11. Gilbert

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Enquanto esperava chamarem meu nome para receber meu café, troquei olhares com a médica que atendeu Ruby quando ela chegou. Se eu estivesse certo, ela se chamava Winifred Rose.
Quando eu estava prestes á deixar a cafeteria, ela se aproximou de mim.

— Oi, eu sou a Winifred. — ela estendeu a mão para um cumprimento e eu correspondi — Como Ruby está?
— Ela me parece bem, mas não sou muito experiente nessa área —sorri de canto — E eu me chamo Gilbert.
— Entendo... É um prazer, Gilbert.
— Você não deveria saber mais do que eu?
— Deveria... Mas não meus superiores não me permitem de cuidar dela. Não mais.
— Por que?
— Médicos não devem ter envolvimento emocional com pacientes. — ela falou desviando o olhar para o chão — E a Ruby deixou de ser só uma paciente pra mim. Ela é tão doce, inocente e cativante, sabe? Me contava várias histórias sobre a vida dela, acabei criando um laço com ela. E então, me proibiram de atendê-la.
— Isso é... cruel, no mínimo.
— Põe cruel nisso.

Acabamos estendendo o assunto, conversamos por minutos que eu não me preocupei em contar. Até olhar de relance para o relógio da cafeteria e ver que o horário de visitas estava perto de acabar.

— Poxa, preciso ir me despedir dos meus amigos. Hora de voltar pro trabalho.
— Ah, eu te acompanho. Aproveito para dar uma conversada com Ruby, aproveitando que não podem me proibir disso... Aliás, com o que você trabalha?

Nós saímos conversando pelo corredor, quando nos aproximamos do quarto, percebemos de cara que havia alguma coisa errada.
Moody estava encolhido no chão, de frente para o quarto de Ruby e encostado na parede com a cabeça entre os joelhos. Havia um movimento de enfermeiras que entravam e saiam, mas não pareciam agitadas. Eu e Winifred aceleramos os passos em uma pequena corrida, quando me aproximei do vidro da porta do quarto, eu consegui ouvir;

— Hora do óbito, 13:54.

Levei as mãos á cabeça. Não pude acreditar.
— Ela estava bem! Eu saí do quarto e ela estava rindo!
— Se acalma, Gilbert! Olha pra mim! — Winifred me puxou pelos ombros e falou olhando calmamente nos meus olhos — Eu sei que é difícil e eu sinto muito, mas respira. Moody está precisando de você, e de qualquer conforto que possa ser oferecido. Você quer que eu chame alguém?

Pensei em chamar Anne, mas preferi dar a notícia pessoalmente indo na casa dela mais tarde. Sentei ao lado de Moody no chão e o envolvi com um braço, ele ainda estava com a cabeça abaixada. Temendo que estivesse desmaiado ou passando mal, o cutuquei até que virasse o rosto para mim. Ele tinha os olhos e o nariz vermelhos, e lágrimas grossas correndo pelo rosto.

— Ela disse que me amava, e que nunca tinha sentido paz igual essa. Ela fechou os olhos e os monitores começaram a apitar — ele disse, entre soluços.
— Moody, eu sinto muito...
— Você sente muito, Gilbert? Eu não sinto nada! Eu acabei de perder a pessoa que eu mais amei na minha vida e eu não estou sentindo literalmente nada! — ele se levantou e começou a andar de um lado para o outro — Eu não sei se estou sentindo nada ou sentindo tudo ao mesmo tempo, raiva por não ter salvado ela, tristeza por ter perdido ela... — ele entrou no quarto e empurrou os dois médicos que terminavam de desconectar todas as máquinas que estavam ligadas a Ruby, e eu fui atrás dele.
Ela parecia estar em um sono profundo, seu rosto ainda tinha cor e era quase como se eu conseguisse ver o seu peito subindo e descendo com a respiração, mas ele não estava.

Os médicos saíram, dizendo que queriam deixar ele se despedir e que levariam ela em meia hora. Eu fiquei no canto do quarto observando eles.
O que ele iria dizer em meia hora para a mulher que ele amava? Meia hora era tempo suficiente para ele dizer para ela uma última vez tudo que ela havia significado pra ele?

Imaginei que ele falaria por essa meia hora sem parar, mas ele só a observou, beijou seu rosto e acariciou seus cabelos sem dizer uma palavra.
Quando os médicos voltaram, eu e Moody ficamos em uma sala vazia que aos poucos foi se preenchendo por amigos e familiares de Ruby que souberam da notícia. Lembrei que eu devia contar para a Anne, e quão doloroso seria aquilo, mas eu não deveria procastinar aquilo.
— Você pode ir. Obrigado, Gilbert.
— Você vai ficar bem?
— Sem ela? Eu nunca mais vou ficar bem, mas eu acho que sobrevivo.

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