Cole, Davy e Anne caminhavam no aeroporto, sentindo o aperto da despedida chegando precocemente.
— Você vai fazer falta aqui, Davy. — Anne disse, segurando as mãos do primo — Volta logo, hein!
Ela o abraçou de lado pois sua barriga, que já a fazia se sentir uma lua cheia, jamais a permitia abraçar alguém de frente.
— Vou deixar vocês se despedirem. Boa viagem, insuportável.
Anne saiu, deixando Cole e Davy sozinhos.
— Você tem mesmo que ir? — Cole perguntou.
— Sim, mas você sabe que vou voltar. Acha mesmo que eu seria capaz de ir embora simplesmente dando um ponto final em tudo que vivemos nos últimos meses?
— Você vai ficar ofendido se eu disser que sim?
— Cansei de ficar reafirmando que eu sou alguém diferente de quem eu era quando te deixei da primeira vez. Achei que você tivesse entendido e me perdoado.
— Desculpa, Davy.
— Vem aqui. — Davy o puxou para um abraço — Já deixei claro que amo você, certo?
— Certo.
— Volto antes da neve derreter, prometo.
Eles se despediram com um beijo demorado, que escandalizou vários transeuntes que estavam por ali. Quando Davy deu seus primeiros passos em direção ao portão de embarque, a mão do seu namorado ainda segurava a sua.Cole dirigiu de volta para casa pelas estradas cheias de neve com Anne ao seu lado.
— Você acha que ele vai voltar mesmo?
— Para com isso, Cole. — ela parecia um pouco irritada — Ele já te disse várias vezes que vai voltar, por que não acredita nele?
— Que bicho te mordeu?
— Nenhum... —Anne suspirou — É só um pouco de dor.
— Essas crianças não estão querendo nascer no meu carro, estão?
— Claro que não.
— Depois que a filha da Diana quis nascer no altar, nada me surpreende. Você não quer que eu te leve pro hospital?
— Não. Gilbert não está por perto, posso ir pra casa e esperar ele chegar, não se preocupa.
— Onde ele está?
— Do outro lado da cidade. Coisa de trabalho, ele não quis explicar.Do outro lado da cidade, Gilbert estava em um quarto de hospital vendo Roy Garder em seu leito de morte.
— Pode explicar de novo o que aconteceu? — Gilbert pediu ao enfermeiro que estava no quarto.
— Ele precisou de algumas cirurgias para corrigir a estrutura do nariz depois de uma briga, a fratura foi tão feia que ele só conseguiu respirar pela boca por uns meses. Na última cirurgia, ele acabou tendo uma complicação por... entrar em outra briga no pós operatório — o homem falou com incredulidade na voz.
— Não consigo acreditar! — Gilbert tentava não sorrir, pois aquilo seria cruel.
Roy abriu os olhos inchados e roxos, parecendo assustado ao ver Gilbert.
— O que ele está fazendo aqui? — Roy perguntou.
— Não esperava me ver, amigo? Fui informado que você estava com o pé na cova, achei importante te fazer uma última visita.
— Vai embora, seu verme.
Roy parecia acabado, como se seu último sopro de vida estivesse prestes a abandonar seu corpo.
— Não vou te fazer nenhum mal, você mesmo se causou isso. Só vim dizer que você poderia ter se dado bem, Roy. Mas você tentou estragar minha felicidade, tentou estragar a felicidade de Anne, e não conseguiu. Você não imagina a satisfação que eu sinto em te ver nessa situação, enquanto eu vou sair daqui e ir para casa ver a minha esposa e aguardar a chegada de dois filhos, você provavelmente vai sair daqui em um saco preto.
Lágrimas de ódio se acumulavam nos olhos de Roy, ele mal conseguia falar.
— Te vejo no inferno, detetive — ele falou ao deixar o quarto.Quando Gilbert se acomodou no banco de seu carro, seu celular tocou em seu bolso.
— Anne? Já estou indo pra casa.
— Melhor se apressar. A situação está progredindo rápido por aqui, se é que você me entende.
— Não entendo.
— A bolsa, Gilbert. Contrações, entendeu agora?
— Ah... Ah, meu Deus. Você está sozinha? Vou pedir a Winifred que vá te fazer companhia, você está bem?
— Eu estou. Dirige com cuidado, mas se apressa.
Gilbert ligou para Winifred e dirigiu pelas estradas nevadas, tentando manter a calma.Alguns minutos depois, Winifred e Nathalie chegaram na casa de Anne, limpando a neve de seus cabelos e casacos.
— Vocês duas? — Anne perguntou.
— Nathalie estava na minha casa, acho que ajuda é sempre bem vinda nessas situações — Winifred respondeu.
— Onde está o Blythe? — Nathalie perguntou.
— Não sei — Anne respondeu antes de gritar pela dor de uma contração.
— Seria ótimo te levarmos para um hospital, mas meu carro nunca vai atravessar essa neve — Winifred disse.
— Nem o meu. Provavelmente Anne acabaria tendo os gêmeos no carro se tentássemos sair daqui no meu carro.
— Tudo bem, vamos manter a calma. Se não der tempo de Gilbert chegar...
— Não diga isso! — Anne gritou — Ele não pode perder o nascimento dos nossos filhos, Winnie.
— Tudo bem, tudo bem — Nathalie pareceu um pouco assustada. — A gente vai esperar ele chegar.Winifred fez uma checagem rápida em Anne e percebeu que talvez precisasse realizar um parto de gêmeos em uma sala de estar, mas não quis desesperar Anne. Elas ligaram para Gilbert e deixaram o telefone no viva voz, Gilbert fez o mesmo, possibilitando assim que eles mantivessem a comunicação.
— Onde você está? — Anne perguntou.
— Chegando, meu amor. Por favor, faz o que a Winnie pedir, ela sabe o que está fazendo.
— Não fale comigo como se eu fosse criança!
— Só estou te aconselhando.
— Não se sinta atacado. — Winifred falou, se aproximando do telefone — Quão mais fortes as contrações, mais ela vai descer os níveis de xingamentos direcionados a você. Então se prepare.
— Vou tentar.Os minutos passavam como horas, as dores de Anne aumentavam e Gilbert tentava a tranquilizar pelo telefone. Cada vez mais, Winifred se preparava físicamente e psicologicamente para trazer gêmeos ao mundo.
— Não posso esperar mais — Anne falou, suando e ofegante.
— Blythe, quão longe você está? — Nathalie perguntou, nervosa.
— Perto, mas não precisam esperar por mim!
As garotas foram capazes de ouvir os pneus de Gilbert acelerando na estrada.
— Tudo bem, Anne. Nós temos duas opções, podemos esperar uma ambulância para te levar pro hospital ou fazer isso aqui e agora — Winifred falou, tentando transmitir a calma que nem ela mesma sabia se sentia para Anne.
— Só faz isso acabar logo — Anne parecia estar perdendo suas forças.
— Amor — Winifred chamou a atenção de Nathalie, que estava com as mãos juntas provavelmente fazendo preces —, preciso que me ajude. Procura toalhas limpas e estereliza uma tesoura, esteja a postos caso eu precise de alguma outra coisa.Anne, já deitada no chão da sala, se recusava a fazer força pois Gilbert não estava ali ainda.
— Anne, você precisa! — Winnie implorou.
— Não posso!
— Já estou vendo o cabelo de um deles, preciso que me ajude.
— Você está vendo muitas coisas aí embaixo, eu quero esperar um pouco mais!
— Não precisa mais esperar. — Nathalie falou, ao ver Gilbert estacionando na frente de casa — Ele chegou.
Ele correu pela calçada e entrou em casa com agressividade, temendo ter perdido alguma coisa.
— Tudo bem, tudo bem, eu cheguei!
Ele foi para trás de Anne, a encaixando entre suas pernas, segurando suas mãos e beijando o topo de sua cabeça.
— Quase perdeu o nascimento dos seus próprios filhos, Blythe. O que a Anne viu em você a ponto de aceitar casar contigo? — Nathalie perguntou, em tom de brincadeira.
— Ela perdeu uma aposta — ele respondeu, rindo.
— Eu diria para corrermos para o hospital, mas o primeiro já está saindo. Anne, precisa fazer força.Anne apertou a mão de Gilbert tão forte a ponto de ouvir um estalo. Ele sussurava coisas em seu ouvido que a faziam se sentir segura e davam-lhe força para dar a luz.
Às 16:23, veio ao mundo Ben Blythe, pesando 3,200kg. Às 16:35, veio ao mundo Bertha Blythe, pesando 2,950kg. Ben nasceu sorrindo e Winifred precisou induzir seu choro para que ele pudesse limpar seus pulmões. Isso não foi necessário com Bertha, que abriu o berreiro assim que se deu conta que havia nascido.
Ambos haviam nascido ruivos, e mais tarde seria revelado que a cor de seus olhos também pertenciam a sua mãe.Anne segurava os pequenos de cabelos vermelhos em seus braços, ela parecia radiantemente feliz. Ainda assim, parecia pálida e fraca. Gilbert achou que era normal, mas aquilo preocupou Winifred.
— Ela tem os seus olhos — Gilbert disse, passando o dedo suavemente na testa da filha.
— E ele tem a boca igual a sua.
Gilbert beijou a esposa, segurando seu rosto com as mãos.— Eu te amo.
Foi a última coisa que Anne disse antes de fechar os olhos lentamente e perder a capacidade de segurar os bebês. Gilbert, em meio ao desespero, tomou os gêmeos nos braços desajeitadamente. Ele jamais imaginaria que a primeira vez que seguraria seus filhos nos braços seria com os olhos marejados por não saber o que estava acontecendo com a mulher que ele amava.
— Gilbert, conversa com a Anne e não deixa ela dormir de jeito nenhum, precisamos levar ela para o hospital urgentemente — Winifred controlava o seu pânico com maestria. Já havia visto aquilo acontecer com pacientes, mas jamais com uma amiga.
— Eu dirijo — Nathalie se ofereceu.No caminho até o hospital, Gilbert segurava Anne nos braços assim como Winifred segurava os gêmeos. Tentando fazer com que ela não dormisse, ele conversava com ela. Anne parecia estar apenas sonolenta, como se a conversa de Blythe a entediásse a ponto de a fazer dormir.
— Seu nariz é igual ao dele.
Foi o que Anne disse, antes de fechar os olhos.
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aposta infantil.
FanfictionAnne e Gilbert sempre foram amigos desde crianças, e um dia fizeram a seguinte aposta: "Se não estivermos com ninguém daqui 20 anos, vamos nos casar com o outro". Eles só não sabiam que o tempo iria passar tão rápido. "- Você sabe que não quebro pro...