18. Anne

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No dia seguinte, o clima de natal estava totalmente ausente na minha casa. Meu pai e Nancy tinham viajado passar o natal em NY juntos, então éramos só eu, meu pote de sorvete e minha Netflix aquele ano.
Pelo menos seria, até ouvir uma batida na porta.

— Gilbert?!
— Eu mesmo, a gente pode conversar?
— Claro, quer entrar?
— Não posso, estou meio apressado pra um... compromisso.
Exibi uma expressão desconfiada, mas ao invés de o questionar, apenas encostei o ombro na parede e esperei que ele começasse a falar.

— Então... sobre ontem. Eu sei que ficou chateada, eu quero me desculpar por ter causado toda aquela situação — ele falava gesticulando, pra ser sincera, era fofo — principalmente em uma data que eu sei que é importante pra você. A noite tinha tudo para ser agradável e amigável, e eu estraguei. Você desculpa esse pobre homem que só quer que as coisas não fiquem estranhas entre ele e a melhor amiga dele?

O encarei por alguns segundos, reprimindo um sorriso que se mostrava aos poucos. Era engraçado ver Gilbert naquela situação, implorando para que eu o desculpasse por algo que eu nem mesmo estava ligando.
— Ele mereceu, Gil.
— Eu sei! Ele chegou lá todo... Não, espera. Você não tá brava?
— Nem um pouco, ele mereceu. Eu só fiquei um pouco chateada, eu que queria socar a cara dele e você foi lá e fez isso primeiro, achei injusto.
— Essa é minha garota! Eu juro, Anne. Só de pensar que ele podia ter te machucado de alguma forma.... — ele travou o maxilar, deixando claro que estava tomado de raiva por Roy.
— Era só um arranhãozinho, olha, nem dá mais pra ver.

Ele segurou meu rosto delicadamente, chegando mais perto. Nossos olhos se encontraram enquanto ele via a finíssima linha que havia embaixo do meu olho esquerdo, aquilo me causou um calor nas maçãs do rosto.
— Que bom. Eu tenho que ir agora, solzinho.
— Onde vai? Natal com a Winifred? Deveria ter se vestido melhor se vai conhecer os pais da namorada.
— Primeiro, eu e a Winnie não namoramos. Segundamente, o que eu estou indo fazer é muito mais legal que conhecer os pais da namorada e eu nem preciso me adequar a alguma norma de vestimenta pra isso.
— Esse último tópico está bem evidente.
— O que você tem contra calça jeans surrada e camiseta de desenho? Essa aqui só tem três buracos.
— Sério, como você se tornou sargento tão novo sendo assim?
— É o meu charme. Quer me acompanhar?
— É claro!

Em um piscar de olhos eu já havia fechado a porta e estava o seguindo a pé pelas ruas, o clima estava um frio agradável que passava a sensação de aconchego, principalmente por estar envolvida pelo braço de Gilbert que estava sobre meus ombros.

— Então, o cara foi atrás de você? — ele perguntou, se referindo a Roy.
— Depois que eu cheguei em casa, ele me ligou. Disse que estava muito bravo, mas que ainda gostava de mim e que queria conversar depois.
— E o que você disse?
— Que não queria conversar com ele, e que preferia que não conversássemos mais.
— Então vocês terminaram?
— Tecnicamente, mas não vamos falar disso. Onde estamos indo?
— Esquina da 202 com a Avenida principal.
— Você tá me levando pra um point de prostituição?
— Claro que não! Hoje é natal, Anne! Talvez no ano novo...
— Fala sério!
— Vamos ficar por aqui mesmo.

Ele se sentou em um banco de praça que ficava em frente a um hotel bem iluminado e eu sentei ao seu lado de frente para ele com as pernas cruzadas. Ele apontou para um prédio que estava atrás dele, aparentemente abandonado, que ficava duas esquinas dali.
— Aquele prédio vai ser invadido hoje pela minha equipe, se eu estiver certo, ele é usado como ponto de drogas.
— Veio assistir uma invasão policial na noite de natal?
— Invasão policial na noite de natal podia ser o nome do nosso romance natalino.
Olhei para ele com um olhar torto, ele tinha sorte que as brincadeirinhas dele não me afetavam mais, ou pelo menos eu tentava fingir.

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