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Continuação...

                            Ana luz

Acabei de sair do banho finalmente, quase implorei pra que ele me deixasse sair. Diferente de momentos atrás, no banheiro ele tentou me dar prazer, mas eu estava no automático, só fazia o que ele parecia querer, e meu corpo parecia estar meio desligado, não sentia tudo como normalmente, ele pareceu não gostar disso também, mas afinal, do que ele gosta? Parece nunca estar satisfeito com nada, parece que tudo que eu faço ou deixo de fazer, de certa forma o irrita, me deixando frustrada e cada vez mais medrosa.

Mesmo que eu tenha acabado de sair do banho, ainda me sentia suja, queria tomar mais banho, ficar horas sentindo a água no meu corpo, porém sem a presença dele, apenas queria ficar sozinha, pensando em tudo isso, no buraco em que eu me enfiei e na enorme impressão que tenho de que não vou conseguir sair.

Queria poder gritar com ele, dizer que eu sou a única dona de mim, que posso fazer o que quero, que ele não pode se aproximar das pessoas que eu amo, que ele não pode tocar em mim assim ou me machucar tão intimamente.

Eu me sentia exausta com tudo, por essa situação, por ser a responsável pelos meus irmãos e minha tia, por não ter escolhas, por ter a sensação que nunca vou ser verdadeiramente feliz, lamentava a morte precoce da minha mãe, sentia sua falta, queria poder abraçá-la e me sentir reconfortada.

Deixei o roupão de lado e coloquei o vestido, logo em seguida os sapatos, estava a ponto de cometer a loucura de sair, fugir disso tudo, mas pra onde eu iria? Ele sabe onde moro, sabe dos meus bebês e ainda tem a minha tia no hospital, eu tinha vontade de me bater só de pensar que vou ter que me humilhar pra ele e pedir o dinheiro que falta mas eu não tinha outras alternativas, era ficar quieta e aceitar ou ficar quieta e aceitar.

Ele saiu do banho, já de cueca, caminhou até a calça a vestindo já era mais de 4 da manhã, o banho foi longo.

— Preciso ir embora, posso?— pedir permissão pra tudo era estressante.

— Vou te levar.— disse sem nem erguer a cabeça, continuando a se vestir, que mania era essa agora? Tudo saiu tanto do controle e eu não tinha ideia de como concertar as coisas.

— Vai fazer isso sempre?— ele me olhou.

— Sim, algum problema?— ele não saiu relaxado do banho, pelo contrario, assim como eu ele estava sério, pensativo e no automático.

— Na verdade sim— engoli em seco, eu lutava internamente sempre que iria falar com ele, uma parte de mim só quer falar o que penso e expressar o que sinto, já a parte mais racional, sabe especialmente depois de hoje, que simplesmente não posso dizer nada que ele não queira ouvir— não queria você na minha vida assim, me levando em casa, tenho vizinhos fofoqueiros e minha tia não sabe o que eu faço, seu carro não é nada discreto, não queria que falassem demais de mim naquele bairro.— definitivamente não era só sobre isso e eu já queria citar o acordo que ele não segue, queria falar mais mil coisas sobre limites que ele não tem, mas me limitei a falar só sobre isso.

— Não ligo pra sua vizinhança, que se fodam.— revirei os olhos, ele era uma pessoa muito difícil— se cada um cuidasse só da sua própria vida, certeza que viveriam melhor.

— Por favor, só me entende.

— Já entendi, e já disse não, a partir de agora, vou te levar sempre, te buscar também— arregalei os olhos.

— O QUE?— me repreendi após perceber que as palavras saíram quase como um grito, ele não poderia fazer isso, não vai ter jeito, todos iriam ver o carro dele, eu teria que dar satisfações pra minha tia e até falar a verdade pra Maria.

Aqueles olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora