Me sentei no chão da sala acompanhada de um livro, mas não consegui ler pois minha mente estava ocupada passando e repassando a imagem de Gilbert conversando com a garota loira.
Apoiei minha cabeça no sofá e, inspirando fundo, tentei fazer com que o ar que saísse de mim quando eu expirasse levasse aquela imagem da minha cabeça. Senti meus olhos pesados e os fechei, vendo a imagem de Ruby se formando na minha mente aos poucos, quase que conseguindo ouvir sua voz dizendo frases soltas e desconexas.Fui tirada do meu transe quando ouvi batidas espaçadas na porta. Quando abri, dei de cara com Gilbert. Sua expressão era sombria, havia linhas bem marcadas no seu rosto e ele tinha os olhos vermelhos — provavelmente a vermelhidão foi causada pelo choro —, e apenas aquilo já me fez entender tudo.
Ele entrou sem dizer uma palavra e me puxou para os seus braços, encostando na porta que se fechou atrás dele e enfiando o rosto nos meus cabelos. Eu não sabia se ele estava tentando me consolar ou se consolar. Talvez Ruby estivesse certa; eu precisava dele tanto quanto ele precisava de mim.
A dor no meu peito estava pressionando meu coração tão forte que eu mal conseguia chorar, apenas coloquei os braços em volta de Gilbert e o apertei contra mim, sentindo nós se formando em minha garganta a medida que seu corpo tremia com os soluços que ele dava encostado em meu pescoço.Nos separei e encostei nossas testas, sentindo nossas respirações quentes se misturarem e se tornarem uma só. Ele se aproximou de mim de uma maneira que nunca nos aproximamos, fazendo nossos lábios ficarem a um nada de distância.
Por impulso, acabei movendo a minha cabeça de uma forma que nossos lábios se tocaram causando um choque que percorreu todo meu corpo me causando arrepios.
O roçar dos nossos lábios revelava o nosso desejo de avançar para um beijo, eu deslizei minhas mãos que estavam no seu pescoço pelos seus braços e segurei suas mãos, afastando nossos rostos.— Desculpa — Ele falou desviando o olhar pro chão. Soltei suas mãos e caminhei até o sofá, sentando abraçando meus joelhos.
— Como o Moody está?
— Péssimo, mas ele não está sozinho.Gilbert se encaixou ao meu lado, deitando a cabeça no meu ombro. Meus olhos ardiam muito, meu coração parecia pesar como chumbo dentro de mim, mas nenhuma lágrima saia.
Eu só conseguia fitar o vazio pensando em tudo que já passei ao lado dela, mas a ficha de que ela não estava mais ali não caia.Me segurei por dois dias, mas quando vi Moody chorando ajoelhado sobre a lápide de pedra foi como se alguém tivesse aberto a torneira dos meus olhos. Aquilo estava sendo tão difícil que eu não conseguia respirar, todos que cresceram comigo estavam ali, menos ela, e ela não estaria mais ali para que eu pudesse vê-la. Senti uma dor de cabeça muito forte e apenas lembro de tudo ter ficado preto, lembro de flashes de mim mesma sendo carregada e então, eu estava na cama de Gilbert.
— O que... O que aconteceu? — minha cabeça ainda doía.
— Você passou mal, achei melhor te trazer pra cá pra cuidar de você mas eu posso te levar pra casa agora, se quiser.
— Não precisa, Gil... E obrigada.
— Você quer conversar?
— Não precisa, eu vou ficar bem, você sabe.
— Eu sei. Só quero que saiba que eu estou aqui por você, como sempre.A sua declaração me pegou de surpresa, fazendo meu coração palpitar em um ritmo diferente do usual. Fiquei o restante da tarde com ele, apenas aproveitando sua companhia e me consolando em seu ombro, depois fui para casa sozinha. Gilbert não saiu do meu lado nenhum momento depois do dia que chegou na minha casa com os olhos vermelhos, nós estávamos fingindo que aquele toque não havia acontecido, e eu preferia daquela maneira.
Quando peguei meu celular pela primeira vez depois de três dias, haviam mensagens e ligações perdidas de Roy. Ele ficou sabendo do ocorrido e estava preocupado comigo. Pedi desculpas por preocupá-lo mesmo não tendo culpa nenhuma. Ele tentou ser legal comigo, mas eu realmente não estava precisando daquilo. Passei a semana seguinte na cama, saindo apenas para o necessário. Meu pai ficava comigo sendo o pai incrível que eu sabia que tinha, e Gilbert ia me ver algumas vezes.
Quando todos começaram a se preocupar seriamente comigo, voltei aos poucos a viver os meus dias normalmente. Mas ainda com o vazio que Ruby havia deixado em mim.Em uma sexta a noite, Roy veio para a minha casa já que eu não queria sair. Ele queria estar perto de mim de qualquer maneira e eu acabei permitindo. Nós ficamos vendo filme no meu quarto e ele fazia eu me sentir como uma adolescente com todos aqueles joguinhos de toques e olhares.
Eu gostava dele e gostava de como ele fazia eu me sentir, mas faltava alguma coisa.O filme exibiu uma cena engraçada que me fez rir de uma maneira que eu não ria há semanas, Roy se calou e me olhou com algo que eu pude jurar ser um brilho nos olhos.
Ele colocou a mão na curva do meu pescoço e me beijou de uma maneira diferente das anteriores. Aquela vez foi diferente, foi um beijo apaixonado? Nós já havíamos nós beijado antes, mas não daquele forma.— Eu amo ver você rindo. Pretendo fazer você rir muitas vezes agora que namoramos.
Engasguei com meu próprio ar, nós estávamos namorando? Como ele estava namorando comigo e nem me contou?— Namorando? — perguntei.
— É? Não estamos?
— Estamos?!
— Você tá perguntando ou afirmando?
— Eu não sei?
— Porque não paramos de fazer perguntas?
— Por que?
— Para!
— Tá bom? Não, espera. Tá bom!
— Anne, nós estamos namorando ou não? Achei que esse tipo de coisa ficava subentendida, mas você parece confusa.
— Eu não sei...
— Mas você quer namorar comigo?Fiz uma lista rápida de prós e contras na minha cabeça enquanto ele me olhava ansioso por uma resposta, demorei para encontrar um contra justo.
— Sim! — respondi, reconsiderando em seguida, quando já era tarde demais.Espera, o que?! Eu disse sim? Por que eu disse sim? Agora já foi, não posso voltar atrás.
Estou namorando com Roy Gardner.
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aposta infantil.
FanfictionAnne e Gilbert sempre foram amigos desde crianças, e um dia fizeram a seguinte aposta: "Se não estivermos com ninguém daqui 20 anos, vamos nos casar com o outro". Eles só não sabiam que o tempo iria passar tão rápido. "- Você sabe que não quebro pro...