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Continuação...

                         Ana Luz
                                      Quarta-feira, 21:20

Me levantei da mesa e fui em direção a porta ouvindo o som da campainha pela segunda vez, já sabia que era Marisa, ela havia se atrasado mas me mandou mensagem há uns minutos atrás.

— Oi, boa noite— ela disse assim que eu abri a porta.

— Boa noite, entra.— dei passagem e ela entrou, as crianças por incrível que pareça já estavam dormindo. Fechei a porta e a guiei em direção a mesa de jantar, eu tinha feito uma lasanha a pedido das crianças, lembro que na segunda-feira eu me senti muito realizada, pois fiz uma super compra no super mercado, tudo que estava faltando. Nós sentamos a mesa e eu já fui nos servindo.

— Como está a sua tia?— suspirei, eu me sentia azarada mas evitava falar coisas assim porque sempre acreditei que palavras tem poder.

— Hoje já está bem melhor, vou pra lá amanhã de manhã bem cedo, o médico disse que talvez ela saia amanhã mesmo, no final de tarde.

Enquanto na segunda estava tudo se encaminhando por causa do dinheiro, fui ao banco e depois ao super mercado, na terça-feira logo pela manhã a minha tia passou mal e até desmaiou e resolvemos ir ao hospital, apareceram algumas alterações nos exames e o médico pediu que ela ficasse internada, pra tomar uns soros e fazer algumas medicações, já estava me preparando pra algumas coisas, o médico foi bem claro, eu teria mais gastos com a saúde dela pois algumas coisas precisariam ser feitas para a sua melhora.

— Que bom, eu quero muito conhece-lá— dei um sorriso— eu tô muito triste de ter que vir aqui te trazer más noticias, logo agora com esses novos problemas com a sua tia.

— Tá tudo bem, vai ficar tudo bem, você pode falar! O que Houve? é algum problema a respeito do dinheiro— dei algumas colheradas na minha lasanha, a vendo comer também.

— Infelizmente sim— eu estou receosa desde quando recebi sua mensagem pedindo pra que a gente conversasse, espero que tudo dê certo— Os donos do dinheiro, irão voltar pra pegar antes do previsto. Acho que não vai ter jeito, entende?

— Sim.— meu tom era triste, eu realmente não queria fazer programa mas já tinha decidido que se as coisas não dessem certo, iria fazer sem sofrimento e reclamações.— Você só precisa me explicar como vai funcionar e quando.

— Eu sinto muito mesmo, queria muito ter o dinheiro pra devolver pra eles e depois você me passava no seu tempo, mas eu não tenho.

— Tá tudo bem, eu sei que você só quer me ajudar. E pra ser bem sincera, desde ontem eu já sabia que estava sem saída, eu preciso de dinheiro pra comprar muitas medicações pra minha tia e o médico falou até em uma possível cirurgia, minha família é tudo pra mim, faço qualquer coisa por eles.

— Você é uma menina muito nova pra estar passando por tudo isso— seu olhar era de preocupação, lhe lancei um meio sorriso confortando-a.

— Alguém me quis naquele dia? ou vou ter que ir pra lá mais vezes? não quero te causar problemas com os donos do dinheiro.— isso era tudo o que eu não queria, ela me mostrou ser uma pessoa boa me ajudando e tem a Gabi também que trabalha pra ela, eu não quero prejudicar ninguém, até porque quem está com problemas sou eu, não elas.

— Não vou ter problemas— disse firme— e você não tem noção do quando é bonita né? Todos naquele dia se interessaram, e já tenho o cara certo, e eu tenho certeza que você vai gostar.

— Não me importo quem seja, mas eu preciso te pagar e conseguir uma boa quantia de dinheiro, não sei ainda como funciona essas coisas mas eu realmente vou fazer o que você achar melhor, vai ser só uma vez mesmo? porque mesmo se não for,eu vou fazer o possível pra ter que fazer o mínimo de vezes possível— torcia muito pra ela conseguir alguém que pagasse um bom valor, pra que eu só precisasse fazer isso uma vez e só— eu sei que esse é um mundo complicado, você entra e é difícil de sair, porque a "Luxúria" e a vontade de ganhar mais dinheiro sobe a cabeça e essa não é a minha intensão, eu vejo a prostituição com muita naturalidade mas não é o que eu quero pra minha vida.

