31. Anne

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A bebê branquinha de cabelos pretos estava em meus braços, Diana voltou à sala de sua casa com os cabelos molhados e sentou ao meu lado.
- Fazia uma semana que eu não lavava o cabelo.
- Percebi quando passei pela porta - nós rimos.
- Animada pra casar? - ela perguntou.
- Sim. E você vai ser minha madrinha. Não sei ainda quem Gilbert escolheu, mas você e Jerry vão estar ao meu lado. Gosto de avisar... Diferente de você.
- Pode ter certeza que eu peguei a indireta.
- Ela não é um anjinho? - falei, após Labelle respirar fundo, fazendo um barulhinho fofo.
- Ela é. Agora me diz, e você?
- Eu?
- É! Esses dias eu sonhei que você estava grávida, e antes de eu ir pro banho você estava me falando sobre comer arroz com doce de leite ou sei lá quantas mais combinações estranhas você sugeriu.
- Não te parece uma boa combinação?
- Pareceria, se eu ainda estivesse grávida de 2 meses. Se te parece bom..
- Eu não estou... Eu acho.
- Tem a possibilidade?
- Você tá colocando pulgas atrás da minha orelha.
- Sua menstruação está..? - Diana falou, com um ar sugestivo, levantando o queixo para expressar sua dúvida.
- Não sei...? - comecei a me preocupar, talvez o sonho dela não estivesse errado.
- Eu tenho um teste guardado de quando Labelle era só uma suposição, e você vai fazer agora!

Eu esperava duas linhas definirem o que iria acontecer na minha vida dali em diante. Diana andava de um lado para outro com a bebê adormecida nos braços, tão ansiosa quanto eu.
- Quantos minutos ainda faltam? - ela falou, encostando na porta do banheiro, que estava aberta.
- Um - respondi.
- E se der positivo? Acho que tem muita probabilidade.
- É claro que é uma coisa que nós dois queríamos, mas não agora. Talvez agora, eu não sei. Talvez eu queira agora mas não sei o que ele quer, ou quando. O que dois tracinhos significam?
- Positivo!

Fiquei em silêncio, Diana não conseguia esconder o sorriso.
Positivo.
Era real, eu iria ter um filho, ou filha. Eu não sabia o que pensar, ou sentir. Eu estava feliz, claro. Mas nunca te ensinam a reagir diante de uma notícia assim.
Comecei a chorar sem saber dizer exatamente o porquê. Talvez porque eu estava pensando na minha mãe, e o quanto eu gostaria de receber um conselho dela naquele momento, ou talvez só um colo para chorar. Ela não estava lá, mas Diana estava.
Ela me abraçou com um braço, me deixando soluçar em seu ombro.
- Você vai se dar bem. Se eu estou conseguindo, você consegue!

Ao chegar em casa, ainda nem tinha pensado em como contar à Gilbert que estávamos esperando um filho. Pensei em todas as piadas que ele poderia fazer.

"Quem procura acha."
"É meu?"
"Grávida de mim? Mas eu já nasci."
Comprei mais uns 5 testes para ter certeza, e todos só confirmaram o inegável.
Positivo.
Coloquei todos em uma caixinha e deixei sobre o balcão da cozinha, tentando pensar na forma ideal de revelar a novidade para ele. Gilbert chegou e jogou uma caixa de pizza na mesinha da sala, se jogando ao meu lado no sofá e jogando os braços ao meu redor, beijando meu rosto.
- Cheguei!
- Ainda bem que avisou, quase não notei.
- Doce como sempre hein, minha vida. - ele me beijou novamente - Isso deve ser fome.
- Você me conhece tão bem! - deslizei os dedos pela sua bochecha, sentindo a barba por fazer roçar na minha pele.
- Vou pegar uns pratos e alguma coisa pra gente beber - ele levantou, indo em direção a cozinha. Eu já havia esquecido dos testes em cima do balcão, mas logo lembrei. Ele pegou a caixa com uma expressão intrigada e a analisou, sem entender.
- O que é isso, amor!
- Gilbert!
- Anne?
Ele voltou ao meu lado, ainda com os testes nas mãos.
- Eu queria contar de um jeito melhor!
- Você está grávida?
- Sim!
Ele paralisou. Seu queixo foi caindo lentamente e aos poucos ele afundou a cabeça nas mãos, tornando impossível que eu decifrasse sua reação.
- Amor?! - o chamei - Gilbert!
Seus ombros tremiam, e pude ouvir seus soluços sendo abafados com as palmas das mãos.
- Você está chorando?! Fala alguma coisa!
Ele me olhou com os olhos molhados e vermelhos, havia uma euforia em sua reação que interpretei como felicidade.
- Você está falando sério? A gente vai, tipo, ter um filho?
- Sim!

Ele avançou para cima de mim com um abraço cuidadoso, beijando todo meu rosto. Ele sorriu enquanto segurava meu rosto e olhava no fundo dos meus olhos.
- A gente quer isso, não quer? - ele perguntou, ainda com os olhos marejados.
- É claro que a gente quer.
- Eu preciso contar pra todo mundo, minha mãe vai ficar tão feliz! Alguém mais já sabe?
- Calma! - tentei o acalmar, pois ele aparentava ser capaz de explodir de felicidade a qualquer segundo - A gente vai contar, mas não assim. Daqui uns dias a gente vai ter um churrasco com todo mundo pra comemorar nosso noivado, tem um jantar com a minha família daqui umas semanas... São várias oportunidades. Agora respira, processa a informação!
- A gente vai precisar se mudar, essa casa não vai ser grande o bastante para três. Imagina quando essa criança começar a correr!
Eu só conseguia rir da sua reação. Ele se abaixou na altura da minha barriga e levantou minha blusa. Não sei o que ele esperava ver ali, pois ela ainda estava do mesmo jeito.
Colando a testa na minha pele, ele fechou os olhos e beijou minha barriga, fazendo declarações de amor que não faziam o menor sentido, mas respeitei o momento dele - até onde pude.
- Você sabe que ele não pode te ouvir ainda, não é?
- Você me jogou um balde de água fria. Só quero ter uma conversa com minha filha!
- Está assumindo que é uma menina?
- Eu tenho certeza.
- Eu acho que é um menino.
- Quer fazer uma aposta em nome dos velhos tempos?
- Se for um menino, você vai trocar fraldas por um mês inteiro - o desafiei, e ele não pareceu abalado.
- Fechado! - ele falou, deitando a cabeça em minhas pernas de uma forma que desse para encarar minha barriga.

Eu amava como cada dia com ele pareciam meses, e meses pareciam anos. Ele tornava cada momento leve, e tirava de mim pesos que eu nem sabia que carregava. Por mais que eu tentasse imaginar onde eu estaria se não tivesse enfrentado o medo do desconhecido por ele, nunca conseguiria idealizar uma imagem onde eu estivesse tão feliz quanto naquele momento.

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