Outubro, 2020.
Anne e Gilbert se encaravam durante do espelho paralelamente, mas em quartos separados. Algumas semanas antes, o casal havia se mudado para a sua casa nova, e resolveram a inaugurar com o seu próprio casamento. O vestido branco de Anne marcava a curva de sua barriga de uma forma que a fazia se estranhar diante do seu reflexo, mas ela gostava da sensação. Cole, Davy e Jerry chegaram simultaneamente no quarto onde Gilbert se encontrava, interrompendo a reflexão que ele fazia na frente do espelho.
— Perdemos mais um soldado — Jerry falou, dando um tapinha nas costas de Gilbert.
— Você sabe que se a Diana te ouvir falando isso, você perde todos os seus membros inferiores, certo? — Cole falou, apoiando o braço no ombro de Davy — Tipo, tooodos mesmo.
— Não tá mais aqui quem falou — Jerry respondeu, rindo.
— Você vai casar com a minha prima, ainda não acredito.
— Nem eu estou acreditando — Gilbert respondeu.
— Escreveu seus votos?
— Claro que ele escreveu, Cole. — Davy disse, cruzando os braços — Certeza que ele escreveu esses votos com giz de cera uns vinte anos atrás.
— Ele não está errado — Gilbert, falou, rindo.O quintal da casa que exibia uma placa escrito "Shirley&Blythe" na entrada era grande e bem florido. Cadeiras brancas e um altar foram adicionados ao cenário para a ocasião, tornando o local apropriado para o que estava prestes a acontecer.
A noiva relia os seus votos para si mesma quando suas madrinhas entraram no seu quarto, uma delas segurando um bebê.
— Belle poderia ser o meu buquê — Anne falou, estendendo os braços para pegar a bebê dos braços de Diana.
— Você não vai jogar a minha filha pras solteironas depois da cerimônia, tá louca?
Nathalie e Winifred riram, se aproximando de Anne.
— Você tá linda, senhora sargento — Nathalie comentou, usando o apelido como forma de brincadeira.
— Vocês também estão... maravilhosas. Não acredito que isso está acontecendo.
— Eu que não acredito que estou sendo sua madrinha, Anne. — Winifred disse — Há alguns meses você jurava que eu e Gilbert estávamos juntos e hoje eu e minha namorada somos madrinhas do seu casamento, a vida não é uma loucura?
— Espera, então vocês estão juntas, tipo, de verdade? — Anne perguntou, surpresa.
— Sim! — Nathalie respondeu — Quando soubemos que Gilbert tinha escolhido nós duas pra sermos madrinhas, começamos a nos conhecer melhor e... aqui estamos hoje — ela deu um sorriso, olhando para a loira.
— Parem de falar dessas coisas fofas, Anne está sensível e chorona e vai acabar borrando a maquiagem! — Nancy entrou, trazendo um lencinho para limpar os rastros das lágrimas que Anne estava derramando.
Anne e Nancy haviam se aproximado e se tornado bem amigas, construindo uma boa relação de madrasta e enteada.
— Eu é que devia estar chorando aqui. — Diana falou — Fiquei na espectativa de ver esse casamento acontecer por uns bons e longos anos, e agora falta tão pouco!
— Não falta quase nada, pra falar a verdade — Nancy comentou.
— Gilbert já está te esperando, querida. Seu pai está do outro lado da porta pronto pra te levar pro altar, e vocês, meninas, estão atrasadas! Corram!
As madrinhas correram, com exceção de Diana que carregava Labelle.
— Pronta, joaninha? — Nancy perguntou.
Ela passara a chamar Anne assim depois que observou que o pai dela a chamava assim. Meio receosa, perguntou se Anne se sentia bem em ser chamada assim por ela, e sua resposta foi positiva. Por mais que fosse um apelido dado por sua mãe, Anne não via maldade em ser chamada assim, de forma carinhosa, por sua madrasta.
— Pronta.Walter conduziu a filha pelo braço lentamente.
— Como se sente?
— Não sinto nada, pai... Estou feliz, claro. Mas é como se eu estivesse vendo tudo pela perspectiva de outra pessoa, entende?
— Você está nervosa, joaninha. Também me senti assim no dia que fui ao altar com a sua mãe.
— Tem algum conselho?
— Apenas relaxe, e aproveite. Você sabe que essa é a decisão certa, não sabe?
— Claro que sei!
— Existe algum lugar que você gostaria de estar mais do que aqui nesse momento?
— Acredito que não.
— Então você está no lugar certo.
— Estou certa quando digo que não poderia ter tomado decisão melhor, pai.
— Você está sempre certa, minha filha, é de família. — ele sorriu — Não consigo aceitar que estou ficando velho. Esses dias eu corria atrás de você, tentando te controlar porque você sempre foi uma pimentinha... E daqui uns dias, você vai estar correndo atrás dos seus gêmeos, tentando controlar eles pois certamente também vão ser duas pimentinhas.
— Pai...
— Você cresceu, minha filha.
— Eu sei, eu não gosto tanto dessa idéia.
— Por que? Ora, crescer é bom, faz parte da vida. Você está amando, evoluindo dia após dia, enchendo o coração octogenario do seu pai de orgulho. Tudo tem um propósito, todas as suas perdas e conquistas contribuíram para quem você é hoje, e você deve se orgulhar de quem você é, assim como eu me orgulho e sua mãe certamente também.
— Pai, não posso chorar! — Anne disse, passando os dedos em baixo dos olhos.
— Vamos seguir com isso então!Todos os olhos se voltaram para Anne a medida que ela caminhou até o altar, mas ela não viu isso pois só conseguia enxergar os olhos verdes de Gilbert que a seguiam, brilhantes, por conta das lágrimas. Walter beijou a testa da filha e sussurrou: "Eu te amo".
Anne e Gilbert conectaram seus olhares, e a pupila de cada um deles exibia um filme de tudo que eles já haviam passado juntos. O sorriso deles era capaz de iluminar todo aquele lugar, se não fosse pela luz do sol que ainda se fazia presente.A cerimônia começou, e Anne correu o olhar pelos convidados até ele encontrar Iris. A menina estava sentada no colo do pai, e estava consideravelmente maior de quando Anne a viu pela primeira vez. O que lhe chamou atenção não foi o tamanho da garota, nem como ela sorria em direção à Anne. O que lhe chamou atenção foi a borboleta lilás que estava pousada sobre a cabeça da menina. Moody tentou pegar a borboleta no dedo, mas ela voou em direção a Anne, que aquela altura já não conseguia controlar as lágrimas.
A paz que Anne sentiu sendo rodeada por aquela borboleta foi sem igual, quase como se a própria Ruby Gillis estivesse ao seu lado dizendo que estava muito feliz.As mãos de Gilbert acariciaram as de Anne quando ele pigarreou, se preparando para declarar seus votos. Nathalie deitou sua cabeça no ombro de Winifred, Cole e Davy entrelaçaram suas mãos, Diana e Jerry trocaram olhares e sorrisos apaixonados.
— Paciência é uma virtude, você me ensinou isso de uma maneira difícil, mas eficaz. Acho que tudo que vivemos ao lado um do outro construiu um alicerce forte para que o que temos hoje seja indestrutível. Um ano atrás, você dizia que eu era apenas o melhor amigo do mundo, ainda me parece irreal a ideia de que estou sendo promovido à melhor marido do mundo, não parece? — ele riu — Não tão irreal, sabe por quê? Todos os dias eu acordo e vejo você do meu lado, do jeito que eu sempre quis. Então eu percebo que é tudo real, e que eu posso afirmar com convicção que sou a pessoa mais sortuda do mundo. A gente ganhou muita coisa e perdeu muita coisa durante a vida, mas você esteve ao meu lado em todos momentos... Obrigada, Anne. Obrigada por existir, obrigada por ser você e obrigada por me amar, porque eu não sei se mereço.Moody apertou a filha, lembrando da mulher que ele amava. Ele já teve muita esperança de toda aquela dor ser um pesadelo, do qual ele iria acordar e então seria capaz de viver tudo aquilo que ele estava assistindo com Ruby. Mas logo ele voltava a realidade, pois era necessário.
— Você tá chorando, papai? — Iris perguntou — Tá triste?
Moody sorriu. Por mais que Ruby não estivesse mais em terra firme, havia um pedaço dela que estaria com Moody pelo resto de seus dias, e um mar de lembranças.
— Não, filha. Estou feliz porque você está aqui comigo.Anne respirou fundo, se preparando para se declarar.
— Encontrar alguém que esteja disposto a te esperar por uma vida inteira pode ser uma missão impossível. Não pra mim, pois você sempre esteve aqui. Por muito tempo eu fui cegada pelo meu medo que não me permitia enxergar o quanto eu precisava derrubar as barreiras que me impediam de te amar por completo, e agora que essas barreiras não estão mais aqui, sei que ter escolhido você é a melhor decisão que eu poderia ter tomado. Eu amo como você sempre sabe o que dizer, e como cuida de mim. Amo cada detalhe, até os pequenos como quando você admite que estou certa só pra me deixar feliz. São essas coisas que me fazem ser mais sua do que de mim mesma. Chegarmos aqui não foi uma coisa fácil, quase nos perdemos um do outro de várias maneiras. Por isso eu também quero te agradecer, por cuidar de mim, por ser você, e por não ter desistido de mim ou de nós, nem quando tudo parecia cair sobre nossas cabeças. Vivemos muita coisa um do lado do outro, e agora vamos viver tantas coisas mais em uma vida á dois, ou quatro. — Anne sorriu juntamente de Gilbert, que desviou o olhar para a barriga onde seus filhos estavam — Bertha e Ben vão ter o melhor pai do mundo, porque eu consigo ver você se tornando isso a cada dia.
Ambos disseram "aceito" sem exitar, nenhuma das pessoas que assistiam a cerimônia pôde evitar suspirar quando o casal se beijou.Mais tarde, Iris e Moody vieram até Anne para se despedir.
— Parabéns, recém casados! — Moody disse, os abraçando.
— Parabéns, recém casados! — Iris o imitou, causando risadas.
Anne se abaixou para abraça-la, envolvendo a menina em seus braços. Anne sentiu um arrepio percorrer suas costas quando a menina segurou seu rosto e disse, a olhando nos olhos:
— Estou muito feliz por vocês, Anne. Eu te amo.
Anne, apenas Anne. Não foi "tia" Anne. A menina não trocou nenhuma letra ou gaguejou como costumava a fazer. Anne ficou sem reação, então apenas assentiu com a cabeça antes de Moody pegar a mão da menina e a levar embora.Gilbert passou uma mão pela cintura de Anne e a trouxe para perto, pousando sua outra mão em seu rosto.
— Agora é para sempre — ele disse.
— Tipo felizes para sempre?
— Para sempre, sempre.
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aposta infantil.
FanfictionAnne e Gilbert sempre foram amigos desde crianças, e um dia fizeram a seguinte aposta: "Se não estivermos com ninguém daqui 20 anos, vamos nos casar com o outro". Eles só não sabiam que o tempo iria passar tão rápido. "- Você sabe que não quebro pro...