alguma maneira Roy conseguiu —, então eu tentaria conquistá-la indiretamente.— Ação de graças na minha casa, talvez.
— Olha, vai dar tudo certo. Confia em mim, mulheres gostam do que não podem ter. Por que acha que fiz medicina?
— Porque era seu sonho? Sua vocação?
— Não, bobinho. Eu queria fazer engenharia, mas um dia olharam para mim e disseram: "Ainda bem que você não quer ser médica, acho que não conseguiria" e tã-dã! Estou no último ano da residência.Winifred era uma mulher incrível, ela não permitiu que eu me sentisse mal por "usar" ela para provocar Anne dizendo que aquilo tinha sido idéia dela. Talvez não tivéssemos formado um casal, mas com certeza eu havia saído no lucro por ter feito uma amiga como ela.
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aposta infantil.
FanfictionAnne e Gilbert sempre foram amigos desde crianças, e um dia fizeram a seguinte aposta: "Se não estivermos com ninguém daqui 20 anos, vamos nos casar com o outro". Eles só não sabiam que o tempo iria passar tão rápido. "- Você sabe que não quebro pro...