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Continuação...

                         Ana Luz

— Eu preciso ir embora!— disse apenas, tentando não pensar tanto no que ele disse.

Mas ele tinha razão, ninguém iria acreditar em uma pobretona como eu, se um milionário disser o contrário. O mundo é dos ricos, já perdi as contas de quantos casos de mulheres que denunciaram assédios, estupros ou  agressões contra homens poderosos e a justiça não fez nada, só reconhecem o erro quando essas mesmas mulheres aparecem mortas e olhe lá.

— Daqui tu não sai até eu deixar!— ele falava tudo muito calmo, diferente de ontem.

— Preciso ir pra casa, meus irmãos precisam de mim e minha tia vai ter alta logo logo, tenho que cuidar dela— ele terminou sua bebida começou e se aproximar de mim.

— Eu não quero saber, eu já disse que tu vai ficar, tá surda porra?— eu tentei me afastar a medida que ele se aproximava, me aproximando cada vez mais do seu amigo.

— Por que você tá tão obcecado comigo? Eu juro que não consigo entender, não fiz nada demais.— tentei dar mais um passo para trás, mas já tinha encostado no garoto que só observava a discussão.

—Primeiro— me pegou fortemente pela cintura e me afastou do seu amigo me prensando com força na ilha da cozinha— te mandei ficar quietinha ontem, ou tava chapada demais pra lembrar?— olhei pela visão periférica a senhora sair da cozinha mas João permaneceu perto de nós— segundo, eu não quero saber de nada, não te perguntei nada, não preciso te explicar nada, só tô te falando que daqui tu não sai até eu deixar e só pra deixar claro, não vai ser hoje!

— Arthur...— sussurrei seu nome em suplica, coisa que eu já estava acostumada a fazer, infelizmente.

— Agora cala a boca e sobe lá pro quarto, lugar que não era nem pra tu ter saído!— seu semblante não me dava brechas pra ir contra, então com dificuldades de continuar com a cabeça erguida, lentamente me desvinculei do seu aperto e segui meu caminho pra porra daquele quarto.

Mas como se já não bastasse tudo o que eu tô passando, eu ainda tenho que ser uma idiota azarada e enquanto passava cabisbaixa pela sala senti algo perfurar a pele do meu pé e antes de começar a chorar, percebi que era um pedaço enorme de vidro.

— Caralho, porra, merda, puta que pariu— xingava em sussurros e chorava enquanto tentava chegar ao sofá mais próximo, pulando em um só pé, meu choro não era só pelo corte, embora estivesse doendo demais.

— Meu Deus— a mulher apareceu novamente no meu campo de visão, observou o sangue e se aproximou— desculpa a culpa foi minha, não limpei isso direito...

— Tá tudo bem mas eu preciso tirar o vidro— ela tocou no meu pé, dei um grito— desculpa, tá doendo— ela apenas concordou.— meu Deus eu só quero a minha casa, que droga.

Ele logo apareceu na sala junto com o amigo, provavelmente escutaram meu grito, e sua feição era diferente, parecia preocupado.

— Que merda aconteceu agora?— falou se aproximando, apenas virei a cara e acabei vendo o sangue escorrer do meu pé— olha pra mim caralho! Tu fez merda, tá pagando pelo que vez, se tivesse me obedecido nada disso estaria acontecendo.

— Eu já pedi desculpas, o que mais quer que eu faça?— acabei gritando, me irritei, pelo menos tem pessoas aqui e eu sinceramente me sinto mais protegida assim— Tá achando que é fácil pra mim? Apareceu um doido obsessivo do nada na minha vida, que me obriga a fazer e deixar de fazer um monte de coisas.

Aqueles olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora