Quando Anne saiu da minha casa, eu estava bravo demais para derramar uma lágrima sequer por aquela situação, mas triste demais para fingir que não estava sentindo nada.
Se eu precisasse me definir naquele momento, eu me definiria como um furacão de emoções.
Eu me enterrei na cama e tentei me distrair conversando com meus pais. Minha mãe foi a única que percebeu que eu não estava normal e tentou me animar.— Oh, meu filho. Não sei o que aconteceu, e você não precisa me contar se não quiser. Mas saiba que próximo ano vai ser melhor que esse, eu tenho certeza! Não deixe um momento ruim definir parte da sua vida, momentos são só momentos e a vida é muito além disso.
— Quando você ficou tão poética, mãe?
— Viajar renova a alma, quando você estiver velho e cansado, vai ver a importância disso.Conversar com ela não ajudou muito, só me lembrou que eu realmente já vivi boa parte da minha vida e não sei como cheguei aqui, nem como vou sair. Mas era bom ver que meus pais estavam bem.
Quando minha mente pareceu clarear, decidi que era melhor dormir o mais cedo possível. As ideias fluem melhor pela manhã.
E é claro que não consegui. Fiquei rolando na cama de um lado para o outro, ligando e desligando o celular, ouvi a queima de fogos e quando ela acabou, meu corpo pesou sobre ele mesmo e meus olhos fecharam, e então eu estava quase dormindo...Até meu celular tocar.
— Mas que merda!
Tateei a cama até achar o celular no escuro, senti meus olhos arderem ao serem iluminados pela tela que mostrava que Anne estava me ligando, atendi quase que em reflexo.
— Anne?!
— Não exatamente, é a Tillie!
— O que?!
— Primeiramente, feliz ano novo...
— Feliz ano novo também, Tillis. Mas precisava me ligar do celular da Anne só pra falar isso?
— Acha que te liguei só pra te dar feliz ano novo? Claro que não.
— Isso magoou. Então, por que você tá me ligando?
— Queria saber se você pode vir buscar a Anne...
— Buscar a Anne aonde? O que aconteceu?
— Digamos que ela saiu da casinha, deu PT, capotou o Corsa, passou dos limites, afogou as mágoas, extravasou...
— Acho que já foram exemplos suficientes.
— Então, você vem?
— Me manda a localização por mensagem.Quando cheguei no lugar, vi Anne e Tillie vindo em direção ao carro. Ela realmente parecia ter saído de uma farra, mas não de uma noite, de uma semana. Vinha praticamente carregada.
— Eu não quero entrar no carro — Anne falou, de braços cruzados.
—Você tem que entrar, Anne.
Eu quis rir, ela parecia uma criança emburrada.
— Vem, Anne. — abri a porta para que ela entrasse — Eu ainda não mordo.
Ela bufou e entrou no carro, fechando a porta com força. Tillie deu a volta, me entregou o celular da Anne e me agradeceu, atravessando a rua, então voltei minha atenção para ela que estava com os braços cruzados e olhando para a janela.
— Então, mocinha...
— Não quero conversar — ela falou seca, e ainda sem olhar pra mim.
— Ok, então eu vou te levar pra casa em silêncio, e depois e a gente conversa?
— Não.
— Não o que?
— Não posso ir pra casa, não quero acordar meu pai.
— Quer ir pra minha casa?
— Claro! — ela se virou para mim, ainda de braços cruzados — Não aguento olhar pra sua cara, mas é claro, Gilbert! Vamos pra sua casa!
— Para de ser infantil, Anne. Só quero te ajudar.
— Não preciso da sua ajuda, e não sou infantil.
— Que engraçado, você tá igualzinha uma criança fazendo birra, tá até com beicinho — eu tentei aliviar o clima, mas não estava dando certo, ela não me respondeu.
— Vou ligar pra Diana e perguntar se você pode passar a noite lá, de manhã eu posso te buscar e te deixar em casa.
— Vai incomodar a Diana sabendo que ela deve estar dormindo, que é ano novo e que ela está grávida?
— Você teve várias opções, mas tenho certeza que ela não vai ligar.
— Gilbert, não faz isso!
— Alô, Diana? Gilbert aqui. Primeiramente, feliz ano novo pra você porque aqui tá tudo uma bagunça. Segundamente, posso levar a Anne aí? É uma longa história... — Anne encostou a cabeça na janela, ela parecia estar mais calma, mas ainda estava com raiva.
VOCÊ ESTÁ LENDO
aposta infantil.
FanfictionAnne e Gilbert sempre foram amigos desde crianças, e um dia fizeram a seguinte aposta: "Se não estivermos com ninguém daqui 20 anos, vamos nos casar com o outro". Eles só não sabiam que o tempo iria passar tão rápido. "- Você sabe que não quebro pro...