— Eu te entendo, e eu vejo isso tudo de perto, não desejo essa vida pra ninguém, pra algumas pessoas pode ser dinheiro "fácil" mas essa vida não é fácil, a maioria passa por inúmeras situações horríveis, é estupro, é homem doido, violento, caloteiro e sem contar naquelas que sentem nojo do próprio corpo por isso, mas eu vou fazer de tudo pra você não passar por nada disso— ela pegou na minha mão por cima da mesa e acariciou como uma forma de me passar conforto— A pessoa que se interessou por você me ofereceu mais de 50 mil, que é o que você precisa pra hipoteca, tudo isso por apenas algumas noites com você, ninguém nunca reclamou dele sabe, ele frequenta muito lá, eu o conheço bem, é bem rico, novinho e sem contar que é lindo.— Isso era muito dinheiro, nunca pensei que essas coisas valiam tanto, ela me mandou um sorriso mais malicioso, mas eu nem me importava com isso, não quero pensar muito nisso, tenho que ser profissional, tenho que ir lá, fazer o me for mandado e só.

— Nossa, é tanto dinheiro assim?— ela assentiu— e quando vai ser?

— Acho que no final de semana. Você vai ter que ir arrumada, então se cuida, dependendo do acordo que eu fizer com o cara, vamos ter que ir no ginecologista amanhã mesmo, se ele quiser que a gente prove a virgindade entende?— assenti— eu sei que é muito constrangedor mas se ele quiser eu realmente não posso fazer nada sabe.

— Ok.— eu estava sem ter muito o que falar, me sentia envergonhada pela minha própria situação.

— Amanhã eu vou te mandar mensagem confirmando tudo e acertando os detalhes.

(...)

                                      Quinta-feira, 15:17

Caminhei até a saída do hospital guardando alguns documentos na pasta outra vez. Eu tinha vindo para acertar a internação da tia Elena, o médico recomendou 5 dias, para ver de perto como ela reage ao tratamento, caso não dê certo, vamos ter que tentar fazer uma cirurgia, eu vim ficar com ela pela manhã e ela está aparentemente bem, não teve mais episódios de desmaios e também disse que não tem ficado tonta.

Peguei meu celular para mandar uma mensagem para dona Carmem, nossa vizinha, uma boa pessoa e já ficou com os meninos algumas vezes, assim como eu também já fiquei com seus filhos, Caio e Vinicius, inclusive gosto deles demais e o Caio de 5 anos demonstra gostar muito de mim. Mesmo com tudo acontecendo muito rápido, eu me sentia muito sortuda com tudo, pois ainda tinha pessoas pra me ajudar, tudo seria muito mais difícil sem a minha tia ao meu lado, sem Gabi, sem dona Carmem agora, dentre outras pessoas que já me ajudaram de alguma forma.

Após escrever a mensagem, fui dar uma olhada no Whatsapp, estava em uma parada de ônibus que fica bem em frente ao hospital, antes dei uma olhada, ainda estava me sentindo segura havia uma viatura de polícia próxima, vi que a Marisa tinha me mandado uma mensagem, amanhã cedo eu iria no ginecologista mas ela não me disse se ele exigiu isso, apenas disse que esse seria o melhor pra mim, dizendo que a virgindade é algo muito relativo, alguns homem não sabem nem diferenciar, apenas concordei, era estranho ficar pensando nisso porque quanto mais eu pensava mais parecia errado, então eu simplesmente evitava.

Guardei o celular na bolsa quando vi meu ônibus, hoje meu dia seria mais leve, tive boas noticias a respeito da tia Elena, Carmen disse que está tudo bem,  Marisa disse que a quantia que irei receber por passar algumas noites com um homem seria enorme e eu poderia ajeitar a minha vida, talvez tudo fosse começar a dar certo pra mim.

Aqueles olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora